(este texto contém correção)
São três os modelos de submetralhadora que podem ter sido usados nas execuções da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março. Enquanto tentam descobrir o modelo exato – analisando as marcas deixadas nos cartuchos encontrados no chão da cena do crime – os investigadores da Divisão de Homicídios do Rio de Janeiro já têm uma certeza: o assassino era um atirador de elite. Sobretudo, se for confirmado o uso de uma HK MP-5. A arma, desenvolvida na década de 60 pela empresa alemã Heckler & Koch, é amplamente usada por equipes de elite da Polícia Militar brasileira (Bope e Batalhão de Choque), pelo Exército Brasileiro e pela Polícia Federal.
Até agora, a possibilidade mais contundente era que os disparos haviam sido feitos com uma pistola, possivelmente utilizando kit rajada – acessório que permite que a arma dispare tiros em série. No último domingo, no entanto, a Rede Record apontou o que chamou de “erros da perícia inicial”. O principal deles: somente mais de um mês depois do crime os investigadores pediram informações para o Coordenadoria de Armas e Explosivos para saber quantas submetralhadoras existem oficialmente no Rio, onde elas estão e principalmente quem recebeu treinamento para usá-las. A hipótese de o atirador ter usado uma pistola deveria ter sido descartada muito tempo antes, já que uma pistola 9mm e uma submetralhadora deixam marcas diferentes nos estojos depois dos disparos.
Vários modelos de submetralhadora usam munições 9mm, porém, apenas estes três modelos têm um perfil compacto, parecido com uma pistola, que, conforme relatos de testemunhas, seria a arma utilizada no crime.
Mais conhecida entre atiradores como MP-5, a submetralhadora dispara em três tipo de cadência: automático rajadas (dispara de uma só vez toda as balas do pente, que pode ter entre 15 e 30 munições), semi-automático (um tiro a cada vez que o gatilho é pressionado) ou bursts (pequenas rajadas de 2 e 3 tiros a cada vez que o gatilho é pressionado). A arma é considerada cara e de manutenção sofisticada – raramente é encontrada com traficantes.
Ao longo dos 55 dias de investigações, outros dois possíveis modelos de submetralhadora foram listados a partir da constatação de que o calibre usado na tocaia foi o 9x19mm Parabellum – balas desviadas de um lote comprado pela Polícia Federal. Em princípio, ele é logo associado a pistolas, mas também “calça”, como dizem no jargão policial, em submetralhadoras curtas. São os casos da israelense Micro Uzi, mais conhecida por Pistola Uzi – que na década de 80 era comum entre traficantes – e a americana Ingram Mac, que foi amplamente usada por militares durante a ditadura brasileira há 50 anos. Desde 2010, 379 submetralhadoras foram apreendidas no Estado.
A Ingram Mac chegou a ser classificada como a arma preferida de integrantes de grupos de extermínio, os velhos justiceiros, que atuavam como xerifes na Baixada Fluminense. São eles os grupos que deram origem às milícias. Em comum, além do emprego de munição 9mm, essas armas podem ser manuseadas com abafadores ou silenciadores, que teriam sido usados no crime. Em alguns modelos de MP-5 e Ingram MAC-10, o sistema de redução de ruído já vem integrado à arma.
Os investigadores irão usar os três modelos com munição real em uma reprodução simulada, que será realizada nesta quinta-feira pela DH. A ideia é constatar a perícia do atirador na cena do crime e tentar simular seu nível de experiência com o armamento. Marielle foi atingida na cabeça por quatro das 13 balas disparadas pelo atirador, que fez uma sequência de tiros precisos, atingindo em seguida o motorista Anderson Gomes.
Correção: 9 de maio, 9h13
Devido a um erro de edição, uma versão anterior deste texto identificou erroneamente a data da reprodução do crime. O certo é quinta-feira, dia 10 de maio.
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