Opposition leader Senator Aecio Neves speaks during the senate impeachment trial of Brazilian suspended President Dilma Rousseff at the National Congress in Brasilia on August 30, 2016. 
Brazilian senators engaged in marathon debate Tuesday on the eve of voting on whether to strip Dilma Rousseff of the presidency and end 13 years of leftist rule in Latin America's biggest country. / AFP / ANDRESSA ANHOLETE        (Photo credit should read ANDRESSA ANHOLETE/AFP/Getty Images)

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O destino adiado de Aécio e os sinais do grande acordo nacional

STF adia decisão sobre pedido de prisão do senador, e PSDB ganha tempo para decidir sobre o futuro da sigla sem o comandante algemado.

Opposition leader Senator Aecio Neves speaks during the senate impeachment trial of Brazilian suspended President Dilma Rousseff at the National Congress in Brasilia on August 30, 2016. 
Brazilian senators engaged in marathon debate Tuesday on the eve of voting on whether to strip Dilma Rousseff of the presidency and end 13 years of leftist rule in Latin America's biggest country. / AFP / ANDRESSA ANHOLETE        (Photo credit should read ANDRESSA ANHOLETE/AFP/Getty Images)

O país viu um pouco de tudo desde o início da hecatombe política provocada pela Lava Jato. Só não viu ainda tucano algemado – fato raro desde que os primeiros portugueses pisaram por aqui. Na terça-feira (20) havia expectativa e apreensão diante da análise da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal sobre a situação do senador afastado, e ainda na cúpula decisória do PSDB, Aécio Neves (MG).

Não deviam ser poucos os algozes que guardaram bebidas e rojões para a ocasião; menos ainda os que temiam as consequências políticas de um revés judicial.

Um tucano encarcerado depois de mobilizar multidões por mudanças nos estatutos da ética alimentaria a sanha condenatória que tomou as redes e o país.

A eventual prisão do ex-futuro presidente da República serviria como uma espécie de desforra a quem até ontem era acusado ou incitado a explicar a manutenção do monopólio da corrupção no Brasil. Um tucano encarcerado pouco depois de mobilizar multidões e formadores de opinião por mudanças nos estatutos da ética, dos bons modos e da boa gestão alimentaria a sanha condenatória que tomou as redes e o país, cada vez mais parecido com uma caixa de comentários de portais.

A cena só não minimizaria o apetite multipartidário pelo tal grande acordo nacional que unificou adversários políticos nos discursos contra juízes, procuradores e delatores. O apetite parece bem escondido, mas de vez em quando aparece em discursos como o do líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, segundo quem os acusadores de Aécio confundem obstrução de Justiça e crime continuado com “fazer política”.

A sincronia pode ser avaliada pela contestação, por parte do governador tucano do Mato Grosso do Sul, da homologação de delações da JBS pelo ministro do STF Edson Fachin. Seria a brecha para melar outros depoimentos e abrir caminho para o chamado acordão. Não faltarão apoiadores nem mesmo no Judiciário, onde já há magistrados revoltados e dedicados a redefinir os limites das investigações (invejosos dirão que o limite é um conceito de proximidade entre amigos e inimigos).

No caso de Aécio, fazer política provavelmente se confunde com o desejo manifesto na conversa gravada com Joesley Batista antes de pedir (e receber) dinheiro ao dono da JBS: era preciso trocar o ministro da Justiça porque “aí mexia na PF”.

“Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2 mil delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?”, descreveu.

RIO DE JANEIRO,RJ,18.05.2017:OPERAÇÃO-LAVA-JATO-AÉCIO - Agentes da Polícia Federal são vistos deixando apartamento do senador Aécio Neves em Ipanema, no Rio de Janeiro (RJ), durante operação da força-tarefa da Lava Jato deflagrada na manhã desta quinta-feira (18). A operação teria tido início após a delação do dono do frigorífico JBS, Joesley Batista, que entregou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma gravação do senador Aécio Neves pedindo a ele R$ 2 milhões. (Foto: Alessandro Buzas/Futura Press/Folhapress)

Polícia Federal cumpre mandados de busca e apreensão na residência de Aécio Neves no Rio de Janeiro, em mais uma fase da Operação Lava Jato, no dia 18 de maio.

