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Quatro anos depois de receber dos mineiros 5,4 milhões de votos para presidente da República, Aécio Neves compareceu novamente neste domingo à seção eleitoral onde vota, instalada na Escola Estadual Governador Milton Campos, em Lourdes, bairro nobre de Belo Horizonte. Desta vez, não estava acompanhado da mulher, a ex-modelo Letícia Weber, mas cercado de parrudos seguranças. O número de repórteres e fotógrafos escalados para cobrir o evento era muitíssimo menor que em 2014, e a claque, por sua vez, bem menos amistosa.
Enquanto caminhava apressado e com um sorriso nervoso rumo à urna eletrônica, Aécio foi xingado de “ladrão”, “traidor” e “safado”, e foi atingido por uma garrafa de plástico, arremessada por um eleitor que aguardava a vez de votar. Um coro gritava “golpista, golpista, golpista…”. Um homem se aproximou dele é fulminou: ”Quem diria, hein, Aécio? Passar por isso! Que humilhação!”.
Neste ano, abatido pelas denúncias de corrupção e em especial pelo vazamento da gravação em que aparece pedindo R$ 2 milhões a Joesley Batista, sócio da JBS, Aécio não teve espaço em seu partido para disputar a reeleição para senador. Num primeiro momento, ele descartou concorrer a deputado federal, sob o argumento de que o recuo na carreira política (além de senador, ele foi governador de 2003 a 2010 e, em 2014, obteve o segundo lugar na eleição presidencial, com honrosos 48,36%) poderia parecer uma confissão de culpa ou, pior, uma busca pela manutenção do foro privilegiado no STF. Mais tarde, rendendo-se à dura realidade, acabou voltando atrás e disputando uma vaga na Câmara.
A expectativa era a de que Aécio fosse um dos mais votados em Minas, mas ele acabou tendo apenas 106 mil votos, ficando em 19º lugar entre os postulantes ao cargo no estado. Mesmo tendo ostentado um número de destaque (4500), não foi sequer o mais votado em sua coligação (5º lugar) ou em seu partido (2º lugar). Teve 2633 votos a menos que Zé Silva (Solidariedade), um engenheiro agrônomo que se fez político há menos de uma década na (hoje extinta) onda aecista.
Não para por aí a decaída daquele que, até pouco tempo atrás, era a maior aposta nacional no campo anti-PT. Franco favorito a reconquistar o cargo de governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), afilhado político de Aécio, perdeu fôlego na reta final do primeiro turno, obtendo 29,06% dos votos válidos, ficando em segundo lugar, atrás do novato Romeu Zema, do Novo (42,73%). Com o mandato de senador garantido até o final 2022, Anastasia resistiu publicamente até onde pôde a concorrer ao cargo de governador, e só entrou na disputa por insistência de Aécio, que pretendia se esconder atrás do pupilo, melhor avaliado que ele em Minas atualmente. Agora, a coisa mudou de figura com a inesperada avalanche de votos do azarão Zema, que, tendo colado sua imagem à de Jair Bolsonaro, pegou carona na onda direitista que varre o país.
Caso Anastasia não consiga virar o jogo no segundo turno – uma tarefa hercúlea, diga-se de passagem -, Aécio ficará fora da cena principal da política mineira e não contará com o escudo que, durante os doze anos do mandarinato tucano no estado (2003-14), proporcionaram-lhe uma relação, digamos, especial com a imprensa e com órgãos locais, como a Justiça, o com Ministério Público e o com Tribunal de Contas.
Se em Minas a situação de Aécio Neves é delicada, dentro de seu partido não é melhor. Certamente será creditada em sua conta boa parte do derretimento do PSDB nas eleições deste ano – 99% dos redutos municipais tucanos foram conquistados pelo PSL de Jair Bolsonaro. Como Aécio se recusou a deixar o mandado de senador e demorou a abrir mão da presidência do PSDB após o escândalo da gravação com Joesley Batista, ele acabou por se tornar uma figura tóxica no ninho tucano. Não à toa, os candidatos do partido à Presidência da República, Geraldo Alckmin, e ao Governo de Minas Gerais se recusaram a aparecer publicamente a seu lado. Pelo visto, não adiantou muito.
O desastre para Aécio Neves só não foi completo porque, com a eleição para deputado federal, ele manteve o precioso foro privilegiado, o que fará com que seus casos mais cabeludos – o mineiro responde a seis inquéritos e uma ação penal no STF – continuem tramitando no esquema “com o Supremo, com tudo”, na definição sincera do senador Romero Jucá (MDB-RR). Jucá que, aliás, não foi reeleito.
Mesmo blindado pela morosidade e malemolência do STF, o tucano mineiro perdeu de vez qualquer chance de recuperar o antigo charme ou a galhardia herdada do avô Tancredo Neves. Depois de patrocinar uma envergonhada campanha eleitoral, em que não fez comícios ou participou de eventos públicos, Aécio está condenado, pelos próximos quatro anos, a vagar nas sombras pela Câmara e a lutar por migalhas do poder. Tendo sido um dos cabeças do golpe parlamentar que tirou Dilma Rousseff da Presidência em 2016, abrindo espaço para o crescimento de uma direita raivosa e de traços fascistas, Aécio seguirá no palco, mas ficará escondido atrás das cortinas.
“Quem diria, hein, Aécio?”
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