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A Noruega tem um problema com a Amazônia

Uma investigação do The Intercept Brasil mostra que o governo norueguês tem interesses em liberar a mineração na Renca.

PARU, PA, BRASIL, 10.09.2017 – Garimpo de barranco clandestino dentro da Floresta Estadual (Flota) do Paru (PA), localizada dentro da ?°rea da Renca (Reserva Nacional de Cobre e Associados). (Foto: Lalo de Almeida/Folhapress)

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Lalo de Almeida/Folhapress

Na semana passada, uma empresa controlada pelo governo da Noruega foi acusada de usar um duto clandestino para se livrar de rejeitos tóxicos no Pará. Não é a primeira vez que o país atenta contra a Amazônia. Uma investigação do The Intercept Brasil mostra que o governo norueguês – através de um fundo de pensão administrado pelo Norges Bank – é sócio da Companhia de Ferro Ligas da Bahia, uma das mineradoras que comemoraram o decreto assinado por Michel Temer no ano passado liberando a exploração da Renca.

A Ferbasa, como é conhecida, é uma das principais empresas com pedidos abertos para explorar a Reserva Nacional de Cobre e Seus Associados. A Noruega investiu ao menos 76 milhões de reais em 2014 pra comprar uma fatia da mineradora. No ano passado, o Norges Bank esteve presente na assembleia geral da empresa, no Brasil. Para engordar a pensão dos noruegueses, uma área amazônica colossal que engloba nove reservas protegidas seria ameaçada (Temer recuou depois de muita pressão, mas entidades ambientais sabem que a proposta pode voltar).

A história tem contornos agravantes.

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Por causa do aumento do desmatamento no Brasil, a Noruega reduziu pela metade o valor repassado ao Fundo da Amazônia, um projeto de combate ao corte de árvores. Uma punição ao desleixo brasileiro com a floresta. Isso foi em junho passado. Dois meses depois, o decreto que liberou minerar na Renca – e que beneficiaria os noruegueses justamente aumentando o desmatamento – foi assinado.

Mais: o fundo de pensão do governo da Noruega diz não investir em empresas anti-éticas. Em 2010, por exemplo, eles pularam fora da tabagista brasileira Souza Cruz. Mas a Ferbasa tem problemas além da Renca. Ela foi condenada pelo Tribunal Regional do Trabalho da Bahia por terceirização ilícita em plantações de eucalipto – trabalhadores ganhavam menos, trabalhavam mais e estavam mais sujeitos a acidentes do que os funcionários registrados. A condenação pegou oito diretores por responsabilidade solidária.

A Ferbasa também andou se complicando na bolsa. Ela foi multada por negociar ações indevidamente, mesmo depois de ter sido avisada de que não poderia fazê-lo. Um de seus diretores foi afastado do mercado por dois anos.

O dinheiro norueguês que detém parte da Ferbasa tem uma missão bonita. Há uma frase em seu material gráfico: “O Fundo Global de Pensões do Governo está economizando para as gerações futuras da Noruega. Um dia, o petróleo acabará, mas o retorno do fundo continuará beneficiando a população norueguesa.” A Amazônia que aguente.

Leandro Demori escreve todos os sábados exclusivamente na newsletter do The Intercept Brasil. Este texto foi publicado na mais recente edição. Clique aqui para assinar.

Em destaque: Garimpo clandestino, em setembro de 2017, na Floresta Estadual do Paru, no Pará, dentro da área da Renca. Foto: Lalo de Almeida/Folhapress.

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Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.

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