SAO LUIS, BRAZIL - JANUARY 27:  Inmates stand in their cell in the Pedrinhas Prison Complex, the largest penitentiary in Maranhao state, on January 27, 2015 in Sao Luis, Brazil. Previously one of the most violent prisons in Brazil, Pedrinhas has seen efforts from a new state administration, new prison officials and judiciary leaders from Maranhao which appear to have quelled some of the unrest within the complex. In 2013, nearly 60 inmates were killed within the complex, including three who were beheaded during rioting. Much of the violence stemmed from broken cells allowing inmates and gang rivals to mix in the patios and open spaces of the complex. Officials recently repaired and repopulated the cells allowing law enforcement access and decreasing violence among prisoners, according to officials. Other reforms include a policy of custody hearings and real-time camera feeds. According to officials there have been no prisoner on prisoner killings inside the complex in nearly four months. Critics believe overcrowding is one of the primary causes of rioting and violence in Brazil's prisons. Additionally, overcrowding has strengthened prison gangs which now span the country and contol certain peripheries of cities including Rio de Janeiro, Sao Paulo and Sao Luis. Brazil now has the fourth-largest prison population in the world behind the U.S., Russia and China. The population of those imprisoned had quadrupled in the past twenty years to around 550,000 and the country needs at least 200,000 new incarceration spaces to eliminate overcrowding. A vast increase in minor drug arrests, a dearth of legal advice for prisoners and a lack of political will for new prisons have contributed to the increases.  (Photo by Mario Tama/Getty Images)

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Alexandre de Moraes minimiza “guerra” entre CV e PCC e acaba beneficiando o tráfico

Autoridades seguem negando gravidade de alianças entre facções e planejando políticas de segurança ineficazes que custam a vida de muitos.

SAO LUIS, BRAZIL - JANUARY 27:  Inmates stand in their cell in the Pedrinhas Prison Complex, the largest penitentiary in Maranhao state, on January 27, 2015 in Sao Luis, Brazil. Previously one of the most violent prisons in Brazil, Pedrinhas has seen efforts from a new state administration, new prison officials and judiciary leaders from Maranhao which appear to have quelled some of the unrest within the complex. In 2013, nearly 60 inmates were killed within the complex, including three who were beheaded during rioting. Much of the violence stemmed from broken cells allowing inmates and gang rivals to mix in the patios and open spaces of the complex. Officials recently repaired and repopulated the cells allowing law enforcement access and decreasing violence among prisoners, according to officials. Other reforms include a policy of custody hearings and real-time camera feeds. According to officials there have been no prisoner on prisoner killings inside the complex in nearly four months. Critics believe overcrowding is one of the primary causes of rioting and violence in Brazil's prisons. Additionally, overcrowding has strengthened prison gangs which now span the country and contol certain peripheries of cities including Rio de Janeiro, Sao Paulo and Sao Luis. Brazil now has the fourth-largest prison population in the world behind the U.S., Russia and China. The population of those imprisoned had quadrupled in the past twenty years to around 550,000 and the country needs at least 200,000 new incarceration spaces to eliminate overcrowding. A vast increase in minor drug arrests, a dearth of legal advice for prisoners and a lack of political will for new prisons have contributed to the increases.  (Photo by Mario Tama/Getty Images)

Dezoito detentos mortos, 22 feridos e 10 desaparecidos em prisões de Rondônia e Roraima em 24h, presos “jogando bola” com a cabeça de rival em Fortaleza, 25 homens armados tentando invadir um presídio no Acre e, por isso, centenas de presos do semiaberto liberados e quatro feridos, transferência de quase uma centena de presos. Os últimos dias têm exposto problemas jogados para debaixo do tapete pelas autoridades há anos: o domínio das facções sobre o sistema penitenciário superlotado e subcontrolado do país e seu impacto real na segurança pública em todos os estados.

A ruptura da aliança de anos entre Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital pode reconfigurar o mapa do crime organizado dentro e fora das prisões e fazer o sangue chegar a muitas portas país afora. O Primeiro Comando da Capital agora quer ser amigo dos Amigos dos Amigos. É o bonde PCC-ADA sem freio.

A existência do PCC não passa de uma ficção, uma fantasia“. A frase proferida pelo então secretário da Administração Penitenciária de São Paulo, João Benedito de Azevedo Marques, no início da década de 90, é um exemplo de como a segurança pública é planejada: à base da negação dos fatos.

