A Coreia do Norte não vai tomar a iniciativa de atacar os Estados Unidos ou seu aliados com armas nucleares.
Para compreender isso, não é necessário conhecer a história das relações entre os dois países, o poder de destruição dos mísseis balísticos intercontinentais – ou sequer saber localizar a Coreia do Norte no mapa. Basta conhecer a história humana, que nos mostra que países pequenos, pobres e fracos não costumam atacar nações ricas, gigantescas e poderosas – principalmete aquelas capazes de pulverizá-los em questão de segundos.
Então o que é exatamente a “crise” norte-coreana?
A resposta é simples: os EUA não estão preocupados com uma possível agressão norte-coreana; o problema reside no fato de que uma Coreia do Norte com armas nucleares seria capaz de dissuadir os EUA de fazer o que bem entendesse – como invadir o país, por exemplo.
Em declarações na TV, os funcionários do governo americano dão a entender que o ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, pode simplesmente acordar um dia e convencer todos os membros da abjeta camarilha que governa o país a cometer suicídio coletivo. Entretanto, nos bastidores, em circulares e relatórios de think tanks, os especialistas da política externa americana já explicaram a questão de outra maneira em diversas ocasiões.
Um exemplo de lucidez pode ser encontrado em “Rebuilding America’s Defenses” (Reconstruindo as Defesas Americanas, em tradução livre), um influente artigo publicado pelo think tank Project for a New American Century. Segundo o documento, os EUA “devem contrapor-se aos efeitos da proliferação de mísseis balísticos e armas de destruição em massa, que em breve poderão permitir que Estados menores exerçam uma influência dissuasiva sobre o exército americano. (…) No mundo pós-Guerra Fria, em vez da União Soviética, os EUA e seus aliados se tornaram a principal ameaça à defesa de nações como Iraque, Irã e Coreia do Norte – os países que mais tentam desenvolver armamentos com poder dissuasão.”
E a teoria já foi colocada em prática: o Iraque e a Líbia desmantelaram seus armamentos não convencionais e foram invadidos, o que não deve ter passado despercebido para os governantes da Coreia do Norte – que já deixaram claro que não têm a menor intenção de compartilhar o destino de Saddam Hussein e Muammar Gaddafi.
Veja a seguinte comparação entre Estados Unidos e Coreia do Norte e responda à pergunta: “Qual dos dois países tem mais chances de atacar o outro?”
Mas isso não significa, é claro, que a posse de armas nucleares e mísseis de longo alcance pela Coreia do Norte seja algo positivo, muito pelo contrário. A Guerra Fria levou o mundo à beira da guerra nuclear –acidental ou não – em diversos momentos de grande tensão. Mas não há outra maneira de evitar que o mesmo aconteça com a Coreia do Norte a não ser o diálogo e o apaziguamento, sempre que possível.
Outra preocupação é o destino desse arsenal nuclear quando o regime norte-coreano finalmente ruir. Além disso, não é impossível que a Coreia do Norte tente vender uma de suas ogivas nucleares a grupos terroristas. Mas quanto a isso não há mais o que fazer; qualquer tentativa de eliminar esses riscos teria consequências ainda piores.
Deveríamos, portanto, nos concentrar no lado positivo: os EUA têm total capacidade de impedir um ataque nuclear norte-coreano – basta não ser o primeiro a atacar.
Foto do alto da página: Na estação de trem de Seul, na Coreia do Sul, uma mulher passa diante de um televisor durante a transmissão de um telejornal sobre a ameaça de ataque à ilha de Guam pela Coreia do Norte, em 10 de agosto de 2017.
Tradução: Bernardo Tonasse
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