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Como a vingança pela morte de um PM terminou com a execução de duas pessoas e uma favela incendiada em Curitiba

Os moradores da Vila 29 de Março ainda se recuperam da noite de 7 dezembro, quando viram metade da favela queimar e dois jovens serem assassinados.

Homem caminha pelos escombros da 29 de março.

Pouca gente ouvira falar da Vila 29 de Março, uma favela localizada no extremo sudoeste de Curitiba e lar de cerca de 400 famílias, até o início de dezembro. Mas um incêndio criminoso que destruiu 300 barracos poucas horas depois de um policial militar ser assassinado ao lado de um ponto de venda de drogas colocou a comunidade nas manchetes.

Não apenas o fogo: dois moradores foram executados a tiros nas horas que se seguiram à morte do policial. Um deles era um jovem de 17 anos sem passagem pela polícia.

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O Intercept esteve no local dias após os crimes, ocorridos entre a madrugada e a noite de uma sexta-feira, dia 7 dezembro. Conversamos com pessoas que relataram terem sido torturadas, testemunharam policiais consumindo cocaína e viram homens encapuzados “andando em fila, como se fossem treinados” espalhando gasolina sobre casas momentos antes do início do fogo .

Também apuramos, no Instituto Médico Legal, que os exames preliminares nos corpos de Pablo Pereira da Hora, 22 anos, e Gabriel Carvalho Maciel, 17, indicam que eles foram mortos em decorrência de ferimentos causados por armas de fogo.

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Gabriel Carvalho Maciel havia se mudado para a favela há 15 dias.

Foto: Reprodução

Gabriel, um jovem recém-chegado a Curitiba e sem passagens pela polícia, levou um tiro atrás da orelha direita, segundo os legistas. “A arma foi disparada muito próxima do crânio”, afirmou uma fonte que teve acesso ao laudo preliminar. Pablo, segundo moradores, foi preso, algemado e exibido por policiais horas antes de aparecer morto.

Ainda subia fumaça dos escombros deixados pelo incêndio quando oficiais da PM se sentaram diante de jornalistas para garantir que o fogo e as mortes haviam sido causados “pelo crime organizado”. Dias depois, a polícia foi forçada a recuar e anunciar uma investigação após vir à tona uma gravação feita por moradores que mostra policiais atirando contra as casas em chamas.

Essa é, ao que tudo indica, a história de uma vingança.

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Cerca de 400 famílias viviam na Vila 29 de Março antes do incêndio.

Foto: Giorgia Prates/Coletivo CWB Resiste

A favela

Chega-se à Vila 29 de Março por uma via sinuosa que parte de uma rodovia que corta a Cidade Industrial de Curitiba, ao mesmo tempo um pólo de indústrias onde estão instaladas empresas como Volvo, Electrolux e Toshiba e um dos bairros mais pobres e violentos da capital.

A favela, cujo nome faz referência à data de fundação de Curitiba, é um amontoado de barracos entrecortados por ruas estreitas e improvisadas, erguidos ao redor de uma rua de chão batido que dá acesso a um aterro sanitário privado. Algumas casas de alvenaria, uma delas sede de um misto de bar e armazém, e uma espécie de “largo” indicam o centro da favela.

Defronte a elas, porém, o que se avistava na na quarta-feira de sol e calor logo após o incêndio era um amontoado de destroços de alvenaria – vigas de cimento e paredes de tijolos nus das casas mais estruturadas – entremeados com madeira carbonizada e milhares de pequenos pedaços de telhas de amianto. O tempo seco e o vento forte que levantavam poeira também ajudavam a espalhar as fibras do mineral – um cancerígeno potente – pelo ar.

Ali ficavam as cerca de 300 casas consumidas pelo fogo da noite de 7 de dezembro. No Google Maps, ainda é possível ver o que havia ali antes do incêndio.

Como a vingança pela morte de um PM terminou com a execução de duas pessoas e uma favela incendiada em Curitiba

No Maps, a 29 de Março ainda é um lar.

