Em 22 de dezembro de 2016, o site da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Rio (Fetranspor) divulgou um comunicado em tom de preocupação. Em meio a incertezas sobre o reajuste das tarifas de ônibus na capital fluminense, a entidade afirmou ser de “domínio público” que o setor estava em crise. Mas um evento, realizado dias antes, revela que, mesmo em época de alegadas “vacas magras”, a família de Jacob Barata Filho, herdeiro do empresário homônimo conhecido como “Rei do Ônibus” e preso esta semana na Operação Ponto Final, não perdeu a pose. Muito pelo contrário.
Como em julho de 2013, em plena época de manifestações que pediam melhorias no sistema de transportes, o casamento da filha de Jacob, Beatriz Barata, foi ofuscado por protestos, seu sobrinho – também chamado Jacob – tomou todos os cuidados para que a festa não atraísse a atenção alheia. The Intercept Brasil, porém, teve acesso a um vídeo e aos detalhes da celebração que, assim como a de Beatriz, foi realizada no Copacabana Palace.
É difícil estimar o preço de tanta ostentação, mas pessoas próximas aos noivos dizem que os gastos com a festa podem ter ficado entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. Enquanto isso, no mundo real do transporte público: apesar de todas as reclamações dos donos de empresas, os dados financeiros mais recentes divulgados pelas companhias que atuam na cidade do Rio, por exemplo, mostram que, de quatro consórcios que administram o sistema, o que teve pior desempenho lucrou R$ 2,973 milhões, de janeiro a abril deste ano. Os dados são de receita menos custo operacional. Ou seja, já dava para, ao menos, pagar um casamento.
Jacob Barata, o “rei do ônibus”, todo feliz no casamento do sobrinho.
reprodução/V Rebel
Apesar da tentativa de discrição, um relato bastante detalhado do evento do Copa, realizado no dia 17 de dezembro passado, foi publicada no site “Inesquecível casamento”. Jacob, de 23 anos, casou-se com a estudante Fernanda Vanzan, de 22. As principais atrações musicais da noite foram o cantor Thiaguinho e o Dream Team do Passinho. Também foi chamado o grupo “Violinos Mágicos de Murillo Loures”, formado por profissionais de quatro orquestras do Rio, como as Sinfônicas Petrobras e do Teatro Municipal.
Tanto as fotos da cerimônia na igreja quanto as da festa no Copacabana Palace mostram uma profusão de flores. Segundo o site, teriam sido usadas somente no salão do hotel cerca de 5 mil rosas inglesas individualmente espetadas por floristas, com o auxílio de andaimes. No varejo, uma flor como esta custa cerca de R$ 30 a unidade. Ou seja, só com os arranjos podem ter sido gastos até R$ 150 mil. Em média, vagas para motoristas de ônibus no Rio têm sido oferecidas com salários de até R$ 2,5 mil. Cinco anos de vencimentos de um profissional como este pagariam apenas as flores do matrimônio.
Convidados se divertem, em meio à chuva de papel prateado
reprodução/V Rebel
A organização ficou a cargo do cerimonialista Roberto Cohen, uma das figuras mais solicitadas para a realização de eventos na high society carioca. As madrinhas teriam recebido pulseiras de R$ 2 mil para usar no grande dia. Os padrinhos teriam ganhado uma garrafa de uísque Blue Label.
O vídeo, feito pela produtora V Rebel, tem pouco mais de cinco minutos e resume os momentos de felicidade do casal. Até o grande patriarca da família, Jacob Barata, aparece em ao menos duas cenas. As imagens mostram ainda outros detalhes como gaiolas com dançarinas, torre de champanhe e chuva de papel picado dourado. Difícil avaliar onde está o limite do bom gosto.
Um dos objetivos da decoração da festa era reproduzir um pedaço da região da Toscana, na Itália. O vestido da noiva tinha detalhes em flores. No cabelo, ela usou orquídeas. Mas um detalhe chama a atenção no noivo: segundo o “Inesquecível Casamento”, a inspiração de sua roupa, toda preta, foi no filme “O poderoso chefão”. Na vida real, com a cúpula das empresas de ônibus na cadeia, o momento parece ser de revés para a famiglia.
Temos uma oportunidade, e ela pode ser a última:
Colocar Bolsonaro e seus comparsas das Forças Armadas atrás das grades.
Ninguém foi punido pela ditadura militar, e isso abriu caminho para uma nova tentativa de golpe em 2023. Agora que os responsáveis por essa trama são réus no STF — pela primeira e única vez — temos a chance de quebrar esse ciclo de impunidade!
Estamos fazendo nossa parte para mudar a história, investigando e expondo essa organização criminosa — e seu apoio é essencial durante o julgamento!
Precisamos de 800 novos doadores mensais até o final de abril para seguir produzindo reportagens decisivas para impedir o domínio da máquina bilionária da extrema direita. É a sua chance de mudar a história!
Torne-se um doador do Intercept Brasil e garanta que Bolsonaro e sua gangue golpista não tenham outra chance de atacar nossos direitos.