A ComissĂŁo de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sabatina indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).À mesa:indicado para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF, Alexandre de Moraes;presidente da CCJ, senador Edison LobĂŁo (PMDB-MA);relator senador Eduardo Braga (PMDB-AM).Foto: Pedro França/AgĂȘncia Senado

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Sabatina de Alexandre de Moraes escancara o modus operandi do teatro da polĂ­tica brasileira

Entre a sabatina de Fachin (2015) e a de Moraes (2017) as açÔes da oposição e da base do governo seguem as mesmas, só mudaram os nomes de quem as desempenham.

A ComissĂŁo de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sabatina indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).À mesa:indicado para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF, Alexandre de Moraes;presidente da CCJ, senador Edison LobĂŁo (PMDB-MA);relator senador Eduardo Braga (PMDB-AM).Foto: Pedro França/AgĂȘncia Senado

Assistir Ă  sabatina de Alexandre de Moraes para a vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal Ă© como ver um filme de suspense depois de ouvir spoilers: os atores podem ser Ăłtimos, mas vocĂȘ jĂĄ sabe exatamente o que vai acontecer. E, tratando-se de BrasĂ­lia, as atuaçÔes nĂŁo sĂŁo lĂĄ essas coisas.

O maior problema sobre o que se desenrola dentro da sala da Comissão de Constituição e Justiça do Senado nesta terça-feira é que ela reflete apenas uma pequena amostra do modus operandi adotado no dia a dia da política nacional.

Em vez de fazerem perguntas incisivas [como, por exemplo, uma das seis sugeridas pelo site Poder360: “Por que a Polícia Militar do Estado de São Paulo, em sua passagem como Secretário de Justiça, consagrou-se como a que mais matava em todo o país?”] os parlamentares se limitam a discursar e usar o espaço televisionado ao vivo para fazer palanque ou mandar aquele “salve” para padrinhos e eleitorado.

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sabatina indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).</p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
<p>Bancada (E/D):<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR);<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
senador Lindbergh Farias (PT-RJ);<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).</p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
<p>Foto: Marcos Oliveira/AgĂȘncia Senado

(da esq. para dir.) Na sabatina de Moraes, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) formam a bancada da oposição.

Foto: Marcos Oliveira/AgĂȘncia Senado

Por exemplo, o senador Armando Monteiro (PTB-PE) começou seu tempo de pergunta fazendo uma piada com o fato de Moraes ser calvo e terminou a fala criticando as regras do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Lembrando que ele Ă© ex-presidente Confederação Nacional da IndĂșstria, um grupo bem interessado nessa fala. Para fechar com uma interrogação, perguntou a Moraes o que ele acha da situação da crise econĂŽmica dos estados brasileiros.

Jå o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), por exemplo, aproveitou um de seus momentos de fala para lembrar sua atuação durante o processo de impeachment e criticar as reformas da política econÎmica que estão sendo postas em curso pelo governo Temer.

Isso reflete a postura adotada em todas as casas: senadores e deputados utilizam qualquer tempo ao microfone para qualquer coisa que não seja apresentar argumentos ou questÔes do círculo de interesses em pauta.

Aproveitando que Lindbergh mencionou sua atuação durante o processo, vale lembrar das falas durante os votos no processo de impeachment, que viraram piada nacional. Entre elas, destaque para o voto de SĂ©rgio Moraes (PTB-RS), que foi a favor da retirada da ex-presidente Dilma Rousseff e usou seu tempo ao microfone para uma explicação totalmente completa sobre o que motivava seu voto: “Feliz aniversĂĄrio, Ana, minha neta.”

NĂŁo Ă  toa, nĂŁo hĂĄ preocupação em prestar atenção no que cada um fala — jĂĄ que todos sabem previamente os papĂ©is — e muito menos em estar presente durante toda a sessĂŁo, ainda que de sabatina de um futuro ministro do STF. Por volta das 14h, Lindbergh registrou uma reclamação por terem apenas 8 parlamentares presentes na CCJ.

Enquanto isso, Marta Suplicy (PMDB-SP) era inĂșmeras vezes flagrada pelas cĂąmeras da TV Senado trocando mensagens ao celular, alheia ao debate; mais uma postura extremamente comum entre os parlamentares durante sessĂ”es.

Como esquecer da conversa via whatsapp entre Bolsonaros pai e filho, capturada pelo fotojornalista Lula Marques durante a sessĂŁo para eleição da presidĂȘncia da CĂąmara, onde o prĂłprio diĂĄlogo demonstra a falta de noção sobre a agenda de pautas da Casa?

O lado positivo do espetåculo é que ele demonstra como funciona o teatro da política nacional: os papéis são os mesmos, variam apenas os atores que os desempenham. Ninguém se preocupa em ouvir o que os outros estão dizendo, porque jå se sabe como cada um vai se comportar.

Essa dança das cadeiras ficou evidente quando a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) tentou adiar a sabatina usando como argumento um projeto de lei proposto pelo senador AĂ©cio Neves (PSDB-MG) em 2015 — quando este era da oposição —, e o prĂłprio tucano afastou a possibilidade de aplicação dos seus fundamentos, afirmando que a bancada que entĂŁo representava a base do governo [leia-se, o PT] foi contra.

O projeto girava em torno da extensĂŁo do tempo da sabatina para futuros ministros do STF. Naquele momento, AĂ©cio propĂŽs que as sabatinas fossem mais longas, mas, agora que faz parte do nĂșcleo da situação, ele nĂŁo faz mais tanta questĂŁo da mudança. JĂĄ Gleisi fazia parte da base que foi contra, mas agora usa o projeto como argumento para pedir um novo modelo de sabatina.

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sabatina indicado pelo presidente Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).</p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
<p>À mesa:<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
indicado para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes;<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
senador AĂ©cio Neves (PSDB-MG);<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
vice-presidente da CCJ, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG);<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
relator, senador Eduardo Braga (PMDB-AM).</p><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br />
<p>Foto: Geraldo Magela/AgĂȘncia Senado

(da esq. para dir) À mesa da sabatina, o indicado para o cargo de ministro do STF, Alexandre de Moraes; o senador AĂ©cio Neves (PSDB-MG); o vice-presidente da CCJ, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e o relator, senador Eduardo Braga (PMDB-AM); antes oposição, agora os senadores compĂ”em a base aliada.

Foto: Geraldo Magela/AgĂȘncia Senado

Em 2015, era o agora ministro Luiz Edson Fachin que respondia a perguntas dos senadores. Se, naquele ano, polĂ­ticos do DEM, PMDB e PSDB se articulavam para atrasar a escolha enquanto lĂ­deres da base aliada ao PT pediam urgĂȘncia, dessa vez foi exatamente o contrĂĄrio que aconteceu.

Ou seja, o roteiro segue o mesmo, os atores só trocaram seus papéis.

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