Foto: Reprodução/Google Maps

Como tudo começou

A temperatura chegou a 12 graus na madrugada daquela sexta-feira, mas o vento fazia parecer que o frio era maior. Eram por volta de 2h da manhã quando uma viatura da PM subiu a Estrada Velha do Barigui e chegou ao centrinho da Vila 29 de Março.

O carro parou ao lado de um sobrado (que pode ser visto, logo atrás do ônibus, no Google Maps). O policial Erick Norio saltou do banco do passageiro – o parceiro dele ficou sentado ao volante – e entrou no beco que margeava a casa. Nela, funcionava o que os moradores chamam de “biqueira”, um ponto de venda de drogas.

Norio caminhou alguns metros beco adentro. A escuridão era total – 7 de dezembro foi, justamente, dia de lua nova. De repente, ouviram-se dois disparos. Um deles atingiu o colete a prova de balas; o outro perfurou o pescoço do policial, que morreu minutos depois.

‘Tem muito policial que usa droga e vem fardado e armado na favela para consumir sem gastar.’

 

Segundo a versão oficial, Norio e seu colega tinham ido à Vila 29 de Março apurar uma ocorrência de perturbação de sossego. Moradores negam. “Sou testemunha. Não tinha barulho nenhum. E, mesmo que tivesse, você acha que alguém aqui ia reclamar de festa de traficante? A gente tem medo deles”, relatou uma delas, que, como a maioria das pessoas com quem conversamos no local, pediu para não ser identificada – naturalmente, temem represálias.

Porque Norio agiu daquela forma ainda é um mistério. Não é procedimento usual que um policial atue sem cobertura numa região considerada perigosa como aquela. Vários moradores comentaram que o policial fora à “biqueira” atrás do que se vendia ali.

“Tem muito policial que usa droga e vem fardado e armado na favela para consumir sem gastar. Esse que foi morto já tinha vindo várias vezes”, disse à reportagem uma moradora. “Ou ele quis ser muito corajoso, ou se descuidou, ou se confirma essa hipótese aí”, falou outro, mais cauteloso.

A mesma moradora suspeita que, naquela noite, era Pablo Pereira da Hora quem estivesse no que chamou de “contenção” – a segurança armada da “biqueira”. Posicionado no fundo do beco escuro e armado com uma submetralhadora, ele teria ficado nervoso com a entrada de Norio e disparado.

“O policial estava sozinho. Se fosse ação da polícia, ele [Pablo] ia correr. Mas, como era um policial só, ele ficou escondido no beco. Depois, ele falou: ‘Você acha que ele [o policial] vai falar mão na cabeça, abaixa a arma? Ele ia atirar na minha cabeça. Tive que atirar. Era ele ou eu’. Lá do nosso barraco, a gente escutou a movimentação e o tiro [que matou Norio]”, relatou a moradora.

Como a vingança pela morte de um PM terminou com a execução de duas pessoas e uma favela incendiada em Curitiba

Escombros da favela.

Foto: Giorgia Prates/Coletivo CWB Resiste

Saco na cabeça e cocaína

A morte de Norio foi a senha para a Vila fosse ocupada por dezenas de policiais em questão de minutos. Um “carrinheiro” (apelido dado pelos curitibanos às pessoas que puxam pequenas carroças em que recolhem material reciclável nas ruas da cidade para vender a peso) relatou: “eles entraram no meu barraco já perguntando: ‘cadê o cara que fez, que matou meu irmão? Matou polícia, vai ficar ruim pra vocês. Vou por revólver na tua cabeça e te matar'”.

‘Vocês vão matar um trabalhador.’

 

“Eu só falava: vocês vão matar um trabalhador. Daí colocaram uma sacola na minha cabeça [para asfixiá-lo] e me trancaram em casa. Sorte que consegui fugir porque o cadeado estava destrancado”, ele prosseguiu. Quando perguntado quem eram os agressores, ele não titubeou. “Estavam de uniforme de PM e colete preto [a cor da proteção contra balas usada pelas polícias do Paraná]. Um deles, o mais nervoso, um baixinho, ficava passando uma faca na minha barriga, ameaçando me ‘rasgar’.”

