Vídeo por Anna Giralt Gris e Ross Domoney
O movimento pela independência da Catalunha permanece estagnado, seis meses depois que milhões de catalães desafiaram ameaças jurídicas e violência física do Estado espanhol para participar de um plebiscito sobre a secessão, organizado pelo governo regional.
Que mais de 2 milhões de pessoas tenham conseguido depositar seus votos no plebiscito de 1º de outubro a despeito das imagens aterrorizantes que circularam pelas redes sociais, de policiais espanhóis invadindo os locais de votação e espancando os eleitores, ilustra de forma dramática o profundo anseio de muitos catalães pela independência. Por outro lado, os separatistas que pretendiam tornar vinculante o resultado do plebiscito consideraram uma derrota desanimadora que mais de metade dos eleitores da Catalunha tenham preferido se manter longe do caos das votações.
Para os estrangeiros que assistiram de longe o desenrolar do drama, foi (e permanece) chocante o uso da força pelas autoridades espanholas para minar a legitimidade do plebiscito; a brutalidade da ação policial concedeu ao movimento pela independência uma breve vitória de relações públicas. Seguiu-se um embate político tenso e confuso: o governo regional foi dissolvido pelo governo central, os líderes separatistas foram presos ou fugiram para o exílio, e a convocação de eleições para um novo governo da Catalunha não conseguiu desfazer o impasse. As consequências foram mais difíceis de compreender, em uma perspectiva humana, do que o próprio plebiscito.
É isso que torna tão importante o novo documentário da produtora Field of Vision, “44 mensagens da Catalunha”. Os cineastas Anna Giralt Gris e Ross Domoney oferecem imagens belamente captadas da crise em pleno desenvolvimento, juntamente com fragmentos do diálogo público nas ruas de Barcelona, nos protestos, nas estações de trem e nos salões de cabeleireiro. As 44 mensagens que constituem o foco do filme, no entanto, vêm de conversas que aconteceram longe dos olhos e ouvidos do público: no silêncio das conversas privadas no aplicativo WhatsApp.
À medida que os eventos se desenrolam, desde o começo da manhã do plebiscito enquanto os separatistas escondiam as urnas da polícia, os espectadores ganham acesso ao drama em um nível mais pessoal e emocional. Vemos mensagens de texto entre familiares ansiosamente perguntando sobre a segurança uns dos outros, e entre amigos e vizinhos em pontos opostos do espectro político, envolvidos em debates acalorados.
A última mensagem – uma mensagem de texto privada enviada pelo presidente catalão exilado, Carles Puigdemont, para um de seu ex-ministros, que foi obtida por uma emissora espanhola em janeiro – revela que mesmo um dos protagonistas do drama expressou, privadamente, dúvidas sobre as chances de que a independência aconteça em um momento próximo. “Imagino que você entenda que agora acabou”, escreveu Puigdemont, quando fracassou a tentativa de conseguir uma recondução durante seu exílio na Bélgica.
#LoMásLeído: ANÁLISIS. ¿Cómo fue tan descuidado Comín? ¿La 'pillada' de sus mensajes no formará parte de una estrategia para posicionar a Puigdemont como un mártir? https://t.co/qvuiLLgpSO pic.twitter.com/uG9DF5cCjD
— prnoticias (@prnoticias) February 3, 2018
As mensagens de um celular a outro acabariam se tornando parte importante do drama físico que se desenrolava entre catalães e espanhóis. Essa semana, depois da prisão de Puigdemont na Alemanha, em decorrência de um mandado de prisão que o acusava de “rebelião”, o Centro de Inteligência Nacional da Espanha informou aos jornalistas que havia rastreado o paradeiro do separatista grampeando o serviço de geolocalização do telefone de seu companheiro de viagem.
Tradução: Bernardo Tonasse e Deborah Leão
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