Donald Trump surpreendeu a todos, exceto seus apoiadores, ao vencer as eleições presidenciais dos EUA na terça-feira (8), após conduzir uma campanha racista, xenofóbica, autoritária, misógina, negando a ciência por trás do aquecimento global e se gabando por “pegar [mulheres] pela xoxota”.
Um comparecimento mais alto do que o esperado dentre eleitores do interior e brancos da classe trabalhadora levaram Trump a superar as expectativas das pesquisas em quase todos os estados estratégicos, como Ohio, Flórida, North Carolina, Pennsylvania e Wisconsin, que o colocaram acima dos 270 delegados necessários para chegar à presidência.
O então líder do movimento racista que questionava a nacionalidade de Barack Obama entrou na corrida presidencial chamando mexicanos de estupradores e se recusando inúmeras vezes a reprovar o comportamento de partidários da supremacia branca, além de divulgar propostas de políticas de Estado que desrespeitavam os limites do poder executivo e a dignidade humana.
Trump prometeu “bombardear para caralho” os países do Oriente Médio, assassinar as famílias inocentes de terroristas, fazer “muito pior do que afogamento simulado” [uma técnica de tortura] e sugeriu que o uso de balas banhadas em sangue de porco [para ferir muçulmanos, que não consomem porco] seria uma boa política antiterrorismo.
Trump já tinha um longo histórico de declarações misóginas demonstrando desprezo por mulheres, mas depois da revelação de gravações feitas há dez anos, em que dizia “pegar [mulheres] pela xoxota” e “quando você é uma estrela, elas deixam”, muitos eleitores ficaram horrorizados e diversas mulheres revelaram casos em que foram vítimas de Trump. Quase todas as pesquisas mostravam uma vitória folgada de Clinton.
A vitória de Trump é um verdadeiro pesadelo se tornando realidade, em particular, para americanos muçulmanos. A campanha do republicano foi responsável por incitar centenas de crimes de ódio contra muçulmanos e iniciar uma nova onda de bullying contra muçulmanos em escolas. As promessas de Trump de espionar mesquitas e impedir muçulmanos de entrar no país cativaram seus eleitores e recebiam aplausos sempre que eram repetidas durante a campanha. O círculo de assessores, representantes e aliados políticos de Trump incluem pessoas que falam com orgulho sobre espionar mesquitas e fazer “testes de Sharia” [conjunto de regras com base no Alcorão e no Islã, similar ao sistema judeu da Halachá e ao direito canônico católico] em todos os americanos muçulmanos, sob pena de deportação. O General Michael Flynn, importante assessor de segurança nacional de Donald Trump e possível Secretário de Defesa, escreveu no Twitter que o “medo de muçulmanos é racional”.
Ainda há muitas dúvidas sobre como Trump vai escolher seus assessores e secretários, e como de fato vai governar. O republicano mudou de opinião a respeito de diversas propostas de políticas de Estado e, mesmo tendo prometido tirar o controle de Washington das mãos da classe política, sua equipe de transição está repleta de lobistas corporativos e negociadores políticos.
Em dois aspectos, Trump foi consistente: Em sua certeza quanto à construção de um muro na fronteira entre os EUA e o México, e quanto a apoiar policiais envolvidos na morte de homens negros desarmados.
Cientistas políticos, estatísticos e comentaristas vão debater por muitos anos a respeito das previsões feitas pela mídia corporativa sobre o que era para ser uma vitória avassaladora de Clinton. A curto prazo, muitas comunidades, como imigrantes irregulares e muçulmanos, têm de lidar com as graves ameaças a seus direitos e segurança.
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