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Candidatura de Flávio Rocha é o mais novo engodo da praça

Apesar da aparente indignação com tudo-o-que-está-aí, o presidenciável pelo partido da Igreja Universal não representa mudança nenhuma. Pelo contrário: ele ajudou a financiar políticos conhecidos por manter tudo-o-que-está-aí.

Candidatura de Flávio Rocha é o mais novo engodo da praça

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Foto: Divulgação

Logo no começo deste ano, o empresário Flávio Rocha, o bilionário dono da Riachuelo, liderou o lançamento de um manifesto político chamado “Brasil 200”. Trata-se, segundo ele, “de um movimento da sociedade civil que quer um Brasil diferente do arremedo de país em que foi transformado por sucessivos governos desastrosos.”

A tal “sociedade civil”, no caso, não passa de um convescote de grandes empresários. E o tal “manifesto político” não passa de propaganda do velho, conhecido e fracassado receituário neoliberal. A escolha da cidade para o lançamento desse manifesto político que pretende “libertar o Brasil do peso do Estado” não poderia ser mais simbólica: Nova York. Para incrementar ainda mais este museu de grandes novidades, o grupo defende também uma posição conservadora nos costumes.

À época, Flávio Rocha disse que não seria candidato à presidência, mas dois meses depois estava lançando sua candidatura pelo PRB, o partido da Igreja Universal. Esse defensor da moral e dos bons costumes, que se apresenta como fã entusiasmado da operação Lava Jato, lançou a candidatura ao lado do presidente do partido Marcos Pereira ex-bispo da Universal, ex-vice presidente da Record e ex-ministro de Temer. Ele é investigado pela Lava Jato por receber propina de Joesley Batista e grana da Odebrecht via caixa 2. Foi com a benção do homem portador desse currículo que o fã da Lava Jato lançou sua candidatura à presidência.

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Flávio Rocha apresentando sua candidatura ao lado de Marcos Pereira.

Foto: Reprodução/TV Record

Apesar da aparente indignação com tudo-o-que-está-aí, Flávio Rocha não representa nenhuma, absolutamente nenhuma novidade. Muito pelo contrário. Na verdade ele ajudou a financiar políticos conhecidos por manter tudo-o-que-está-aí. Nesta semana, a Folha fez um levantamento dos candidatos que receberam dinheiro de Rocha e suas empresas nas últimas quatro eleições, e que hoje estão na mira da operação da qual ele se diz fã de carteirinha.

Rocha depositou fé em muitos políticos. Nas eleições de 2014, o empresário deu dinheiro para o PMDB do Rio, à época comandado por Eduardo Cunha e Sérgio Cabral. Paulo Skaf (MDB-SP), presidente da Fiesp, não ficou de fora e também ganhou sua doação. O emedebista do Paraná Rocha Loures , o Homem da Mala, também ganhou seu dinheirinho. Perceba como o velho PMDB sempre pôde contar com o apoio financeiro do homem que quer um novo Brasil.

Mas foram os candidatos do seu estado natal que ganharam uma atenção especial. No Rio Grande Norte, Rocha abasteceu financeiramente as campanhas de Robinson Faria (PDS), Henrique Alves (MDB), Agripino Maia (DEM) e seu filho Felipe Catalão Maia (DEM). É sempre bom contar com apoio político na região em que suas empresas estão instaladas, ainda mais quando você considera a legislação trabalhista uma pedra sapato. Uma de suas fábricas foi condenada por submeter funcionários a longas jornadas de trabalho em troca de salários abaixo do mínimo, além de cometer abusos físicos e psicológicos. Eu fico imaginando quem seria o ministro do Trabalho do presidente Flávio Rocha. Talvez algum general da reserva.

Todas as doações foram legais, e Rocha pode alegar ingenuidade dizendo que jamais desconfiaria que os políticos financiados por ele seriam alvos da Lava Jato. Difícil imaginar que um macaco velho da política, que foi deputado federal por duas vezes, que foi um importante aliado de Collor e que chegou a anunciar candidatura à presidência da República em 1994 (desistiu após ser flagrado em esquema de corrupção conhecido como o Escândalo dos Bônus Eleitorais) não desconfiasse de um Cunha, de um Henrique Alves, de um Agripino Maia, todos eles com currículo bastante nebuloso e conhecido muito antes de qualquer Lava Jato.

Flávio Rocha é evangélico e integrante da Sara Nossa Terra, uma igreja com intensas relações políticas fundada em Brasília e que já contou com nomes como o de Eduardo Cunha em suas fileiras. O bispo fundador da igreja é Robson Rodovalho, um amigo próximo do empresário. Ele foi ex-deputado federal e ficou famoso por usar a cota parlamentar para bancar passagens aéreas para pastores, integrantes de banda gospel e um DJ que viajavam para eventos da sua igreja. Rodovalho foi cassado por infidelidade partidária. A Sara Nossa Terra já foi também — vejam só que coincidência divina! condenada por fraude trabalhista.

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Flávio Rocha em culto ao lado do bispo Robson Rodovalho.

Foto: Divulgação

Essa é a rede de relações políticas que Flávio Rocha construiu até chegar aqui. É com ela que ele pretende moralizar o país.

Mas seu grande aliado do momento é o MBL, aquele movimento com discurso moralizante que recebia grana de partidos políticos como o PMDB e PSDB para fazer protestos pelo impeachment de Dilma. O movimento cujo líder sofre mais de 60 processos trabalhistas por acusações que incluem fechamento fraudulento de empresas, dívidas fiscais, fraude contra credores e calote em pagamento de dívidas trabalhistas.

A sintonia entre o MBL e o candidato não se dá apenas no campo trabalhista, mas também no campo moral. Os garotos se encantaram com seu jeitinho “liberal na economia, conservador nos costumes”. Assim como o dono da Riachuelo, nossos carolinhas de paletó e sapatênis não se escandalizam apenas com os altos impostos, mas também com gente pelada em museu. “Tenho orgulho de afirmar: Flávio Rocha, único presidenciável que conjuga o combate ao politicamente correto com responsabilidade fiscal e propostas sérias para a segurança pública, é o candidato do Movimento Brasil Livre à Presidência da República”, escreveu Kim Kataguiri para a Folha.

Flávio Rocha é um fã da Lava Jato que vai se candidatar com o apoio de gente investigada pela operação. Que critica a atuação do BNDES nos governos do PT, mas chegou a abocanhar R$ 1,4 bilhão do banco durante os governos do partido. Tem discurso moralizador, mas protagonizou escândalo de corrupção e tem uma rede de relacionamentos políticos altamente suspeita. Rocha faz tudo de forma diametralmente oposta do que prega. Não que isso seja uma novidade na política brasileira, mas os requintes de hipocrisia são altos até mesmo para os nossos padrões. Talvez só João Doria tenha chegado nesse nível de cara de pau. Que Deus nos proteja.

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