SÃO PAULO,SP,05.08.2018:CONVENÇÃO-ESTADUAL-PSL - Major Olímpio durante a convenção estadual do PSL - Partido Social Liberal, em São Paulo (SP), neste domingo (5). (Foto: Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)

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As empresas e os processos que o Major Olímpio, coordenador da campanha do Bolsonaro, quer esconder

Candidato ao Senado, deputado é cercado por uma rede de empresas de segurança no nome de todo mundo – menos no dele.

SÃO PAULO,SP,05.08.2018:CONVENÇÃO-ESTADUAL-PSL - Major Olímpio durante a convenção estadual do PSL - Partido Social Liberal, em São Paulo (SP), neste domingo (5). (Foto: Paulo Lopes/Futura Press/Folhapress)

Eleições 2018

Parte 8



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O deputado federal Sérgio Olimpio Gomes, mais conhecido como Major Olimpio, é um dos homens de confiança de Jair Bolsonaro. Candidato ao Senado por São Paulo, Olimpio é presidente do PSL paulista e também coordenador da campanha à Presidência de Bolsonaro. Assim como o ex-capitão do Exército que concorre ao Palácio do Planalto, o ex-PM é daqueles que estufam o peito para gritar que bandido bom é bandido morto. Mas talvez sua opinião não seja tão contundente sobre certos tipos de transgressões, especialmente as cometidas por homens engravatados ou de farda.

Além de ex-policial e político (ele se aposentou em 2006, mesmo ano em que se tornou deputado estadual), Major Olimpio também é escritor e empresário. Como policial aposentado e deputado federal, seu salário chega a R$ 47 mil por mês. Ao seu redor também funciona um ecossistema de empresas de segurança, emaranhadas por diferentes CNPJs, endereços e sócios. O deputado não está entre eles – as sociedades são sempre formadas por alguém de sua família, como sua mulher, fonoaudióloga, e seu filho, um publicitário que não fala sobre o próprio negócio nem no LinkedIn.

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Deve ser porque a maioria delas foi aberta quando o major ainda estava na ativa – e, portanto, impedido pela Lei Orgânica da Polícia. Como ter empresas no próprio nome é uma transgressão disciplinar, é comum que policiais coloquem os negócios no nome de parentes.

Os negócios da família do Major, no entanto, acumulam problemas. Somando o não pagamento de impostos e questões trabalhistas, as empresas de segurança ligadas à família do candidato têm mais de R$ 45 milhões em dívidas e processos trabalhistas, inclusive um que pode custar a casa de veraneio da família em Mairiporã, cidade turística da região metropolitana de São Paulo.

Tudo começou com um livro

Major Olimpio defende que o “cidadão de bem” ande armado. Essa ideia não vem de hoje. Em 1997, quando ainda era capitão da Polícia Militar de São Paulo, ele lançou o livro Reaja! Prepare-se para o Confronto – Técnica Israelense de Combate. O manual, escrito com outros quatro policiais, recomenda que a população use armas de fogo e reaja a assaltos. Além disso, propaga que o bandido é uma “pessoa menos humana” e deve ser posto “fora de combate”.

Na época do lançamento, o livro causou um racha na polícia. O então comandante-geral da PM, Carlos Alberto de Camargo, disse que discordava das ideias do livro e afastou dos cargos quatro dos cinco policiais que escreveram a obra. O capitão Olimpio foi poupado e mantido na escolta do ex-governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho. Os coautores eram os também capitães Márcio Tadeu Anhaia de Lemos, Rogério da Rocha Bortoletto, Afonso César Evaristo dos Santos e Ricardo Fernandes de Barros.

Apesar das consequências para os envolvidos, a parceria selada com o livro foi duradoura para os cinco PMs: Olimpio e os outros capitães se tornaram sócios. Abriram, em 1998, a Reaja Editora e Gráfica LTDA. O único policial que não é sócio formal da empresa é Bortoletto – em seu lugar estava sua mulher, Mirian Barbosa Soares Bortoletto, que administrava a empresa.

A Lei Orgânica da Polícia de São Paulo proíbe que policiais militares e civis sejam administradores ou donos de empresas, exceto como acionistas. A mesma legislação também veda que os policiais exerçam outro emprego ou função, além de dar aula e participar de atividades de difusão cultural. Olimpio diz que a sociedade na gráfica se enquadrava nesta última, assim como outra atividade que ele desempenhou com os cinco PMs: eles eram instrutores em uma empresa de segurança privada.

Uma das donas dessa empresa – pelo menos no papel – era Cláudia de Abreu Bezerra Olimpio Gomes. Sua esposa.

No nome de todos, menos no dele

A fonoaudióloga Cláudia de Abreu Bezerra Olimpio Gomes foi dona de pelo menos três empresas de segurança: Iron Serviços de Segurança LTDA, fundada em 1992, Iron Administração, Participações e Representações LTDA, de 1989 – que mudou de nome e passou a se chamar No Problem Assessoria em Segurança LTDA em 2002 – e Thor Segurança SC LTDA. Todas elas foram fundadas enquanto Major Olimpio ainda estava na ativa.

