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Mulher negra, você pode se reconhecer na literatura brasileira.

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Em 2009 a escritora nigeriana Chimamanda Adichie falou sobre “O perigo de uma única história”, no TEDx. Ela discorreu sobre o erro que é conhecer histórias sob apenas um aspecto e de como isso contamina nossas percepções de mundo.

Hoje conhecida mundialmente, Chimamanda aprendeu a ler e a viajar pelas linhas dos livros lendo os autores que tinha à mão, que eram geralmente americanos ou britânicos. Devido a colonização britânica, o inglês é a língua oficial da Nigéria e, claro, a influência cultural inglesa é massiva no país.

Quando foi apresentada à literatura africana de Chinua Achebe e Camara Laye, a autora mudou sua perspectiva, sua narrativa e sua vida. Começou a ver – e ler – as coisas fora da perspectiva do observador e, no caso, do “vencedor”. “Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia.”

É importante que as pessoas se identifiquem nas histórias, porque elas não são únicas e, claro, elas podem estar lá. Chimamanda amava aqueles livros americanos e britânicos que lia. “Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos”, disse. Mas com um porém: “a consequência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são”.

O que Chimamanda passou, muitas mulheres negras passam. E homens negros também, embora menos. No ano passado, mulheres protestaram contra a ausência de escritoras negras na Festa Literária de Parati (FLIP). O curador da Flip, Paulo Werneck, fez um mea culpa ao reconhecer a falha.

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Carolina Maria de Jesus com Clarice Lispector

Foto: Acervo de divulgação/Editora Rocco

Quantas pessoas sabem que uma das maiores escritoras do Brasil é uma mulher negra e favelada? O livro Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, de Carolina Maria de Jesus, publicado em 1960, vendeu mais de 100 mil exemplares, foi traduzido para 13 idiomas e vendido em mais de 40 países. Mesmo com essa biografia, Carolina foi lembrada em um trecho da biografia de Clarice Lispector – escrita por Benjamin Moser – de uma forma que foi duramente criticada: “Carolina parece tensa e fora de lugar, como se alguém tivesse arrastado a empregada doméstica de Clarice para dentro do quadro”.

Nesse Dia Internacional da Mulher é preciso que as mulheres negras não sejam apagadas e reduzidas como Carolina Maria de Jesus e ampliem sua visão de mundo para além da versão única, como fez Chimamanda Adichie. Por isso The Intercept Brasil preparou uma lista de dicas de autoras negras para quem quer se ver e reconhecer na literatura:

 

  • Alzira Rufino: primeira escritora negra a ter seu depoimento gravado no Museu de Literatura Mário de Andrade, em São Paulo/SP
  • Ana Maria Gonçalves: Prémio Casa de las Américas? (2007) pelo livro “Um Defeito de Cor” (e colunista do The Intercept Brasil)
  • Geni Guimarães: Prêmio Jabuti de Literatura (1990) pela novela “A cor da ternura”
  • Eliana Alves Cruz: Prêmio Oliveira Silveira (2016), pelo livro “Água de Barrela”
  • Livia Natalia: O livro “Água Negra” foi premiado pelo Concurso Literário de Banco Capital (2011)
  • Lélia Gonzalez: Seu livro “Festas Populares no Brasil” recebeu um prêmio internacional na categoria “os mais belos livros do mundo”, na Feira de Leipzig/Alemanha Oriental – uma das mais importantes do mercado editorial
  • Miriam Alves: Publicou seu primeiro livro, “Momentos de Busca” (1983) com o dinheiro de seu 13º salário

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