Paulinelly Carneiro

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

Condenado por comprar cola de exame da OAB faz carreira como vereador

Ministério Público pede a confirmação da condenação de Paulinelly Carneiro e de outros réus da Operação “Passando a Limpo” no Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Paulinelly Carneiro

Sentado numa carteira escolar em Goiás, em dezembro de 2006, Paulinelly Carneiro recebeu um papel da fiscal da primeira etapa do exame da OAB. Era o gabarito da prova. Carneiro passou graças à cola, mas foi eliminado na segunda etapa, um teste discursivo feito em abril de 2007 – ele tirou zero. A tentativa mal-sucedida de virar advogado foi descoberta pela Polícia Federal e fez o candidato ser condenado em primeira instância a três anos de prisão pela compra das respostas. Onze anos depois, respondendo ao processo em liberdade, Carneiro tem uma carreira promissora. Não nos tribunais, mas na política. Está no segundo mandato de vereador, em Rialma (GO), e quer tentar um terceiro.

paulinelly-carneiro-perfil-1519169094

Paulinelly Carneiro

Foto: Câmara Municipal de Rialma

“Fui eleito no primeiro mandato e, mesmo com essa denúncia aí, estou no segundo”, afirmou ele. “Se for para entrar no terceiro mandato, bem. Se não for, não dependo de política para viver”, afirma o vereador, que diz ainda que irá tentar novamente este ano ser aprovado na OAB.

Carneiro conquistou as vagas na Câmara da cidade do interior goiano impulsionado por dois slogans emblemáticos – “Certeza de mudança” (2012) e “É possível mudar a história” (2016 ). Mas isso não apagou o passado, e agora ele precisa mais uma vez lembrar daquele papel, repassado como se fosse um bilhete: o Ministério Público está pedindo a confirmação da condenação dele e de outro réu em uma das 18 ações penais da Operação Passando a Limpo, deflagrada em 2007 pela Polícia Federal.

Até R$ 15 mil por gabarito

Além de grampos telefônicos, a PF apreendeu com os aliciadores – os vendedores dos gabaritos – listas com os nomes dos candidatos, as salas em que fariam as provas, alguns valores e as anotações “PG”, que o Ministério Público considerou abreviatura de “pago”. Segundo os investigadores, uma grande quadrilha fraudou o teste da OAB de 2006 cobrando até R$ 15 mil por cada gabarito.

Em uma das sentenças do caso, o juiz Eduardo Ribeiro destaca anotação da Procuradoria sobre o “despreparo técnico” de Carneiro e outros seis réus. “Mesmo participando das fraudes, com revelação antecipada das questões da prova prática, ou, ainda com a substituição da prova por outras contrafeitas pelos candidatos, não alcançaram a nota necessária para a aprovação”, descreveu o magistrado da 5a Vara Federal de Goiânia.

Carneiro foi condenado em primeira instância por corrupção ativa a três anos de prisão em 2016– ficou isento de pagar as custas do processo por conseguir o benefício da Justiça gratuita.

Trecho das alegações finais do MPF em processo envolvendo Paulinelly Carneiro

Trecho de documento do Ministério Público Federal mostra o nome de Paulinelly Carneiro em anotações de fraudadores.

Reprodução

Alguns desses documentos mostram o nome de Carneiro. Em juízo, ele admitiu que uma pessoa lhe propôs a aprovação no exame da Ordem e, em seguida, telefonou para uma acusada de ser aliciadora. Isso chamou a atenção do Ministério Público, ao pedir a condenação dele e dos demais réus.

“Surpresa” com o gabarito

No pedido de condenação em segunda instância, o procurador regional da República Vladimir Aras destacou uma alegada “surpresa” do réu com o recebimento do gabarito.

“Carneiro admitiu que realmente recebeu proposta de aprovação pelo réu Marcelo, que lhe passou o telefone de Rosa (também ré). Além disso, confessou que recebeu um papel da fiscal de sala com o gabarito, mas que teria ficado ‘surpreso’ com isso”, argumentou o procurador no Tribunal Regional Federal.

Carneiro diz que confia na Justiça e que a situação vai se reverter: “Eu vou  mostrar que houve erros no processo.”

“Aqui no interior a gente trabalha demais, eu faço política todo dia, é mais difícil você estudar.”

Ele não teme efeitos da Lei da Ficha Limpa, que proíbe políticos de se candidatarem quando condenados por crimes graves por mais de um juiz porque afirma que sua pena não o obriga a ficar em regime fechado de prisão. A Ficha Limpa, no entanto, pode barrar candidaturas mesmo que o condenado cumpra pena em regime aberto.

O vereador afirma que depois da Operação da PF, em 2007, tentou de novo ser aprovado no exame da OAB ao menos uma vez, mas não conseguiu. Passadas as eleições de 2018, ele afirma que vai fazer um novo teste no ano que vem.

“Aqui no interior a gente trabalha demais, eu faço política todo dia, é mais difícil você estudar. Depois que passar as eleições, vou fazer o exame da Ordem.”

Você sabia que...

O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?

Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.

Podemos contar com você por R$ 20 por mês?

APOIE O INTERCEPT

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar