Donald Trump anunciou no dia 29 a criação do Reagan Alumni Advisory Council for Trump-Pence (Conselho Deliberativo de Admiradores de Reagan por Trump-Pence), formado por 240 ex-assessores de Ronald Reagan — Presidente dos Estados Unidos de 1981 até 1989 — que apóiam Donald Trump.
Reagan, antes uma estrela de Hollywood e depois governador da Califórnia, foi eleito presidente em 1980 e reeleito com grande folga em 1984. Ele é, sem dúvidas, o maior herói político de toda sorte de conservadores na atualidade, que com êxito pressionou para colocar seu nome no principal aeroporto de Washington DC e até tentou adicionar a escultura de sua face no panteão dos presidentes dos EUA em Monte Rushmore — famosa montanha com esculturas no estado de Dakota do Sul. Quando Reagan foi notavelmente considerado ultra-direita durante os anos 1980, ele manteve muitas posições que hoje seriam consideradas escandalosamente liberais por Republicanos.
A primeira citação do comunicado de imprensa é do procurador geral de Reagan, Edwin Meese: “Muitos de nós lembram de 1980, uma época em que, assim como hoje, os Estados Unidos sofriam com o alto nível de desemprego e juros ainda mais altos”.
Na verdade, a taxa de desemprego americana em outubro de 1980 era de 7,5%. A taxa de desemprego atual é de 5%. Em 1980, a taxa de juros era de 15,3%. Hoje, é de 3,3%.
A taxa de desemprego atual é tão baixa que os conservadores estão insistindo que a Reserva Federal dos EUA aumente as taxas de juros para forçar um aumento do desemprego. As taxas de juros atuais são as mais baixas dos últimos 55 anos.
Meese presta um serviço de utilidade pública ao lembrar a americanos que a fantasia obsessiva e bizarra de Trump não é exatamente uma aberração dentre os principais republicanos. Daria para passar a vida inteira catalogando as crenças peculiares de Reagan sobre o mundo, mas veja aqui algumas delas:
Em 1983, durante a cerimônia para os vencedores da Medalha de Honra do Congresso, Reagan contou uma história sobre um piloto da Segunda Guerra Mundial que optou por ficar em um B-17 que estava caindo para acompanhar um colega que estava ferido e não conseguia sair. Isso não aconteceu na vida real, mas aconteceu em “Wing and a Prayer”, um dos filmes favoritos de Reagan.
Em 1984, durante uma reunião com o primeiro ministro de Israel, Reagan disse ter sido parte de uma unidade militar do EUA que filmou os campos de concentração no fim da Segunda Guerra Mundial. Mais, Reagan contou ter guardado uma cópia pessoal para mostrar a quem defendesse que o Holocausto não havia ocorrido. Durante a guerra, Reagan vivia em Hollywood e não deixou os EUA.
Em 1985, que o apartheid na África do Sul “tinha eliminado a segregação que outrora existia em nosso país”.
Em 1986, após os EUA terem cedido armas ao Irã em troca da libertação de reféns no Líbano, Reagan disse: “Nós não — repito — nós não cedemos armas ou coisa alguma em troca de reféns, e não faremos isso”.
Meese, por sua vez, seguiu a indicação do patrão. Um pouco antes do natal de 1983, ele contou ao Clube de Imprensa Nacional que Ebenezer Scrooge, em “A Christmas Carol“, sofreu ataques na mídia em sua época. Se você olhar bem os fatos, ele não explorou Bob Cratchit. Na verdade, Bob tinha bons motivos para ficar satisfeito com a situação. […] Sejamos justos com Scrooge”.
Todos esses exemplos vem do imperdível livro de 1989, The Clothes Have No Emperor, do escritor de comédia Paul Slansky. É a melhor fonte que existe se você quer saber mais — muito, mas muito mais — sobre a época em que o Partido Republicano finalmente se livrou das amarras da realidade.
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