Enquanto isso, outra moradora que morava perto da “biqueira” contou ter ouvido soldados chamando um comandante pelo rádio. “‘Ô, tenente, sobe no beco aqui’, ele falou”, disse a testemunha. “A gente pensou que ele estava pedindo pra subir mais polícia para bater em nós (sic). [Mas falaram]: ‘Ô, tenente, ô, tenente, manda aqui.’ [Faz um som de quem aspira alguma coisa]. ‘É da boa.’ Todos eles estavam consumindo cocaína do lado do nosso barraco. Olhei pro meu marido e ele só fez com a boca: ‘Respira fundo. Se eles entrarem aqui a gente vai apanhar muito.”

‘O bicho vai pegar’

Quando a sexta-feira amanheceu, a Vila 29 de Março estava tomada pela PM. Viaturas – de carros de patrulha a caminhonetes do Bope e da Rone, versão paranaense da Rota da polícia paulista – entupiam a via principal da favela.

“De carro identificado, eram uns 15, 20. E mais um cinco carros brancos, com gente à paisana, mas com colete [à prova de balas] e arma em punho”, contou uma moradora. Eram, provavelmente, agentes do que se conhece no Paraná por P2, o serviço de inteligência da PM.

“Mandaram fechar o armazém da vila porque ia ter operação policial e o bicho ia pegar. E disseram que era pra todo mundo ir pra casa e fechar a porta”, ela prosseguiu.

‘Nada justifica o que fizeram. Fui no velório. Ele foi muito torturado.’

A essa altura, a polícia já prendera Pablo na casa dele, localizada numa favela vizinha. “Tiraram ele de casa às 4h30 da manhã. Eram duas policiais femininas e dois homens. Elas disseram para minha nora que, se ela contasse algo, voltariam para matá-la”, relatou o cobrador de ônibus aposentado Vanderley Pereira da Hora, pai do jovem.

Alguns moradores disseram terem visto Pablo passar algemado pela rua principal da favela ainda na sexta-feira. Naquela tarde, uma foto do rapaz morto, com um ferimento no pescoço aparentemente causado por uma bala, começou a circular no grupo de WhatsApp da comunidade. “Era ele sim. Eu o reconheci”, disse uma moradora que pediu para ser identificada apenas como Rose.

O corpo de Pablo chegou ao IML às 13h38 daquela sexta-feira. Segundo o registro, ele foi encontrado pela PM na Rua Stanislau Felibrante, uma via não pavimentada e sem saída a cinco quilômetros da Vila 29 de Março. A causa da morte, segundo os legistas, foi hemorragia interna de tórax e abdômen. O laudo preliminar aponta “lesões crânio-encefálicas e ferida transfixante no coração, todas produzidas por projétil de arma de fogo”.

“A polícia achou que tinha sido ele [que matou Norio] e o mataram”, disse Vanderley, pai de Pablo. Ele respondia a um processo por receptação e era considerado “problema” pelos moradores da favela. “Mas nada justifica o que fizeram. Fui no velório. Ele foi muito torturado”, falou Rose.

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Não sobrou muito da 29 de março.

Foto: Giorgia Prates/Coletivo CWB Resiste

O fogo

“O fogo começou no sobrado da biqueira. Ouvimos tiros. Só podia ser a polícia; a favela estava cercada”, relatou Valdecir Ferreira da Silva, 41 anos, conhecido na região como Val, um operário de manutenção predial que se tornou porta-voz informal da comunidade quando ela ganhou notoriedade após o incêndio e as mortes.

“A gente tinha acabado de voltar da igreja. Assim que minha esposa saiu do banho, ouvi um foguetório, seguido de tiros, vários. Daí passaram [pelo beco que cortava o amontoado de barracos] uns 15 sujeitos, encapuzados, com galões na mão. Saí de casa e, quando cheguei na esquina, três barracos já pegavam fogo, e tinha um cheiro forte de gasolina”, contou Thiago Rafael de Oliveira, 30, um técnico em eletrônica que mora numa casa que escapou por pouco das chamas – as tábuas da parede externa estão carbonizadas pelas chamas.

