As mudanças são uma constante em Brasília – a cidade onde nem as tatuagens são eternas. Políticos migram de uma legenda para outra, aliados se tornam traidores, pregadores da austeridade fiscal viram entusiastas de rombo nas contas, reformas profundas se transformam em uma forcinha para os amigos. Agora, ao que parece, a última moda é rebatizar partido.
A lógica é mais ou menos a seguinte: o sujeito tem o nome sujo na praça, mas, em vez de pagar as dívidas, acha mais fácil mudar de identidade. Por isso, caro leitor, vale redobrar a atenção com as novidades nas urnas em 2018.
O PTN, um dos partidos mais antigos do Brasil, com 72 anos, tornou-se Podemos; o PSL quer se chamar Livres; o PTdoB vai virar Avante e o PEN, Patriotas. Certo, soou como um alerta inútil porque quem, afinal, vota no PTN ou no PEN? Mas, enfim, vamos adiante.
Apesar de ter virado modinha, o fenômeno não é exatamente novo. O atual DEM, do ex-futuro presidente Rodrigo Maia, é seu exemplo mais famoso. Filhote da Arena, agremiação de apoio à ditadura militar, o partido nasceu como PFL e não parou de crescer. Nas eleições de 1998, emplacou 106 deputados, conquistando a maior bancada na Câmara.
A saída, como se sabe, passou longe da autocrítica ou de qualquer mudança ideológica. Em vez disso, resolveram mudar de nome.
Sempre confortável ao lado da situação, conseguiu administrar por décadas um invejável quadro de corruptos. Então, em 2003, os brasileiros elegeram Luiz Inácio Lula da Silva, e os pefelistas tiveram de se conformar com os incômodos sapatos da oposição, que eles já haviam calçado alguns meses antes, para lançar Roseana Sarney ao Planalto. Três anos depois, veio o baque: a sigla elegeu 65 deputados e apenas um governador.
A saída, como se sabe, passou longe da autocrítica ou de qualquer mudança ideológica. Em vez disso, resolveram mudar de nome. De PFL para Democratas. DEM, para os íntimos. O resultado não foi dos melhores. Os números continuaram caindo e, nas eleições de 2014, a legenda emplacou 22 deputados federais, bem longe de seu recorde histórico. Agora, além de manter Rodrigo Maia como lacaio de Michel Temer, o partido busca alguma outra solução. E, apesar dos resultados ruins na primeira tentativa, cogita mudar de nome outra vez. Até o momento, aparentemente, a melhor sugestão é… Atenção: Mude.
Chamar uma agremiação em crise existencial de Mude faz mais sentido do que batizar o filhote do único partido apoiador da ditadura militar de Democratas.
“Sério?”, perguntará o leitor inconformado. Aparentemente, sim. Mas, apesar de a princípio soar disparatada, no fim, talvez essa não seja a pior das ideias. Afinal, algum lastro de realidade seria bem-vindo na sopa de siglas e palavras desconexas dos nossos 35 partidos. Chamar uma agremiação em crise existencial de Mude faz mais sentido do que batizar o filhote do único partido apoiador da ditadura militar de Democratas. Ou continuar chamando a legenda que tem sido o maior empecilho a avanços na política nacional, símbolo de negociatas e traições, de Partido do Movimento Democrático Brasileiro.
O PMDB, aliás, também entrou na onda das mudanças. Mas, diferentemente do DEM, não achou necessário nada tão drástico. A ideia, debatida numa reunião de cúpula nesta quarta (16), está mais para peeling do que para remodelação completa: querem tirar só o P inicial.
Assim, acreditam os caciques abilolados, o povo olhará para o partido do “quadrilhão” e lembrará do MDB que fazia oposição à ditadura. “Sério?”, perguntará de novo o leitor inconformado. Aparentemente, sim. E não, não faz sentido. Porque hoje, nem se mudassem o nome do PMDB para Desculpem, os asseclas do Conde sairiam da lama dos 5%.
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