Apesar de “não existir”, desde o primeiro estatuto do PCC, escrito entre 1996 e 1997, a ideia de aliança com o CV transpareceu. O lema da facção paulistana é o mesmo da carioca, criada em 1979, no presídio de Ilha Grande: “Paz, Justiça e Liberdade“. Mas não por afinidade ideológica, mas, sim, por conveniência e mercado. Eles firmaram uma espécie de consórcio para a compra de drogas e armas no Paraguai, Colômbia e Bolívia.

“Mera bravata.”

O PCC, que domina, além do tráfico de drogas, uma série de negócios com verniz de legalidade — como postos de gasolina e cooperativas de vans em São Paulo —, acha o CV muito violento e que isso atrapalha os negócios. E também já se aventura na política, financiando candidatos.

No vácuo da negação, o Primeiro Comando da Capital nasceu, em 1993, cresceu e se fortaleceu dentro do sistema prisional paulista. Consolidado, fez aliança com a mais antiga facção do país, o Comando Vermelho. Agora presente em todos os estados do Brasil e na Argentina, no Peru, na Colômbia e na Venezuela, muda de lado.

Quando um problema não é admitido, não é necessário fazer planejamento sobre o que “não existe”. O resultado é como em 2006: São Paulo sitiada e quase 600 mortos em quinze dias. A apuração dos crimes foi duramente criticada por suas falhas, os casos — registrados como resistência seguida de morte — foram arquivados três anos depois, reabertos este ano e agora, podemos estar prestes a assistir um revival.

Mera bravata.” Esta é a leitura — irresponsável — que o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, faz da atual situação dos presídios. E ele não está só. A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro também negou que houve ruptura de aliança entre as facções. É Azevedo Marques fazendo escola. Moraes afirmou ainda que “não há nenhuma informação de inteligência” sobre o orquestramento de rebeliões.

O ministro persiste no erro comum de onde vem — e onde ganhou experiência — e ignora, por exemplo, que o Ministério Público de SP apurou que o conflito entre CV e PCC começou em 2015, quando presos do CV em Roraima, Rondônia e Acre se aliaram à Família do Norte (FDN) e a outros grupos rivais ao Comando da Capital. Segundo o MPE, há cerca de 200 a 300 integrantes do CV espalhados em penitenciárias paulistas dominadas pelo PCC.

De acordo com o procurador de Justiça de SP, Márcio Sérgio Christino, a relação entre as facções estremeceu depois do assassinato do empresário e traficante Jorge Rafaat Toumani, de 56 anos, em Pedro Juan Cabalero, fronteira entre Brasil e Paraguai, em junho. Rafaat foi morto em emboscada com cem mercenários comandada pelo PCC, que passou a ter mais poder que o esperado pelo CV. Isso porque, com a morte do “rei do tráfico”, o PCC pode tomar o poder sobre essa região chave para a importação, e assim tomar controle de toda a cadeia de produção, comércio e distribuição de drogas. Uma mina de ouro.

O “salve” encaminhado pelo PCC aos membros espalhados em presídios diz que o CV o desrespeitou, matando pessoas ligadas ao grupo e se aliando à facções inimigas no norte do país:

“A cerca de três (3) anos buscamos um dialogo com a liderança do c.v nos estados, sempre visando a Paz e a União do Crime no Brasil e o que recebemos em troca, foi irmão nosso esfaqueado e Rondonia e nada ocorreu, ato de talaricagem por parte de um integrante do cvrr e nenhum retorno, pai de um irmão nosso morto no Maranhão e nem uma manifestação da liderança do cv em prol a resolver tais fatos.

Como se não bastasse, se aliaram a inimigos nossos que agiram de tal covardia como o PGC que matou uma cunhada e sua prima por ser parentes de PCC, matarão 1 menina de 14 anos só por que fecahava com nós.”

A negação dos fatos permitiu que o PCC se espalhasse nacionalmente, bem como permite, agora, os mandos e desmandos nas penitenciárias e, inclusive, no impacto nas taxas de criminalidade, firmando acordos de paz e mudando o ritmo de vida em municípios inteiros.

Moraes anunciou nesta segunda, dia 17, que prepara um Plano Nacional de Segurança Pública, a ser lançado em novembro. Se o plano não previr ações mais efetivas do que se munir de facão para cortar pés de maconha no Paraguai, com o reconhecimento da gravidade da situação, a admissão da “guerra nacional” de facções e a revisão da legislação sobre drogas, maio de 2006 será café pequeno.

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