Trechos das declarações de Hillary Clinton durante discursos pagos nos grupos Goldman Sachs, Deutsche Bank, Morgan Stanley e outros foram publicados on-line pela Wikileaks na tarde de sexta-feira (07). Hillary Clinton, que recebeu mais de US$ 225 mil por palestra, acumulou mais de US$ 22 milhões no circuito de discursos após renunciar ao cargo de Secretária de Estado dos EUA.
Os trechos foram revelados através de um e-mail de Tony Carrk, diretor de pesquisa da campanha de Clinton, para John Podesta, presidente da campanha, e para outros dirigentes do alto escalão da campanha. Carrk, que preferiu não comentar o conteúdo do vazamento, frisava as passagens mais prejudiciais à campanha de cada um dos discursos pagos em e-mails com títulos como “CLINTON ADMITE ESTAR DESINFORMADA”, “CLINTON DIZ QUE É PRECISO UMA POSIÇÃO PRIVADA E UMA PÚBLICA SOBRE AS POLÍTICAS DE ESTADO” e “DECLARAÇÕES DE CLINTON SÃO FAVORÁVEIS A KEYSTONE E AO MERCADO”.
O patrimônio acumulado por Clinton foi um dos tópicos discutidos nos eventos pagos.
Ao debater as ansiedades econômicas da classe média, Clinton disse agora se encontrar “um pouco desligada por conta da vida que vivo e da fortuna, sabem, financeira de que meu marido e eu desfrutamos agora, mas eu não me esqueci [como são as coisas]”, confidenciou à plateia de um discurso patrocinado pela Goldman Sachs.
Mas o debate também serviu como uma oportunidade para Clinton falar com franqueza sobre políticas de Estado, política em geral e sobre como governar.
Ao falar de sua visão sobre o desenvolvimento da regulação financeira, Clinton declarou à plateia de banqueiros da Goldman Sachs que, para “entender o que funciona”, as “pessoas que conhecem o setor melhor do que ninguém são as pessoas que trabalham no setor”.
Na Conferência de Desenvolvedores e Inovadores da Goldman Sachs, Clinton respondeu a uma pergunta do Presidente Executivo da empresa, Lloyd Blankfein, que brincou ser necessário “ir para Washington” para “fazer uma pequena fortuna”. Clinton concordou com o comentário e reclamou das regras éticas que determinam que funcionários públicos retirem investimentos de certos ativos antes de entrar para o governo. “Há tanto preconceito contra pessoas que levaram vidas bem-sucedidas e/ou complicadas”, protestou Clinton.
Em um discurso na Morgan Stanley em 18 de abril de 2013, Clinton elogiou o plano de redução de déficit de Simpson-Bowles — que propunha a redução de impostos e o aumento da idade de aposentadoria. “Mas Simpson-Bowles — e sei que vocês ouviram o discurso de Erskine hoje — apresentou o conjunto de propostas certo. Por exemplo, temos que reduzir gastos, precisamos de receitas adequadas e temos que incentivar o crescimento. É uma fórmula de três partes”, afirmou.
Em 2013, Clinton também disse a um grupo de investidores do setor imobiliário que, em certos casos, ela tem “uma posição pública e uma privada”. “Se todo mundo estiver olhando, sabe, todas as discussões nos bastidores e os acordos, sabe, as pessoas ficam, no mínimo, um pouco nervosas”, disse Clinton. “Portanto, é preciso ter tanto uma posição pública quanto uma posição privada.”
O The Intercept foi o primeiro veículo a perguntar diretamente a Hillary Clinton se ela publicaria a transcrição de seus discursos pagos para a Goldman Sachs. Ao ser abordada em um evento em Manchester, New Hampshire, Clinton riu da pergunta.
A questão foi levantada novamente durante os debates nas eleições primárias do Partido Democrata e em outros eventos públicos. Em fevereiro deste ano, o Conselho Editorial do New York Times fez um apelo para que Clinton publicasse a transcrição de seus discursos, alegando que os eleitores “têm todo o direito de saber o que a Sra. Clinton disse a esses grupos”.
De acordo com testemunhos, a campanha revisou as transcrições dos discursos, mas decidiu não publicá-los por temer que a candidata passaria a impressão de ser muito favorável a bancos e doadores de grupos de interesse.
Porém, há indícios nos e-mails revelados pela Wikileaks de que Clinton adotou uma postura razoavelmente progressista em certos tópicos, como na reforma do sistema de saúde.
Durante uma conversa em Grand Rapids, Michigan, em 2013, Clinton elogiou o modelo de financiamento único presente na reforma do sistema de saúde. “Se você analisar sistemas de financiamento único, como na Escandinávia, no Canadá e em outros lugares, eles podem reduzir custos (…), embora o tratamento, de acordo com as estatísticas, em geral, seja tão bom ou melhor [do que o nosso] nos cuidados primários”, defendeu, acrescentando que o sistema também apresentava desvantagens. “Mas [o sistema] impõe coisas como tempo de espera, sabe.”
Durante a campanha deste ano, a candidata democrata abandonou a ideia, declarando que o financiamento único “nunca, jamais” será adotado nos EUA. Em áudio obtido pelo The Intercept na semana passada, Clinton pode ser ouvida rejeitando o conceito de saúde gratuita durante um evento privado com doadores de campanha.
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