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Pela culatra: drones, golpes e invasões só geram mais violência

No primeiro de uma série de seis vídeos sobre a política externa americana, Mehdi Hasan mostra como ataques com drones criam mais inimigos do que matam.

Pela culatra: drones, golpes e invasões só geram mais violência

Para toda ação, há uma reação oposta e de igual intensidade. Costumamos chamar esse fenômeno de Terceira Lei de Newton.

A CIA chama isso de blowback.

Como explicou Chalmers Johnson, ex-consultor da CIA e historiador que estudou a fundo o imperialismo americano, após os atentados de 11 de setembro de 2001, blowback é “uma metáfora para as consequências inesperadas de atividades do governo dos EUA no plano internacional que são desconhecidas pelo povo americano”. Em bom português, poderíamos falar em “efeito bumerangue” ou no “tiro que saiu pela culatra”.

Os EUA e seus aliados intervêm frequentemente em conflitos distantes, principalmente nos países de maioria muçulmana do Oriente Médio – jogam-se algumas bombas, matam-se alguns “vilões” e declara-se “missão cumprida”. Mas o resultado é sempre o mesmo: mais conflito e derramamento de sangue no futuro – muitas vezes até em território americano. “Dados históricos mostram uma forte correlação entre o envolvimento americano em questões internacionais e o aumento dos atentados terroristas contra os EUA”, já observava, em 1997, a Comissão de Ciência da Defesa do Pentágono.

Porém os políticos americanos e ocidentais preferem ignorar esses dados e essa correlação. Explicam os atentados como atos “aleatórios”, “irracionais” e – talvez o adjetivo mais desonesto de todos – “gratuitos”. O povo, sem conhecimento das operações secretas realizadas pelo exército e os serviços de inteligência dos EUA – ou desinformado sobre a brutalidade das guerras declaradas em seu nome –, costuma acreditar na fantasia de um país inocente odiado e atacado por hordas de muçulmanos enlouquecidos.

Em uma série de curtas-metragens produzidos para The Intercept, faço uma análise mais detalhada dos principais exemplos de blowback, começando pela questão dos ataques com drones da CIA e demonstrando como a política externa dos EUA e seus aliados muitas vezes produz efeitos indesejados.

Um exemplo disso é a ascensão do aiatolá Khomeini e a explosão do antiamericanismo iraniano no fim dos anos 1970. Como observou o senador Bernie Sanders – logo ele – em um debate entre os pré-candidatos do Partido Democrata à presidência dos EUA, em 2016, poucos americanos sabem que a Revolução Islâmica de 1979 contra a ditadura do xá Reza Pahlevi foi um blowback de um golpe de estado orquestrado pela CIA em 1953, que derrubara o então primeiro-ministro eleito do Irã, Mohamed Mossadegh. Aliás, o termo blowback foi cunhado pela CIA em referência a esse episódio.

“Todo agente da CIA envolvido nesse tipo de operação deve sempre ter em mente a possibilidade de blowback contra os EUA. Nenhum outro tipo de operação é tão explosivo quanto esse”, alerta um relatório de crítica interna da CIA sobre o golpe de 1953. Entretanto, a agência e seus superiores políticos não parecem ter aprendido a lição. O sucesso de curto prazo do golpe – organizado pela CIA seis anos após a sua criação, no governo de Harry Truman – incentivou políticos e espiões a embarcar em uma série de operações secretas (nem tão secretas assim), muitas das quais acabaram tendo consequências nefastas para os EUA no longo prazo.

No fim da década de 1980, a CIA injetou milhões de dólares – e milhares de mísseis Stinger – no Afeganistão para apoiar a “jihad” contra a União Soviética. Muitos daqueles combatentes financiados e armados pelos EUA se tornariam, mais tarde, os talibãs de Mulá Omar ou os terroristas da Al Qaeda de Bin Laden, direcionando sua jihad contra o Ocidente. Um belo tiro pela culatra, não?

Existem muitos outros exemplos além do Afeganistão e de Bin Laden. Os ataques com drones, por exemplo. Tanto George W. Bush quanto Barack Obama se serviram deles no Paquistão como parte de sua estratégia antiterror, sem levar em conta o quanto “os ataques com drones são odiados visceralmente, mesmo por pessoas que nunca os presenciaram ou testemunharam seus efeitos”, para citar um importante general do exército dos EUA, Stanley McChrystal. Terroristas como Faisal Shahzad, Umar Farouk Abdulmutallab e Dzhokhar Tsarnaev incluíram as vítimas civis dos bombardeios com drones em sua ladainha de invectivas antiamericanas. Outro belo tiro pela culatra, não?

Em 2003, os EUA invadiram e ocuparam o Iraque, matando centenas de milhares de pessoas; desmantelaram o exército iraquiano da noite para o dia e atiraram contra manifestantes pacíficos; torturaram e radicalizaram prisioneiros em centros de detenção construídos por Saddam Hussein… E depois ficam surpresos com o aparecimento do Estado Islâmico? Tiro pela culatra.

Os aliados dos EUA também dão mostras de miopia política e comportamento autodestrutivo. Egípcios e jordanianos torturaram homens como Ayman al-Zawahiri e Abu Musab al-Zarqawi, na tentativa de subjugá-los. Não funcionou – muito pelo contrário: Zawahiri ajudou Bin Laden a criar a Al Qaeda, e Zarqawi fundou a organização precursora do Estado Islâmico. Mais um que saiu pela culatra.

Nas décadas de 1970 e 1980, Israel apoiou e financiou os islamistas palestinos que mais tarde formariam o Hamas. Era uma tentativa de dividir e conquistar os palestinos e, principalmente, enfraquecer o Fatah, movimento laico de Yasser Arafat. Desde os anos 1990, porém, o Hamas já matou muito mais civis israelenses do que Arafat e o Fatah. Um autêntico blowback, não?

Em 2011, o governo britânico liderou a derrubada de Muamar Khadafi, então ditador da Líbia, fornecendo apoio a rebeldes jihadistas e fazendo vista grossa para o fato de que jovens britânicos revoltados estavam se juntando aos islamistas. Um deles, um britânico de origem líbia de 23 anos chamado Salman Abedi, que teria entrado em contato com soldados do Estado Islâmico em meio ao caos do pós-guerra na Líbia, voltou ao Reino Unido e detonou uma bomba em um show em Manchester, matando 22 pessoas. Mais um tiro pela culatra.

Esses seis filmes pretendem demonstrar que não podemos bombardear, matar, invadir, ocupar e torturar sem que haja uma reação, uma retaliação, um blowback. Também não podemos armar e financiar grupos extremistas, usando-os para combater o “inimigo oficial”, e esperar que eles não se voltem contra nós ou nossos aliados algum dia. Toda ação tem consequências. Ou, como disse Isaac Newton, toda ação gera uma reação.

Atualmente, a necessidade de reconhecer e lidar com a questão do blowback é ainda mais urgente, pois o governo Trump está intensificando todos os conflitos herdados da gestão Obama. Ataques com drones? Aumentaram. Bombas no Afeganistão? Mais destrutivas. Mortes de civis iraquianos e sírios em bombardeios aéreos? Mais numerosas.

Quer Trump seja mesmo clinicamente louco ou não, sua política externa – assim como a de seus antecessores democratas e republicanos – é a própria definição da loucura: fazer repetidamente a mesma coisa esperando resultados diferentes.

Será que algum dia eles vão aprender? Ou será que vão continuar nos colocando em perigo?

No próximo episódio: Estado Islâmico e blowback.

Tradução: Bernardo Tonasse.

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