Facebook tirou do ar página da rede de notícias TeleSUR e deu três explicações sem sentido

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

Facebook tirou do ar página da rede de notícias TeleSUR e deu três explicações sem sentido

Facebook suspendeu a página em língua inglesa da TeleSUR, bloqueando o acesso do quase meio milhão de seguidores até reativá-la dois dias depois.

Facebook tirou do ar página da rede de notícias TeleSUR e deu três explicações sem sentido

Em 13 de agosto, o Facebook tirou do ar a página em língua inglesa da TeleSUR, bloqueando o acesso do quase meio milhão de seguidores da rede midiática de esquerda até a súbita reativação, dois dias depois. A empresa de redes sociais ofereceu três diferentes explicações para o desaparecimento temporário, contraditórias entre si. Nenhuma delas faz sentido.

A TeleSUR foi criada pelo então presidente da Venezuela Hugo Chávez em 2005, em financiamento conjunto com os vizinhos de hemisfério Cuba, Bolívia, Nicarágua e Uruguai – a Argentina retirou em 2016 seu apoio à emissora web e a cabo. Na qualidade de veículo de comunicação e de estatal, está no mesmo espectro da RT e da Al Jazeera. Como a primeira, a TeleSUR já foi criticada por agir como voz claramente partidária do governo, e, como a segunda, também pratica jornalismo de verdade.

Deixando de lado as questões de viés e de interesses, a TeleSUR parece estar situada num plano distinto, por exemplo, do site InfoWars, que existe primordialmente para vender seu gênero peculiar e descaradamente falso de paranoia direitista embalada como notícia (e pílulas para o cérebro), em oposição às pautas políticas mais corriqueiras. Diferentemente da RT, a TeleSUR não se destacou por desempenhar um papel na “lavagem” de desinformação para fins de inteligência militar, nem é uma fábrica de boatos no estilo de Alex Jones [do InfoWars].

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar

Assim, foi inesperado quando a página da TeleSUR desapareceu num piscar de olhos no dia 13, e mais estranho ainda quando o Facebook teve dificuldade de explicar suas próprias ações. No momento da suspensão, a TeleSUR recebeu a seguinte mensagem padrão do Facebook:

“Olá,
Sua Página ‘teleSUR English’ foi removida por violar nossos Termos de Uso. Uma Página do Facebook é uma presença distinta usada exclusivamente para propósitos promocionais ou de negócios. Entre outras coisas, não são permitidas Páginas com conteúdo obsceno, ameaçador ou de ódio. Nós também excluímos Páginas que ataquem um indivíduo ou grupo, ou que tenham sido criadas por um indivíduo não autorizado. Caso sua Página tenha sido removida por algum dos motivos acima, ela não será restaurada. O mau uso contínuo dos recursos do Facebook pode resultar na exclusão permanente de sua conta.
Equipe do Facebook”

Mais tarde, naquele mesmo dia, um agente de atendimento ao cliente do Facebook disse à emissora que a suspensão se devia, aparentemente, a uma falha técnica – uma explicação recorrente da empresa – e não a uma violação dos Termos de Uso, e acrescentou que a questão estava “sob análise do departamento de engenharia”.

No dia seguinte, o Facebook escreveu novamente à TeleSUR, dessa vez dizendo que seus engenheiros tinham realizado “vários testes”, e assegurando o veículo de comunicação de que os “técnicos” continuavam a procurar uma resposta. Na quarta-feira, depois de um apagão de 48 horas, o Facebook mandou mais uma mensagem, informando que a página havia sido suspensa por uma misteriosa “instabilidade da plataforma”, que já teria sido corrigida. Não é possível saber se o Facebook teria corrigido essa “instabilidade” caso a TeleSUR não tivesse reclamado, e tampouco estão claras as razões pelas quais a empresa teria inicialmente alegado violação a seus termos de serviço.

Mas o Facebook tem um terceiro motivo para ter suspendido a TeleSUR: em uma declaração enviada por e-mail ao Intercept, um representante rede social disse que “a Página foi temporariamente desativada para sua proteção, depois que detectamos atividade suspeita”. O termo “atividade suspeita” não aparece nos termos de serviço do Facebook. O representante não conseguiu explicar qual “atividade suspeita” foi verificada na página da TeleSUR, nem definir o termo, nem explicar por que o incidente foi inicialmente atribuído a uma violação das regras pela TeleSUR, depois a problemas técnicos da própria rede social.

Ainda que se presuma o pior da TeleSUR, isto é, que ela existe apenas para dar voz às opiniões de regimes opressores, e mesmo que seja possível argumentar que a TeleSUR realmente deveria ser suspensa por algum motivo, não dá para imaginar que alguém considere que o Facebook não tem a obrigação de explicar suas ações de uma forma que seja considerada, se não transparente, pelo menos coerente. Mas esse é o comportamento típico da empresa: de um lado, faz propaganda de suas ferramentas de aplicação automática de regras; do outro, transforma os algoritmos em bode expiatório quando algo dá errado.

No caso da TeleSur, nada foi dito sobre a “desativação” da página: se aconteceu por ação humana ou por uma execução de código de verificação de conteúdo, se foi ou não um equívoco, se foi justificada ou não. Em vez disso, o que se tem é uma miscelânea de justificativas incompatíveis, no mesmo estilo de tantas outras dadas pela empresa, que não consegue criar regras claras para o que sejam conteúdos e comportamentos aceitáveis, muito menos aplicá-las.

Diga-se em favor do Facebook que a rede social publicou uma longa explicação sobre as razões para suspender a conta de Alex Jones, do InfoWars, embora isso provavelmente se deva mais aos receios de relações públicas do que a um compromisso com a coerência e a transparência. Isso é um problema para uma empresa que já depôs no Congresso, e que espalhou outdoors pelos EUA afirmando que está investindo em credibilidade pública e responsabilidade: é difícil imaginar algo mais distante da responsabilidade do que aplicar regras por trás dos panos.

Tradução: Deborah Leão

Você sabia que...

O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?

Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.

Podemos contar com você por R$ 20 por mês?

APOIE O INTERCEPT

Conteúdo relacionado

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar