Um dia sem mulheres: essa é a proposta da Greve Internacional de Mulheres, ou apenas #8M, um ato de protesto organizado de forma colaborativa por ativistas de 50 países. A proposta é que, por quanto tempo puderem, pelo menos por alguns minutos, mulheres parem suas tarefas como um manifesto contra o feminicídio e a desigualdade de gêneros.
No Brasil, o movimento está sendo unificado sob o nome de Parada Brasileira de Mulheres e já está organizado em estados como Rio de Janeiro, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Além de eventos em grupo, como marchas e rodas de debate, as interessadas também estão convidadas a fazerem pequenas ações, como vestir roupas da cor lilás e usar o tempo de almoço para conversar com as colegas de trabalho sobre as desigualdades de gênero.
Uma das coordenadoras do movimento Ni Una Menos na Argentina, Cecilia Palmeiro está trabalhando na conexão entre as ações nos diferentes países e explicou ao The Intercept Brasil que a greve do próximo dia 8 vai funcionar nos moldes da greve-geral organizada na Argentina em 2016:
“O que fizemos na primeira greve foi uma hora de cessação de atividade, só por uma hora. Deu super certo. Nos vestimos também de preto, todas. Era muito interessante visibilizar a cumplicidade entre nós. Você saía para a rua e via todas as mulheres vestidas de preto. É uma ação para nós ficarmos juntas, sei lá, 15 minutos. Você pode deixar de trabalhar 15 minutos, meia hora, uma hora, o que der, está ótimo”, diz Palmiero.
Palmeiro conta que esta foi a saída encontrada para que todas pudessem participar. Ela frisa que apenas mulheres sindicalizadas conseguiriam fazer uma greve nos padrões conhecidos — em que se para um dia inteiro, pelo menos —, e esta não é uma realidade majoritária.
Muitas trabalham como empregadas domésticas para outras mulheres poderem trabalhar fora de casa. Hoje, são aproximadamente 6 milhões de empregadas domésticas no Brasil. A ideia é que a paralisação não faça recair mais trabalho nos ombros dessas, mas que elas também possam fazer parte do movimento.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 44% das mulheres empregadas no país não têm carteira assinada (contra 37% entre homens) e que o desemprego também afeta mais a elas: entre as mulheres, o índice é três pontos percentuais mais alto, 13,8%.
A articulação internacional representa um novo passo para o feminismo. Agora, as ações atingem nível global. “Vai ser um antes e depois na história do movimento feminista, porque nós conseguimos nos articular mundialmente”, afirma Palmeiro.
Contudo, o ideal mesmo seria que, em vez de um “dia sem mulheres”, chegasse o dia sem opressões e agressões contra as mesmas. Se isso acontecesse, a produtividade do país tenderia a melhorar com o tratamento igualitário para ambos os gêneros no mercado de trabalho, por exemplo. E, em apenas 24 horas, 131 mulheres deixariam de ser estupradas, as vidas de 16 seriam poupadas e 205 deixariam de ser agredidas.
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