Lyn Lohberger of NASA looks out as sea ice floats near the coast of West Antarctica from a window of a NASA Operation IceBridge airplane on October 27, 2016 in-flight over Antarctica. NASA's Operation IceBridge has been studying how polar ice has evolved over the past eight years. Researchers have used the IceBridge data to observe that the West Antarctic Ice Sheet may be in a state of irreversible decline directly contributing to rising sea levels.

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Pesquisas sobre aquecimento global correm risco sob nova indicação de Trump para Nasa

Christopher Shank brincou sobre sua produção pessoal de CO1 e disse que o ativismo sobre mudanças climáticas é "uma teoria sobre controle populacional neomalthusiana".

Lyn Lohberger of NASA looks out as sea ice floats near the coast of West Antarctica from a window of a NASA Operation IceBridge airplane on October 27, 2016 in-flight over Antarctica. NASA's Operation IceBridge has been studying how polar ice has evolved over the past eight years. Researchers have used the IceBridge data to observe that the West Antarctic Ice Sheet may be in a state of irreversible decline directly contributing to rising sea levels.

Um dos mais importantes projetos da Nasa é o monitoramento histórico da média de temperatura global. Em janeiro de 2016, a agência divulgou dados que mostram 2015 como o ano mais quente desde que foram iniciados os registros de temperatura. “O anúncio de hoje não só enfatiza a importância do programa de acompanhamento da Terra realizado pela Nasa, como é também um dado fundamental que deveria intrigar e ser levado em conta por nossos legisladores. Está na hora de lidar com as mudanças climáticas”, disse Charles Bolden, administrador da Nasa em sua declaração à época. Desde então, as atualizações mensais sobre temperatura divulgadas pela Nasa foram responsáveis por uma dose paulatina de medo, já que cada novo mês era considerado o mais quente de todo o conjunto de dados.

Agora, o primeiro indicado de Donald Trump para a equipe de transição da Nasa é Christopher Shank, ex-funcionário do congresso americano que disse não estar convencido de uma realidade que já foi aceita pela grande maioria dos cientistas da área: seres humanos são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Shank trabalhou para o deputado republicano Lamar Smith, que teve papel fundamental no prolongamento desnecessário do debate sobre as causas fundamentais das mudanças climáticas, quando a comunidade científica já se definiu e medidas concretas se fazer urgentes.

Shank criticou o tipo de dados científicos que a Nasa divulga regularmente. Em um painel realizado em setembro de 2015 no Consórcio de Ciência, Política e Consequências da Universidade Estadual do Arizona, disse: “A retórica que está sendo usada, ‘o ano mais quente da história’, na verdade, não é corroborada pela ciência — ou o fato de que as secas, incêndios e furacões, etc., são causados por mudanças climáticas — isso é simplesmente o clima”.

Ele se negou a aceitar a gravidade da crise climática, criticando “a retórica em torno da, vamos dizer, poluição climática, que é CO2, que estou emitindo agora mesmo”. E zombou: “Estamos falando mesmo sobre uma teoria sobre controle populacional neomalthusiana?” Fazendo referência a Thomas Malthus, pensador do fim do século 18 que previu uma crise de recursos se o crescimento populacional não fosse contido. “Quais problemas estamos tentando resolver?”, perguntou.

A indicação de Shank faz sentido se levarmos em conta as ameaças de assessores de Trump de descartar pesquisas da Nasa sobre mudanças climáticas. Em um editorial na Space News de outubro, os assessores da campanha de Trump Robert Walker e Peter Navarro disseram que a “Nasa devia se concentrar principalmente em atividades espaciais profundas, em vez de trabalhos sobre a Terra que são mais bem executados por outras agências”.

Walker contou ao The Guardian na semana passada: “Acredito que pesquisas climáticas sejam necessárias, mas foram extremamente politizadas, o que prejudicou em muito o trabalho que vem sendo realizado pelos pesquisadores. As decisões do Sr. Trump serão baseadas em ciência pura, e não em ciência politizada”.

David Titley, diretor do Centro de Soluções para Riscos Climáticos e Meteorológicos da Universidade Estadual de Pensilvânia, respondeu: “Só podemos medir a Terra como um sistema único do espaço”.

A Nasa trabalha em parceria com a NOAA, Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, para medir mudanças climáticas. O papel da Nasa inclui o desenvolvimento de tecnologias de observação.

