O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

‘Esquece do seu filho’: o Brasil está tirando crianças indígenas de suas mães e colocando para adoção

Sem terra e na miséria extrema, indígenas têm seus filhos retirados e colocados para adoção.

Still: Luiza Calagian for The Intercept

Ensaiei meu guarani algumas vezes antes de me aproximar de Élida Oliveira: ela não fala português e havia chegado naquela manhã a Amambai (MS), acompanhada por servidoras da Funai, órgão responsável pelas políticas indigenistas no Brasil. Ela estava ali para narrar o que levou, há três anos, agentes de saúde e membros do Conselho Tutelar a retirar seu filho recém-nascido do tehoka Ñu Vera, na região de Dourados (MS).

Duzentas mulheres ouviram em silêncio seu depoimento em guarani durante um encontro. A responsável por traduzir as palavras às autoridades presentes, Wanda Kuña Rendy, pode verter apenas algumas frases para o português; foi impedida pelo choro: “a criança, retiraram dela com oito dias de vida… Ela pede para não retirarem novamente a criança dela”.

Élida reagiu sorrindo ao meu pedido de entrevista, mas hesitou em permitir que o filho mais novo deixasse seu colo durante a gravação.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Preparada para acompanhar como pesquisadora a sexta edição da Kuñangue Aty, a grande assembleia das mulheres kaiowá e guarani, eu queria prestar atenção às rezas e cantos que marcavam as noites e dias do encontro, da recepção dos convidados às mesas de debate. Como etnógrafa ou como repórter, no entanto, é preciso dar atenção ao que aflige as pessoas. “Por que o número de crianças indígenas em situação de acolhimento institucional aumentou tanto no último ano?”, eu me perguntava. “Está virando lei agora tirar os indígenas e dar para os brancos?”, questionou Janete Alegre, anfitriã da assembleia em Amambai.

Só no município de Dourados (MS), 50 crianças viviam em abrigos até 2017, segundo um relatório da Coordenação Regional da Funai. Em julho de 2018, ainda restam 34. Descobri que o caso de Oliveira e de outras mães de Dourados era a ponta de um problema complexo, presente em inúmeras outras comunidades, com indícios de irregularidades ainda mais graves – acompanhadas desde 2010 pela Funai, pela Defensoria Pública e pelo Ministério Público Federal.

“A instituição defende que ela é pobre, que ela mora em retomada. A instituições precisam nos respeitar. Isso é genocídio dos povos indígenas”, ouvi gritar Jaqueline Gonçalves, uma jovem liderança kaiowá, lembrando o histórico de violências a que os Kaiowá e Guarani têm sido submetidos desde o início do século 20. A Vara da Infância alega maus tratos, abandono e problemas com álcool e drogas para justificar a separação de mães e filhos.

“Reclamam que nossos filhos são sujos; mas claro, vivemos na terra, cozinhamos no fogo”, dizem as mulheres na carta final da assembleia. Exigindo que sejam encontradas alternativas dentro das próprias aldeias, como manda o Estatuto da Criança e do Adolescente, essas mulheres querem ter o direito de continuar seguindo as lições de cuidado deixadas por seus antepassados. É preciso comer os alimentos da origem, é preciso cantar para os recém-nascidos, elas me ensinaram.

Você sabia que...

O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?

Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.

Podemos contar com você por R$ 20 por mês?

APOIE O INTERCEPT

Entre em contato

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar