O governo federal declarou intervenção militar na segurança do estado do Rio de Janeiro até o final do ano. Diz o decreto, apresentado nesta sexta-feira: “O objetivo da intervenção é pôr termo a grave comprometimento da ordem pública no Estado do Rio de Janeiro.” Trocando em miúdos: combater o que a imprensa vem chamando de “guerra” e “onda de violência” no Rio.
“Onda de violência” esta que é pior hoje em Sergipe, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pará, Amapá, Pernambuco, Bahia, Goiás e Ceará, de acordo com os dados do 11º Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que utilizou dados de 2016, os últimos disponíveis. Mas você não age onde não rende notícia.
A grandes redações se concentram no eixo Rio-São Paulo-Brasília, como o revelado pelo Atlas da Notícia, publicado no fim de 2017. Não é a toa que são os lugares sobre quais mais sabemos – e que parecem piores quando o assunto é violência.
Já está repetitivo falar isso, mas o que acontece no Rio hoje é o resultado de corrupção e mau planejamento, somados a falta de investimentos em pessoal e inteligência, descaso histórico – e complacente – e uma desigualdade social galopante.
Mas a aposta continua sendo em soluções plásticas e descoordenadas. O plano de segurança prometido diversas vezes por ministros e pelo governador nunca chegou. A decisão de intervir no estado foi tomada pela União mesmo depois de o governador ter pedido medida menos drástica. O Comando Militar do Leste não sabia da decisão até os 45 do segundo tempo. O Secretário de Segurança não foi consultado.
A Câmara votará o decreto de intervenção federal na próxima segunda. A medida foi assinada nesta sexta pelo presidente da República, Michel Temer, por Pezão e pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Todos notórios personagens de atos de corrupção. Passaram um ano esperando dar mais merda para então apresentar uma solução “mágica”.
A falta de segurança é uma estratégia para quem vive de vender soluções. O Rio de Janeiro tem uma complexidade territorial e cultural peculiar, o Exército não tem poder de Polícia, não pode investigar crimes de civis. Por outro lado, militares que cometerem crimes durante sua atuação serão julgados por seus pares.
Se observarmos o total de apreensões de drogas feitas no Rio de Janeiro entre 2010 e 2016 é possível ver claramente a falta de planejamento: mais de 90% correspondem a pequenas quantidades. Em 2015, foram mais de 28 mil registros – 50% corresponde a uma média de 10 gramas por pessoa. Em vez de focar em grandes apreensões, a política de segurança se empenha em “respostas imediatas”, desperdiçando recursos e colocando policiais dentro das favelas pra matar e morrer por tão pouco.
A vida destas pessoas não pode ser reduzida a isso. O único projeto de segurança do Rio, as UPPs, faliu há anos e ainda não foi reformulado. O próprio ministro da segurança já disse mais de uma vez que falta planejamento por parte da Secretaria de Segurança Pública para a atuação das tropas. Já que o intuito é apostar na falida guerra às drogas: o Exército tem desempenhado sua função primária de cuidar das fronteiras, evitando que armas e drogas cheguem ao Rio?
Como atacar os efeitos e não as causas? Quem realmente vai ganhar com isso? Por enquanto nenhuma surpresa.
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