“Se eles de fato desligarem os satélites, será como se estivéssemos dirigindo no escuro, na neblina, sem farol, em uma estrada de montanha”, disse Titley em uma entrevista. A análise de dados de satélite revela verdades inconvenientes, acrescentou. “Eles vão descobrir que o vasto consenso científico está correto. A Terra está esquentando. Sabemos por que está esquentando. E vai continuar esquentando à medida que emitimos gases do efeito estufa no sistema.”

“Mesmo num mundo pós-verdade, gritar e berrar em maiúsculas às três da manhã não vai mudar as leis da física”, concluiu.

O antigo patrão de Shank, o republicano Smith, chefe do Comitê de Ciência, Espaço e Tecnologia do Congresso, conduziu os esforços para cortar o orçamento de ciência terrestre da Nasa deste ano e, em 2011, solicitou um investigação sobre a “politização da Nasa”.

Smith é obcecado com o combate ao que ele chama de “religião do clima“. Dentre outras coisas, Smith acusou os cientistas da NOAA de alterar dados revisados por colegas que desafiavam um argumento fundamental usado por aqueles que negam a existência de mudanças climáticas: a ideia de que o aumento da temperatura global estacionou.

Shank foi vice chefe de gabinete de 2011 a 2013, antes de se tornar funcionário sênior do comitê científico do Congresso, que vinha sendo dirigido por Smith desde 2012. Antes de entrar para o Congresso, Shank trabalhou na Nasa entre 2005 e 2009, servindo em diversas funções, dentre elas chefe de comunicações estratégicas. Ele preferiu não responder aos pedidos de comentário.

Durante um painel em setembro de 2015, Shank questionou o papel de seres humanos nas mudanças climáticas, recomendando inúmeras vezes que os participantes lessem a obra de Judith Curry, Roger Pielke Jr. e Roger Pielke. “Acho que eles são as melhores fontes de observações sobre questões climáticas e como lidar com elas”, disse. Em um dado momento, repetiu o endereço do blog de Curry duas vezes para enfatizar.

Pielke Jr., professor da Universidade do Colorado, deu depoimento para o comitê de Smith defendendo que “ainda existe muito pouco embasamento científico para as alegações encontradas na mídia e em debates políticos de que a frequência ou a intensidade com que ocorrem furacões, tornados, inundações e secas aumentaram na escala climática, seja nos EUA ou globalmente”.

Titley presidiu um comitê das Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina que publicou um relatório em março sobre a ciência de atribuição de acontecimentos meteorológicos ao clima. O estudo indicou que cientistas agora têm profunda compreensão de como o clima influencia os eventos de calor e frio extremos e uma compreensão moderada de como influencia as secas e chuvas fortes. “Quando ouço pessoas como Pielke dizerem que não podemos demonstrar o aumento do [número] de tornados, isso contradiz o fato de que o nível do mar está subindo, as temperaturas estão aumentando, a magnitude e gravidade das secas estão crescendo, assim como o impacto em nossos sistemas de água e alimentos”, disse Titley.

A outra cientista mencionada por Shank, Curry, é professora da Faculdade de Ciências Terrestres e Atmosféricas do Instituto de Tecnologia da Geórgia e é conhecida por sua opinião de que seres humanos podem não ser os principais responsáveis pelas mudanças climáticas. Em uma postagem recente em seu blog, ela atacou o Instituto Goddard de Estudos Espaciais da Nasa, dizendo que a agência é a central do que chamou de “ciência climática politizada”.

Curry observou que a Nasa financiou suas pesquisas mais do que qualquer outra agência. Ela defendeu o apoio contínuo aos projetos de ciência terrestre da Nasa, mas acrescentou que “essa é uma oportunidade para redirecionar as pesquisas de ciência terrestre da Nasa para outros tópicos que não sejam diretamente relacionados ou motivados por mudanças climáticas causadas por seres humanos”.

 

Foto principal: Imagem de blocos de gelo flutuantes no mar próximo à costa leste da Antártica vistos da janela de um avião da Operação IceBridge da Nasa. Pesquisadores usaram dados da Operação IceBridge para concluir que a camada de gelo da Antártica Ocidental pode ter chegado a um estado de declínio irreversível, contribuindo diretamente para o aumento do nível do mar.

 

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