As ligações telefônicas e trocas de mensagens feitas por alguns vereadores da Câmara do Rio de Janeiro no dia do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes estão sendo investigadas pela Divisão de Homicídios da Polícia Civil. Após a identificação do número de celular do motorista do carro usado no crime, os investigadores conseguiram na Justiça a quebra do sigilo de outros aparelhos, inclusive de integrantes do Legislativo carioca, para apurar algum possível contato nas horas próximas à execução.
Ao todo, oito vereadores já foram ouvidos pela polícia, todos, porém, na condição de testemunhas. Nesta quinta-feira, Jair Barbosa Tavares, o Zico Bacana (PHS), prestou depoimento para explicar o motivo da visita em seu gabinete, no sétimo andar da Câmara, de três homens horas antes do crime – entre eles, um ex-PM indiciado na CPI das Milícias na qual Marielle trabalhou.
Conforme The Intercept Brasil antecipou com exclusividade, os passos de integrantes de grupos paramilitares nos corredores e gabinetes do Palácio Pedro Ernesto, às vésperas dos assassinatos, vêm sendo investigados pela Polícia Civil. Na semana anterior ao assassinato, outro miliciano também esteve na Casa: o ex-vereador Cristiano Girão – condenado por chefiar uma milícia na Gardênia Azul, em Jacarepaguá.
Licença-paternidade
Com reduto eleitoral em Guadalupe, bairro sob forte influência de paramilitares, Zico Bacana, que também fora indiciado na CPI das Milícias, estava sumido da Câmara desde o assassinato de Marielle e Anderson. No dia seguinte, enquanto os corpos da vereadora e de seu motorista eram velados no salão nobre da Casa, o parlamentar comemorava, em outro extremo da cidade, o nascimento de um filho.
Na última quarta-feira, 20 dias depois do crime, Zico Bacana retornou à Câmara carregando a certidão de nascimento do bebê, para justificar as ausências nas últimas seis sessões. Logo que chegou ao plenário, foi falar com o vereador Tarcísio Motta, líder do PSOL. Na breve conversa, Bacana prestou solidariedade e se explicou dizendo que estava sumido do trabalho por conta da licença-paternidade.
As investigações do caso Marielle estão mobilizando uma força-tarefa formada por policiais da Divisão de Homicídios, seis promotores do Ministério Público estadual e juízes do Tribunal de Justiça. Um dos principais objetivos da união é exatamente agilizar a concessão dos pedidos de quebra de sigilo telefônico e de mensagens de pessoas próximas à vereadora.
No depoimento prestado nesta quinta como testemunha, Zico Bacana disse que não se lembrava da participação de Marielle na CPI das Milícias nem mantinha muito contato com a vereadora do PSOL.
Crime profissional
Marielle vinha denunciando ações da PM, que resultaram em mortes em favelas cariocas. Entre os alvos das críticas, estavam policiais do 41 BPM, de Acari, unidade onde trabalham policiais que já foram homenageados com moções pelo vereador.
The Intercept Brasil vem solicitando entrevista com o político desde o dia seguinte aos assassinatos de Marielle e Anderson. Por e-mail, o chefe de gabinete do vereador respondeu que não fazia sentido Zico Bacana falar após ter sido citado em reportagem do site:
“Acredito que esse convite deveria ocorrer antes da publicação da matéria irresponsável e inconsequente, que foi reproduzida por inúmeros meios de comunicação e que causaram prejuízo à imagem do vereador”, escreveu o assessor, ignorando que o pedido de entrevista havia sido feito antes da publicação.
Uma das principais linhas da investigação sugere a participação de milicianos na morte da vereadora. Suspeita reforçada pela forma profissional de atuação dos assassinos: seguiram a vítima; usaram veículos com placas clonadas, além de um abafador de som ao disparar os tiros com uma pistola 9 mm – todos na direção da cabeça de Marielle. As milícias se alastraram pelo Rio de Janeiro sufocando os antigos barões do tráfico de drogas e são, hoje, a força criminosa dominante na cidade.
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