Foto: Alessandro Buzas/Futura Press/Folhapress

Com base nas delações dos executivos da JBS, a Procuradoria-Geral da República denunciou o senador por corrupção passiva e obstrução e Justiça. Pediu a perda da “função pública” e o pagamento, junto da irmã, Andrea Neves, de R$ 6 milhões como indenização de danos morais e materiais à União.

O tucano denunciado e sob risco é a versão mais recente do herdeiro político de Tancredo Neves. Como deputado e governador, ele era citado como um político diplomático e habilidoso. Chegou a ser elogiado até mesmo pela então candidata petista Dilma Rousseff durante um ato de campanha em Minas Gerais em 2010, que o chamou de “governador exemplar” com quem mantinha “a melhor relação possível”.

Quatro anos depois, Aécio saiu da campanha derrotada à Presidência disposto a interditar o governo Dilma, então adversária declarada. Adotou tom beligerante, incentivou as manifestações pró-impeachment e levou ao Tribunal Superior Eleitoral as ações contra a chapa vitoriosa que, por pouco, não dragaram o governo do qual passaria a fazer parte.

Uma vez detido, o que a boa memória do ex-governador teria a dizer sobre os colegas que o deixaram ferido na estrada?

Esse lado tão estourado quanto atrapalhado do senador agora afastado levou parte dos interessados a acompanhar com apreensão a sessão da 1ª Turma do STF. Uma vez detido, o que a boa memória do ex-governador, conforme a definição das colunas de bastidores, teria a dizer sobre os colegas que o deixaram ferido na estrada?

O adiamento da decisão sobre sua possível prisão, somado à concessão de prisão domiciliar à sua irmã e seu primo, aquele que deveria morrer antes da delação, foi interpretado como indicativo de vitória no STF, que dirá em breve se o caso deve ser apreciado na 1ª Turma ou no Plenário. Até lá, todos ganham tempo, inclusive o PSDB, que por ora não corre o risco de decidir sobre o comando da sigla com o comandante algemado.

BELO HORIZOINTE, MG, 18.05.2017: ANDREA-NEVES - A irmã do senador Aécio Neves, Andrea Neves, chega ao Instituto Médico Legal após ser presa em nova fase da Operação Lava Jato. (Foto: Pedro Silveira/Folhapress)

A irmã do senador Aécio Neves, Andrea Neves, chega ao IML após ser presa na Operação Lava Jato, no dia 18 de maio.

Foto: Foto: Pedro Silveira/Folhapress

“É bom que ele esteja mais tranquilo e tome uma decisão tirando esse peso da irmã”, despistou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

O adiamento, por outro lado, prolonga a agonia de quem não parece chegar a um acordo sobre permanecer ou não no governo, apoiar ou não as reformas, ignorar ou não a condição de sua liderança principal.

A indefinição ajuda a levar incerteza até mesmo onde o trator governista parecia intocável. Pois, no mesmo dia em que Aécio e o PSDB tiveram os destinos adiados, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado rejeitou, com o voto de um tucano, o relatório de um outro tucano sobre a reforma trabalhista. A exposição do racha acontecia enquanto o presidente vestia a fantasia de chefe de Estado na Rússia, mas era citado, por aqui, como chefe de organização criminosa pelo dono da JBS e como detentor das digitais em evidências de corrupção passiva no inquérito da PF.

O timing da Justiça nem sempre é o mesmo da política, embora às vezes se esforcem por se encontrar. Aliviado ou não, Aécio já cumpre na prática sua espécie de exílio particular. De governador respeitado por adversários a opositor irresponsável, sua última faceta é a de um tucano acuado com um longo passado pela frente.

Foto em destaque: Aécio Neves durante o processo de impeachment no Senado, em agosto de 2016.

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