Enquanto vê o filho André Fufuca (PP-MA) ocupar a cadeira mais importante da Câmara pelos próximos oito dias, o pai e mentor na política do deputado, o atual prefeito da cidade de Alto Alegre do Pindaré (MA) Francisco Dantas Ribeiro Filho, o Fufuca Dantas, segue na mira da Justiça em seu estado. Foi publicada nesta segunda (28) uma decisão da juíza Rogéria Maria Castro Debelli, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), determinando o prosseguimento de uma ação penal contra o prefeito por crime de exploração de trabalho escravo.
O processo contra Fufuca Dantas começou a tramitar em abril de 2013, mas é relativo ao ano de 2005, quando equipes de fiscalização detectaram que funcionários de sua fazenda, a Piçarreira, em Alto Alegre do Pindaré, estariam em condições análogas ao trabalho escravo. A Justiça fez uma série de tentativas de notificar o acusado, sem sucesso, até que, em 2015, após ser citado por edital, ele se apresentou.
Por meio de seu advogado, Fufuca Dantas pediu para que o processo fosse declarado nulo e que fosse feita uma nova verificação na fazenda para que se constatasse que não havia nenhuma irregularidade. Em junho de 2015, o juiz Roberto Carvalho Veloso, da 2ª Vara Federal Criminal do Maranhão, negou o pedido alegando que “a prova, uma vez produzida, não tem como ser novamente coletada”.
O caso vinha tramitando na Justiça Federal do Maranhão, mas, por questão de foro, teve que ser encaminhado ao TRF-1, após a eleição de Fufuca Dantas para a prefeitura de Alto Alegre do Pindaré. A Procuradoria Geral da República (PGR) também opinou pelo prosseguimento da ação, que vinha sendo conduzida pelo MPF no Maranhão.
Fufuca Dantas não foi encontrado nas tentativas de contato telefônico.
Fufuquinha no lugar de Fufuca
A proximidade entre o pai e o presidente interino da Câmara é evidente. Com apenas 20 anos, André Fufuca ingressou na política em 2010, pelo PSDB, ao se candidatar e ser eleito deputado estadual após a desistência de Fufuca Dantas de concorrer ao cargo. Ele teve o seu registro de candidatura cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) por causa de problemas na prestação de contas em uma passagem anterior pela prefeitura de Alto Alegre do Pindaré.
Naquele ano, o pai colaborou em R$ 63,9 mil para a campanha de André Fufuca com cinco depósitos, sendo um dos maiores doadores de sua campanha. Ao todo, foram arrecadados R$ 393,5 mil. O presidente interino da Câmara declarou não possuir nenhum bem na prestação de contas daquela época.
Já nas eleições de 2014, Fufuca Dantas colaborou com R$ 10 mil para a campanha do filho. Ao todo, o presidente interino da Câmara arrecadou R$ 268,7 mil naquele ano. O deputado informou desta vez à Justiça Eleitoral ter o equivalente a R$ 160,6 mil em bens: um carro no valor de R$ 78,6 mil; R$ 42 mil em espécie e um terreno de 400 hectares na cidade de Alto Alegre do Pindaré, onde o pai é prefeito, no valor de R$ 40 mil.
No último dia dos pais, André Fufuca fez uma homenagem a Fufuca Dantas. Ele postou uma foto no Instagram ressaltando o apoio recebido em sua carreira: “Um amigo, irmão, conselheiro, torcedor e incentivador. Se hoje ando com minhas próprias pernas, é porque muita das vezes, foi com suas pernas que andei”.
Apadrinhado de Cunha
O deputado foi eleito em 2014 pelo PEN, mas está atualmente no PP, partido que o levou a assumir o cargo de 2º vice-presidente da Câmara. Ele chega ao posto principal da Casa com a viagem de Michel Temer à China, porque o 1º vice, Fábio Ramalho (PMDB-MG), que seria naturalmente quem assumiria pela linha sucessória com a saída de Rodrigo Maia para a presidência interina da República, também foi convidado para a viagem.
Por ingressar na política bastante jovem, André Fufuca ganhou o apelido de “Menudo” no início da carreira. Ao chegar na Câmara dos Deputados, ganhou projeção na Casa, graças ao apadrinhamento do ex-presidente Eduardo Cunha, atualmente preso em decorrência da Operação Lava Jato. Nas votações, tem se mostrado alinhado com o atual governo, tendo sido a favor do impeachment de Dilma Rousseff e contra o prosseguimento da denúncia contra Michel Temer por corrupção passiva.
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