O PRTB, partido controlado por Levy Fidelix e que agora tem o general do Exército Antonio Mourão como pré-candidato na chapa à Presidência, transferiu dinheiro para a empresa responsável por três dos maiores divulgadores de boatos e difamações no Brasil: o site Folha Política e as páginas no Facebook Movimento Contra Corrupção e TV Revolta. Além de espalharem notícias falsas, os sites servem como canais de comunicação e divulgação das pautas da nova direita brasileira, amplificando, também, as opiniões de Fidelix e do general Mourão.
Os pagamentos, de ao menos R$ 25 mil, foram feitos à empresa Novo Brasil Empreendimentos entre outubro e dezembro do ano passado e constam na declaração de gastos do partido divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral no último mês. A empresa, administrada por Thais Raposo Chaves e Ernani Fernandes, é responsável pelo Folha Política e pelas páginas de Facebook Movimento Contra Corrupção, que conta com mais de 3,6 milhões de seguidores, e TV Revolta, com 3,4 milhões, além de outros sites e páginas em redes sociais.
Os canais do casal Chaves e Fernandes costumam replicar informações falsas, geralmente repercutindo falas descontextualizadas de famosos ou de pequenos veículos de imprensa. No caso dos atentados à caravana de Lula em março deste ano, por exemplo, a Folha Política publicou uma série de textos que colocava a existência dos tiros em dúvida. Em um deles, replicava um tweet do jornalista de TV Milton Neves, que comparava o atentado ao caso falso da “grávida de Taubaté”. Em outro, afirmava que “policiais experientes” não descartavam que o caso fosse uma armação.
O homem do aerotrem e o general herói nacional
Fidelix, presidente do Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, vem concorrendo à Presidência desde 2010. Fora da campanha, no entanto, ele é irrelevante, e ganha pouca atenção da imprensa. Exceto do site Folha Política. A atenção dada a Levy Fidelix pelo site contrasta com a de qualquer outro meio de comunicação. Desde antes dos pagamentos, o veículo já se dedicava a repercutir as estranhas opiniões do “homem do aerotrem” sobre diferentes assuntos – como quando o candidato comparou o novo cadastro de identidade do governo federal à “BESTA 666”. Durante o período do pagamento, no segundo semestre do ano passado, o site publicou 17 reportagens com a opinião de Levy Fidelix sobre diversos temas.
Mas é o general Mourão a grande estrela do Folha Política. No segundo semestre do ano passado, foram mais de cinquenta reportagens sobre o general após ele defender a intervenção militar em um evento da maçonaria em Brasília. Todas elas mostravam apoio irrestrito ao pré-candidato, com títulos como “General Mourão é aclamado por milhares de pessoas como herói nacional“.
Ainda que só tenha se filiado ao PRTB neste ano, Mourão já era cotado como candidato do partido no ano passado. Foi a Folha Política quem primeiro publicou que Fidelix poderia desistir de ser candidato para abrir espaço à Mourão. Agora, o partido anuncia que ambos estarão na chapa.
Procurado pelo The Intercept Brasil, o PRTB negou qualquer relação entre as reportagens publicadas no Folha Política e os pagamentos. “Houve uma contratação do serviço dessa empresa”, disse a assessoria de imprensa. Questionado sobre qual seria o serviço prestado, o PRTB não respondeu.
A reportagem procurou também os donos da empresa, o casal Chaves e Fernandes, nos contatos disponíveis nos registros públicos dos sites, mas não foi atendida em nenhum dos telefones disponíveis.
Um “coitadozinho de um menino que me ajuda”
O casal Thais Raposo Chaves e Ernani Fernandes, responsáveis pelos populares veículos que receberam a verba, são figuras ainda desconhecidas. Apesar da grande influência na nova direita brasileira, eles nunca participaram de eventos públicos e tampouco mostram a cara nas redes sociais.
Ambos mantêm duas empresas que administram os veículos com um método esperto: são várias páginas bastante populares, que compartilham conteúdo umas das outras e aumentam o alcance mútuo. E parte do trabalho de turbinar a reputação de políticos mais antigos, funcionando como uma agência de comunicação movida a likes e compartilhamentos, é remunerado com a verba pública do fundo partidário e de verbas parlamentares.
Chaves e Fernandez já receberam dinheiro do deputado federal paranaense Delegado Francischini, do PSL, que age como um coordenador informal da pré-campanha de Jair Bolsonaro à Presidência. Ele repassou R$ 24 mil reais da sua cota parlamentar para a empresa do casal, segundo reportagem do UOL publicada em maio deste ano.
O deputado confirmou os pagamentos em vídeo publicado no Facebook, e se referiu a Ernani Fernandes como um “coitadozinho de um menino que me ajuda” com redes sociais. No vídeo, ele diz que continuará a apoiar as suas páginas. “Podem publicar matéria de fake news à vontade. Eu vou apoiar todos os sites, todas as fanpages de direita conservadoras do país enquanto eu estiver na política”, disse no vídeo.
Bolsonaro, Moro, MBL, Alexandre Frota…
A Raposo Fernandes Associados, outra empresa do casal, administra a página de Facebook do ator Alexandre Frota, segundo a descrição da própria página. O canal de YouTube mantido por Ernani Fernandes, o Ficha Social, também abrigava vídeos de Kim Kataguiri, ainda antes da criação do MBL, em outubro de 2014.
A rede de Raposo e Fernandes também conta com outras páginas que superam um milhão de seguidores no Facebook. A página Juiz Sérgio Moro – Estamos com você, por exemplo, tem 1,6 milhão de curtidas, e a Juventude Contra Corrupção, tem 1,4 milhão. As páginas formam uma rede com fronteiras pouco claras e reforçam o engajamento uma das outras, somando, no total, mais de 10 milhões de curtidas.
Não é possível saber se o PRTB continua a financiar essa rede, já que novas declarações de gastos só devem ser divulgadas em 2019. Apesar de nunca ter conseguido se eleger a nenhum cargo, Fidelix deve ganhar cerca de R$ 3,7 milhões de dinheiro público do novo fundo eleitoral para gastar ao longo desse ano. Enquanto isso, os sites da rede continuam a divulgar intensamente as opiniões rasteiras dele e as atividades do militar Mourão. Na mais recente, Fidelix afirmava que a Wikipedia precisava ser proibida porque… publicava fake news.
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