Na Thor Segurança, o sócio de Cláudia era o policial militar Ubiratan Guimarães, a quem seu marido era subordinado na PM. O Coronel Ubiratan foi o comandante da operação da PM que resultou na morte de 111 presos, em 1992, no Massacre do Carandiru. Olimpio era primeiro-tenente na época. Ele disse que só não participou do banho de sangue porque não estava na escala.

Outros familiares do Major Olimpio também atuam no ramo da segurança privada – mesmo os que não têm nenhuma relação com a área. São pelo menos três empresas no setor, quase todas abertas no período em que Olimpio ainda era policial.

O sogro dele, o coronel aposentado da PM e ex-comandante da Rota Niomar Cyrne Bezerra, é sócio da Tresces LTDA, aberta em 2001. Outra empresa, com um nome bem parecido – Tresces Consultoria em Segurança LTDA, aberta também em 2001 – é de Deraldo Olympio Gomes e Myriam Cecília de Abreu Bezerra. Respectivamente, pai e sogra do presidente do PSL paulista. Mais tarde, a empresa mudou de nome (virou Tresces Monitoramento de Alarmes LTDA.), e o pai e a sogra deram lugar na sociedade para Mariana e Fernando Bezerra Olimpio Gomes, filhos do major.

‘Há um conflito ético. Como posso garantir que onde funciona uma empresa de segurança não vai ter um policiamento mais reforçado?’

Detalhe: no mesmo ano em que Fernando Olimpio se tornou dono do negócio, 2013, ele era estagiário em uma empresa de análise de crédito, segundo seu LinkedIn. No currículo, Fernando não fala sobre sua sociedade na Tresces. Informa apenas que foi auxiliar administrativo do empreendimento entre 2009 e 2011.

Os negócios, no entanto, sempre estiveram muito próximos do Major Olimpio. O e-mail do cadastro da Tresces na Receita Federal está no nome de Cláudia, sua esposa. Já o telefone da empresa é o mesmo do escritório do deputado em São Paulo. A base política dele na capital paulista fica na Rua Vaz Muniz, 589, na zona norte. A dois quilômetros dali fica a Tresces, localizada em um prédio residencial na rua João Castelhanos, 64, 241 do bloco B, segundo o cadastro da Receita Federal.

É comum que profissionais da área tenham esse tipo de negócio: afinal, quanto pior a segurança pública, melhor para os negócios da família, como o Intercept mostrou em julho. “É claro que há um conflito ético. De um lado, você tem um policial de relevo, de importância. Do outro lado, a família toca negócios na área de segurança”, diz o professor Gustavo Fernandes, do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas. “Como é que posso ter garantido, por exemplo, que onde funciona uma empresa de segurança não vai ter um policiamento mais reforçado?”

Dívidas e processos trabalhistas

O deputado Major Olimpio, a esposa e o sogro estão no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. Juntos, eles são réus em pelo menos 28 processos na Justiça do Trabalho. A Tresces, do sogro do Major Olímpio, deve R$ 317 mil reais em impostos. Mas isso não é nada perto do total da dívida de FGTS e outros tributos somados pela Thor, Iron e No Problem: R$ 45 milhões.

As três empresas das quais a esposa do Major Olimpio foi sócia também estão na Lista de Devedores da Dívida Ativa da União e no Banco Nacional de Devedores Trabalhistas. A No Problem tem sete processos; a Iron, 52; e a Thor, 128. Olimpio disse ao Intercept que desconhece as dívidas ligadas às empresas de seus parentes. A única ação de que ele se recorda é uma movida contra a Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, da qual foi diretor.

Pedro Ribeiro dos Santos é um dos ex-funcionários da empresa Thor. Ele trabalhou nela como vigilante de 1994 a 1997, e conseguiu na Justiça a condenação da empresa. O advogado dele explica que o cliente tem a receber cerca de R$ 30 mil (valores atualizados em janeiro de 2016) por dívidas trabalhistas relacionadas a aviso prévio, férias vencidas, 13° salário, horas extras e FGTS. A esposa e o sogro do Major Olimpio são réus no processo. “A sentença saiu em 25 de março de 1999. Desde então, nós estamos atrás de alguém da empresa para receber nesse processo”, me disse o advogado Wagner Martins.

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Olimpio disse que a casa de Mairiporã, cidade turística perto de São Paulo, é a única da família. Mas a Justiça não encontrou ninguém lá.

Foto: Eduardo Goulart/The Intercept Brasil

A esperança do defensor do ex-empregado da Thor era um apartamento do sogro do Major Olimpio que foi penhorado pela Justiça. O imóvel seria vendido para pagar essa e outras dívidas de ações trabalhistas. No entanto, há alguns dias, o Tribunal de Justiça de São Paulo o considerou um bem de família – ou seja, é o único imóvel do sogro do Major Olímpio e é utilizado como domicílio.

Já o casal Major Olimpio e Cláudia tem uma casa em Mairiporã que também foi penhorada para pagar dívidas trabalhistas da empresa No Problem. O deputado alegou que era o único imóvel da família e que eles residiam no local, mas teve o pedido negado. O oficial de Justiça Julio Cesar Bandeira Sales, responsável por avaliar o bem e notificar a penhora, informou no processo que foi várias vezes ao local e nunca encontrou ninguém. Concluiu que se tratava de uma casa de veraneio. Do lado de fora, ele viu que o imóvel de “alto padrão” estava bem cuidado. Foi avaliado em R$ 1,2 milhão.

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