Nessa última Sexta Santa, dia 30 de março, saí de casa para documentar a tradicional encenação Via Sacra da Rocinha, que acontece há 26 anos e, neste ano, não teve nenhum apoio do poder público. O clima na comunidade era de pesar. Nos últimos oito dias, 12 pessoas haviam sido mortas na maior favela da América Latina, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Uma dessas vítimas foi o ajudante de pedreiro Deivison de Souza, de 28 anos, morto dois dias antes da encenação por um único tiro certeiro, disparado durante uma incursão da Polícia Militar. Moradores relataram a presença de um atirador de elite na ocasião em que ele foi morto, na varanda de casa, com seu bebê de 10 meses nos braços.
Essa não foi a primeira vez que entrei na Rocinha e, infelizmente, não raro, o clima era parecido com o que encontrei no sábado, durante o velório de Deivison. Quando todos os direitos básicos e humanos são negados pelo Estado, num território onde a única política pública é a bala, o que garante a sobrevivência e algum alento é a fé. É isso que tento mostrar no vídeo acima, gravado nos dias 30 e 31 de março.
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