SÃO PAULO, SP, 26.03.2017: TROFÉU-CAMPEÕES - Troféu dos Campeões da Copa do Mundo FIFA 2018, que chegou ao Brasil e fica exposto no parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo. (Foto: Marcelo D. Sants/FramePhoto/Folhapress)

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Fifagate: Comissão do Senado vai debater denúncias de que TV Globo pagou propina para garantir direitos de transmissão

Senador Lindbergh Farias, autor do requerimento, ameaça retaliar com criação de CPI se emissora se recusar a comparecer à audiência.

SÃO PAULO, SP, 26.03.2017: TROFÉU-CAMPEÕES - Troféu dos Campeões da Copa do Mundo FIFA 2018, que chegou ao Brasil e fica exposto no parque Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo. (Foto: Marcelo D. Sants/FramePhoto/Folhapress)

O Senado quer ouvir a Rede Globo sobre as acusações de pagamento de propina para obter os direitos exclusivos de transmissão de jogos de grandes torneios de futebol – entre eles, as Copas do Mundo de 2026 e 2030. Na última terça (28), a Comissão de Ciência e Tecnologia (CTT) da Casa aprovou um requerimento do senador Lindbergh Farias (PT/RJ) para realizar uma audiência pública sobre as denúncias que pesam contra o conglomerado de mídia.

Conhecido como Fifagate, o esquema de corrupção envolvendo a federação internacional e outras federações de futebol está sendo investigado por autoridades americanas. Em delação premiada, negociada com a justiça estadunidense, o empresário argentino Alejandro Burzaco, ex-diretor da empresa de eventos esportivos Torneos y Competencias (TyC), disse que a Globo pagou propinas para conseguir direitos de transmissão das copas Libertadores da América e Sulamericana. O delator não detalhou valores, mas indicou que o dinheiro teria sido destinado a altos executivos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), responsável pelos torneios continentais.

O empresário afirma ainda que a Rede Globo pagou, junto com a TyC e o conglomerado mexicano Televisa, US$ 15 milhões para garantir os direitos de transmissão das Copas do Mundo de 2026 e 2030. Trechos dos depoimentos de Buzarco foram veiculados pelo Jornal Nacional e outros veículos do próprio Grupo Globo:

 

Promotor: O senhor participou de outras reuniões em Zurique?

Alejandro Burzaco: Sim. A Torneos y Competencias tinha uma aliança com a TV Globo e com a Televisa. Elas tentavam adquirir da Fifa direitos de transmissão de TV, rádio e internet paras as Copas de 2026 e 2030. Com exclusividade para o Brasil, no caso da Globo, e para o resto da América Latina, no caso da Televisa.

Promotor: Adquiriram esses direitos?

Alejandro Burzaco: Sim

Promotor: Qual foi o acordo para adquirir esses direitos?

Alejandro Burzaco: Entre os três parceiros, concordaram em dividir o pagamento de US$ 15 milhões para Júlio Grondona.

Promotor: Quais eram os parceiros da Torneos? Alejandro Burzaco: TV Globo e Televisa. Promotor: O valor acordado foi pago?

Alejandro Burzaco: Sim, US$ 15 milhões. O dinheiro acabou numa conta num banco na Suíça em nome de Júlio”.

 

O requerimento aprovado no Senado para a realização de audiência pública inclui convites ao ex-executivo da emissora responsável por negociar direitos esportivos, Marcelo Campos Pinto, um representante da Rede Globo e um representante do Ministério Público Federal. Para Lindbergh, autor do requerimento, o envolvimento da emissora em um escândalo de proporções internacionais merece investigação rigorosa. O parlamentar afirma que estuda a possibilidade de recolher assinaturas para a criação de uma CPI sobre o caso se a Globo decidir não participar do debate no Senado.

The Intercept Brasil entrou em contato com a TV Globo para saber se a emissora pretende enviar representantes à audiência, mas não obteve resposta até a conclusão desta reportagem.

PGR pede investigação contra Globo

Na semana passada, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, enviou uma denúncia contra a Rede Globo ao Ministério Público Federal do Rio de Janeiro. O documento tem como base representações assinadas pelo PSOL, PT e PDT, que usaram trechos do depoimento de Buzarco às autoridades americanas.

O Ministério Público Federal do Rio informou a The Intercept Brasil que a representação contra a Rede Globo já está no setor jurídico responsável pela distribuição e designação de procurador. O MPF informa ainda que prestará mais informações depois que o caso for atribuído a um procurador, e que este emitir um parecer sobre a denúncia.

Esses mesmos partidos também entraram com uma representação no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) acusando a emissora de ferir a lei de Defesa da Concorrência no caso Fifa. A representação solicita investigação de possíveis crimes cometidos pela Globo e recomenda ao Ministério da Ciência e Tecnologia que casse a concessão da TV caso ela seja julgada culpada por infringir a Lei Geral de Telecomunicações.

NEW YORK, EUA, 06.11.2017 - MARIN-EUA - O ex-presidente da CBF José Maria Marin é visto deixando Tribunal Federal do Brooklyn em New York, após o primeiro dia do seu  julgamento diante da Justiça dos Estados Unidos nesta segunga-feira, 06, . Marin está sendo julgado no "Caso Fifa", maior investigação sobre corrupção na história do futebol, que derrubou os dirigentes e empresários de marketing esportivo que mandavam havia décadas no futebol latino-americano e recuperou quase US$ 200 milhões em dinheiro desviado. Marin é acusado de sete crimes: três de fraude, três de lavagem de dinheiro e mais um por integrar uma organização criminosa. Ele nega todas as acusações e afirma ser inocente. (Foto: Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress)

O ex-presidente da CBF José Maria Marin na saída do primeiro dia de seu julgamento no “Caso Fifa”, no Tribunal Federal do Brooklyn em New York. Ele é acusado de fraude, lavagem de dinheiro e integração organização criminosa, e nega todas as acusações.

Cartolas na mira da justiça dos EUA

Além da Rede Globo, que nega irregularidades, o delator também implicou dois ex-presidentes da CBF, José Maria Marin e o atual mandatário, Marco Polo Del Nero. O primeiro está em prisão domiciliar nos Estados Unidos há mais de um ano, pois já responde a processo nos EUA por suposta participação em esquema de corrupção envolvendo empresas de marketing e a CBF. O delator afirma que cada um dos três dirigentes teria  recebido, de 2006 a 2015, até US$ 1 milhão (aproximadamente R$ 3,3 milhões) por campeonato cujos direitos de transmissão negociavam.

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