A principal agência responsável por conceder cidadania americana está promovendo uma importante alteração à sua declaração de missão, ao remover o trecho que descreve os Estados Unidos como uma nação de imigrantes. O diretor do Serviço de Cidadania e Imigração (USCIS) dos EUA, L. Francis Cissna, anunciou na quinta-feira, em um e-mail para funcionários da agência a que The Intercept teve acesso, o novo texto:
O Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA administra o sistema de imigração legal do país, protegendo sua integridade e sua promessa ao analisar de forma justa e eficiente os pedidos de benefícios de imigração, ao mesmo tempo protegendo os cidadãos americanos, promovendo a segurança doméstica e honrando nossos valores.
A redação anterior, ainda disponível no site da agência, dizia:
O USCIS defende a promessa da América como uma nação de imigrantes, fornecendo informações úteis e precisas aos nossos clientes, concedendo benefícios de imigração e cidadania, promovendo a consciência e a compreensão da cidadania e assegurando a integridade do nosso sistema de imigração.
Cissna ainda acrescentou: “Creio que essa declaração simples e direta de nossa missão define o papel da agência no sistema de imigração legal do país e o compromisso que temos com o povo dos EUA”. O diretor destacou, especificamente, a remoção do termo “clientes” do texto, argumentando que a palavra passava a impressão errada.
“O que fazemos no USCIS é tão importante para o país, tão relevante para os candidatos e requerentes, é um trabalho às vezes tão complicado, que nunca deveríamos permitir que fosse considerado uma mera linha de produção ou mesmo que fosse descrito em termos comerciais ou de negócios”, escreveu Cissna. “Em especial, ao nos referirmos aos candidatos e requerentes dos benefícios de imigração e aos beneficiários de tais requisições como ‘clientes’, promovemos uma cultura institucional que enfatiza a satisfação definitiva dos candidatos e requerentes, a despeito da apreciação correta de suas requisições nos termos da lei.” De forma crítica, Cissna declarou também que o “uso do termo leva à crença equivocada de que servimos em primeiro lugar aos candidatos e requerentes, não ao povo norte-americano”.
“Todos os candidatos e requerentes devem ser tratados sempre com o maior respeito e cortesia, sem dúvida, mas não podemos nos esquecer de que servimos ao povo americano”, escreveu o diretor. Segundo um funcionário de alto escalão do serviço, que deu entrevista a The Intercept sob a condição de anonimato, já que não está autorizado a falar com a imprensa, “embora o texto não o diga expressamente, o significado é que eles não são clientes, são estrangeiros”.
O USCIS não respondeu de imediato aos pedidos de esclarecimentos.
No passado, os serviços prestados pelo USCIS eram atribuição do Serviço de Imigração e Naturalização (INS). A mudança do INS para o USCIS, disse este mesmo funcionário sob condição de anonimato, deveu-se em parte a um esforço para “acabar com aquela imagem de que as pessoas deviam ter medo de nós. Queríamos que se sentissem confortáveis para nos procurar e saber que poderiam ter um processo justo, que éramos diferentes da ICE [Polícia de Imigração e Alfândega dos EUA] e da CBP [agência de Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA]”. Quando perguntamos se estavam surpresos com a mudança, que retira uma expressão que muitos consideram um princípio basilar do país, o funcionário respondeu: “Não, mas estamos decepcionados”.
“É um passo para trás”, disse.
Atualização (em 22 de fevereiro):
Jonathan Withington, chefe de Relações com a Mídia do USCIS, informou em uma declaração escrita enviada a The Intercept que o novo texto da missão da agência tem “efetividade imediata”. Indagado se o USCIS teria mudado sua visão sobre os Estados Unidos serem uma nação de imigrantes, Withington escreveu: “A declaração fala por si só e define claramente o papel da agência na imigração legal em nosso país e o nosso compromisso com o povo americano”.
Tradução: Deborah Leão.
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