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EUA admitem que Israel está construindo um apartheid – semanas após envio de US$ 38 bilhões

Após servir como importante defensor do regime de apartheid na África do Sul, EUA assumem a mesma posição em Israel.

United States Secretary of State Hillary Clinton and Israeli Prime Minister Benjamin Netanyahu shake hands before a meeting at the Regency hotel, Thursday, Sept. 27, 2012 in New York. (AP Photo/John Minchillo)

O então Ministro da Defesa de Israel, Ehud Barak, alertou explicitamente em 2010 que Israel se tornaria um “apartheid” permanente, caso um acordo de paz não fosse fechado com palestinos e criasse uma nação soberana, oferecendo direitos políticos completos a eles. “Enquanto este território a leste do Rio Jordão tiver apenas uma entidade política chamada Israel, ele será não judeu e antidemocrático”, disse Barak. “Se o grupo de milhões de palestinos não puder votar, ele será um estado de apartheid.”

Observadores honestos dos dois lados do conflito reconhecem há muito tempo que as perspectivas de uma solução de dois Estados são praticamente inexistentes: uma forma diferente de dizer que o status de Israel como regime de apartheid permanente é inevitável. De fato, as agências de inteligência dos EUA há muito tempo, cerca de 45 anos atrás, alertaram explicitamente que a ocupação israelense se tornaria permanente se não fosse encerrada rapidamente.

Todas as evidências mostram que foi exatamente isso que ocorreu. Não houve progresso na solução de dois Estados por muitos anos. A composição demográfica da população judia de Israel — que se tornou muito mais beligerante e com visões de direita do que as gerações passadas — tem levado o país na direção oposta desse objetivo. Há ministros importantes no governo de Israel, incluindo o Ministro da Justiça, que é um verdadeiro extremista, que são abertamente opostos a solução de dois Estados. O próprio Primeiro Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, deixou claro inúmeras vezes que se opõe ao acordo, tanto através de palavras, quanto de ações. Em resumo, Israel pretende continuar dominando e ocupando territórios palestinos, negando aos cidadãos palestinos o direito de autogovernança, o direito ao voto e as liberdades políticas por tempo indeterminado.

Embora haja tamanha agressão e opressão, ou por conta delas, o governo Obama tem protegido Israel continuamente, com uma generosa lealdade, além de uma grande quantidade de armamentos e verbas. Tal recompensa ao comportamento de Israel culminou, três semanas atrás, com o anúncio da administração de Obama de que havia assinado o “memorando de compreensão” para aumentar significativamente a quantidade de verbas que o governo americano enviará para Israel anualmente, mesmo que Israel já seja, de longe, o maior destinatário de auxílio financeiro dos EUA. Sob esse acordo, os EUA enviarão a Israel US$ 38 bilhões nos próximos dez anos, um novo recorde de comprometimento financeiro dos EUA com outra nação, ainda que os cidadãos de Israel desfrutem de diversos benefícios que seriam, supostamente caros demais para americanos (donos das verbas sendo enviadas para Israel), incluindo o serviço de saúde universal gratuito, assim como expectativas de vida e taxas de mortalidade infantil mais positivas.


Veja em documentário censurado como Israel garante apoio financeiro incondicional dos EUA


Nessa semana, já com o comprometimento americano de enviar US$ 38 bilhões em mãos, o governo de Israel anunciou a aprovação de um novo assentamento na Cisjordânia. Um assentamento particularmente hostil à ostensiva política dos EUA, ao consenso internacional e a qualquer perspectiva de fim da ocupação. O novo assentamento, conforme noticiou o The New York Times hoje pela manhã, é apenas “um de uma sequência de complexos de moradias que ameaçam dividir a Cisjordânia e que foi desenvolvido para colonizadores de um posto ilegal na região, chamado Amona, que um tribunal de Israel determinou que fosse destruído”. Estes assentamentos estão localizados no interior na Cisjordânia, sendo mais próximos da Jordânia do que de Israel.

Ontem, em resposta a esse anúncio, o Departamento de Estado dos EUA publicou uma crítica excepcionalmente dura sobre as ações de Israel. “Condenamos veementemente a recente decisão do governo de Israel de dar continuidade a um plano que criaria mais um assentamento de tamanho considerável, no interior da Cisjordânia”, diz a nota. A declaração sugere que Netanyahu tem mentido publicamente, frisando que a “aprovação contradiz as declarações públicas do governo de Israel de que não tinha a intenção de criar novos assentamentos”. O Departamento de Estado usou o pacote de auxílio recentemente enviado pelos EUA para qualificar como sendo “profundamente perturbador, em especial, após Israel e os EUA concluírem um acordo de assistência militar sem precedentes desenvolvido para reforçar a segurança de Israel, que Israel tome uma decisão contrária à sua segurança a longo prazo no âmbito de uma resolução de paz de seu conflito com palestinos”.

Grande parte disso, apesar de ser mais claro retoricamente do que o normal, já era de se esperar: os EUA — no melhor estilo Obama — pretendem com essa declaração amena demonstrar insatisfação quanto aos assentamentos de Israel, ao mesmo tempo que toma inúmeras medidas para proteger e facilitar exatamente as mesmas políticas a que Obama finge se opor. Mas a denúncia do Departamento de Estado emitida ontem foi surpreendente devido a seu reconhecimento explícito e absoluto — e atrasado — de que Israel está empenhado de forma clara e irreversível em governar os palestinos perpetuamente, se tornando exatamente o estado de “apartheid” sobre o qual Barak alertava:

Os Israelenses devem, por fim, decidir entre a expansão dos assentamentos e a preservação da possibilidade da solução pacífica de dois Estados. Desde que o mais recente relatório do Quarteto do Oriente Médio solicitou às duas partes do conflito que tomassem medidas proativas para reverter as tendências atuais e dessem prosseguimento à solução de dois Estados de forma efetiva, infelizmente, o oposto tem sido observado. Dar continuidade a esse novo assentamento é mais um passo na direção da concretização da situação de um Estado único e ocupação perpétua, que são fundamentalmente incompatíveis com o futuro de Israel como um Estado democrático e judeu. Tais medidas atrairão apenas a desaprovação da comunidade internacional, afastarão Israel de muitos de seus aliados e levantarão dúvidas quanto ao comprometimento de Israel em alcançar resultados concretos através das negociações de paz.

Israel — de acordo com seu maior benfeitor — está caminhando de forma incontornável “na direção da concretização da situação de um Estado único” e antidemocrático, ou seja: equivalente ao apartheid. E o maior protetor e facilitador desse regime de apartheid são os EUA — assim como se deu no regime de apartheid na África do Sul, nos anos oitenta.

Além disso, a provável futura presidente dos EUA, Hillary Clinton, prometeu continuar com o apoio, assim como aumentar a proteção dos EUA a Israel e a Netanyahu, mais especificamente. Na verdade, a única crítica de Hillary Clinton a respeito da política dos EUA é que esta tem sido insuficientemente leal a Israel. Seu oponente, Donald Trump, no começo da campanha, demonstrou certa divergência quanto à política americana frente a Israel, mas já se realinhou. A grande carência de divergência de parte da classe política americana quanto ao assunto está refletida no fato de que a única oposição ao pacote de US$ 38 bilhões veio de senadores que — repetindo a crítica de Netanyahu — ficaram insatisfeitos por ele não ser ainda mais generoso com Israel, às custas de cidadãos americanos. Em suma, o apoio irrestrito ao apartheid de Israel é um consenso praticamente absoluto entre os membros da elite política dos EUA.

O pior de tudo é que a política ortodoxa dos EUA financiou, alimentou e protegeu esse estado de apartheid, assim como tentou deslegitimar todas as formas de resistência a ele. Assim como fez com o Congresso Nacional Africano e com Nelson Mandela, os EUA rotulam de “terroristas” todos os grupos e indivíduos que combatem o exército de ocupação de Israel, além de difamar formalmente programas pacíficos contra a ocupação — como o movimento de Boicote, Desinvestimento e Sanções — como se fossem intolerantes e antissemitas (uma posição que Clinton defendeu com certa veemência). O movimento tem sido cada vez mais ameaçado por todo o Ocidente com censura e até criminalização. De acordo com a ortodoxia política dos EUA, a única forma aceitável de palestinos e apoiadores de seus direitos se livrarem da ocupação é através da submissão completa.

Embora o consenso ocidental continue a reverenciar os mais vigorosos apoiadores do regime de apartheid na África do Sul — Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Shimon Peres —, ao menos, hoje, consideram o apartheid no país uma desgraça histórica. A história vai lembrar dos que facilitam a marcha de Israel em direção ao apartheid permanente exatamente da mesma forma. Os facilitadores mais agressivos e persistentes desse apartheid se encontram no topo da classe política dos EUA.

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