Num barata-voa sem fim, o governo Temer continua demonstrando não ter a menor noção de como lidar com a situação das mais de 1200 escolas ocupadas pelo país. Na quarta-feira, dia 2, o Ministério Público do Ceará entrou com um pedido de suspensão do Enem frente ao adiamento da realização das provas apenas em escolas ocupadas, o que acabaria com o princípio de isonomia do concurso. O Ministério da Educação entrou na justiça para derrubar a decisão. O Inep, que divulga os resultados, descartou a possibilidade de adiar a prova para todos os alunos. E até agora, faltando dois dias para o exame, por conta da confusão, muitos dos inscritos no concurso ainda não sabem o que vai acontecer.
Se o ministério não consegue chegar a um acordo com o MP, imagine com os secundaristas. Na manhã desta quinta-feira, dia 3, o ministro Mendonça Filho criticou a politização dos alunos e disse que a mudança de local de provas por conta das ocupações custará R$12 milhões aos cofres públicos. E criticou os secundaristas: “Todos têm direito à opinião, mas a escola é um espaço público. Acho que você não pode impedir seu colega de ter acesso à educação”.
Em sua fala, Mendonça parece esquecer que, para as eleições municipais, foi feito um acordo com os alunos de ocupações em escolas que eram locais de voto. Os estudantes liberaram os espaços necessários para as equipes do Tribunal Eleitoral. Outra opção utilizada pelo TRE foi a realocação das zonas eleitorais para locais provisórios. Em todo o estado do Paraná, 700.315 eleitores tiveram seus pontos de votação alterados. As ocupações não impediram que as eleições acontecessem.
A idéia de realocação é defendida pelos secundaristas em entrevista ao The Intercept Brasil na última semana. Os representantes das ocupações do Colégio Pedro II, de Realengo, no Rio de Janeiro e do Instituto Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, afirmam que a responsabilidade do Enem é do MEC.
O governo teve um mês para realocar os alunos a tempo.
“Nossa ocupação não tem relação nenhuma com o Exame Nacional do Ensino Médio. Deve partir do MEC a decisão de realocar esses estudantes. Sabemos que aqui em Pelotas existem diversas escolas com capacidade para comportar um exame de nível nacional”, defenderam na ocasião os secundaristas do #OcupaIFSUL.
Os alunos do Pedro II de Realengo publicaram uma carta aberta pedindo diálogo com o MEC sobre assunto. O que não aconteceu.
Porém, como afirmou a colunista Flávia Oliveira em seu artigo publicado nesta quinta-feira, dia 3, no O Globo, “Por trás do adiamento está a decisão política de retaliar a reação dos jovens à medida provisória da reforma do ensino médio e aos efeitos da PEC 241”. Ainda de acordo com a colunista, são 191.494 num universo de 8,6 milhões de inscritos; dois em cada cem.
Nesta sexta-feira, dia 4, o Inep divulga nova lista com mais nomes de escolas onde o exame não será realizado. A listagem pode conter possíveis acréscimos de escolas que possam ter sido ocupadas após o dia 31 – prazo dado para as desocupações. Esses alunos farão o exame nos dias 3 e 4 de dezembro.
O governo teve um mês para realocar os alunos a tempo, mas preferiu sustentar a ideia chantagista de colocar estudantes contra sua própria causa. Em entrevista à Globo News, no fim da tarde desta quinta, dia 3, Mendonça Filho, afirmou que o governo não está agindo de forma autoritária, apesar de a falta de diálogo demonstrar uma postura totalmente diferente.
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