“Mas perdemos colchão, roupas, televisão. Não foi pelo fogo, mas pela água dos Bombeiros”, ele disse, enquanto ajudava vizinhos a recuperar pregos e algo de útil entre os escombros que escondem as fossas que recebiam os dejetos dos banheiros dos barracos e em que chamavam a atenção os incontáveis estilhaços de telhas de amianto.

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Apesar disso, Thiago atribui a uma intervenção divina ter salvado a família e a casa do fogo. “O pastor tinha me chamado na igreja aquele dia, me ungiu com óleo e me disse que quando eu chegasse em casa teria uma grande benção”, contou, algo incrédulo.

O fogo se espalhou rapidamente. “A gente ouvia gritos que não sabia se eram de cachorro ou de gente sendo queimada”, falou uma moradora – o IML não recebeu corpos carbonizados nos dias que se seguiram ao incêndio. Fotos feitas pelos próprios moradores mostram as chamas subindo a uma altura mais de duas vezes maior que a dos barracos que ardiam.

“Vieram os bombeiros, mas a PM não deixou eles entrarem. Teve policial que pisou na mangueira pra não passar água. Mas uma moça [bombeira] manobrou o caminhão por uma viela e furou o bloqueio. Daí desceu, pegou a mangueira e começou a apagar o fogo”, disse outra moradora.

A devastação causada pelas chamas, de fato, é incomum. “Incêndio aqui não é raro. Já combatemos alguns. Normalmente, conseguimos dar conta do fogo. Se vemos que não vai dar, destruímos os barracos em volta pra evitar que se espalhe”, relatou Val.

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No chão, o sangue de Gabriel.

Foto: Giorgia Prates/Coletivo CWB Resiste

A morte de Gabriel

Os barracos ainda queimavam quando moradores encontraram o corpo de Gabriel Carvalho Maciel numa obra em que o rapaz, chegado à favela havia cerca de 15 dias, trabalhava. Quase uma semana depois, o sangue que escorreu da cabeça do jovem ainda está lá, sobre o piso de terra, ladeado por luvas descartáveis deixadas para trás por funcionários do IML.

Moradores acreditam que Gabriel foi morto por ter saído de casa – para encontrar um primo – carregando um telefone celular. No boletim de ocorrência, a tia dele informou que minutos depois foi avisada que ele fora baleado e morrera. Àquela altura, a polícia ocupava a Vila 29 de Março.

 Ao lado do corpo foi encontrado um cartão bancário. O nome coincide com o de um PM que trabalha no 23º BPM, responsável pela Vila 29 de Março. 

“[Depois que acharam o corpo] A polícia cercou a casa [em obras]. Não veio perícia, nada. Só o IML, que levou ele acho que umas 3h da manhã [de sábado]. Daí o povo se revoltou. Alguns começaram a tacar pedras, e a polícia revidou, atirou bomba, bala de borracha. Eu não recuei, fiquei ali. Foi quando me acertaram [no rosto; a bochecha direita ainda traz a cicatriz do tiro]”, disse Val.

O corpo de Gabriel chegou ao IML às 3h38 de sábado, dia 8. Segundo o laudo preliminar, o jovem morreu “vítima de ferimentos crânio-encefálicos causados por arma de fogo”, e teve “retirado projétil da região parietal mediana”. Os legistas apuraram que ele recebeu um tiro na “região retroauricular” (ou seja, atrás da orelha).

Minutos depois do corpo dele ter sido removido, moradores encontraram um cartão bancário ao lado de onde o rapaz foi morto. O nome registrado nele coincide com o de um policial que, segundo o portal da transparência do governo do Paraná, trabalha no 23º batalhão da PM, justamente o responsável por patrulhar a área onde fica a Vila 29 de Março.

Como a vingança pela morte de um PM terminou com a execução de duas pessoas e uma favela incendiada em Curitiba

Restos de munição encontrados pelos moradores.

Foto: Giorgia Prates/Coletivo CWB Resiste

O que dizem as autoridades

A polícia prendeu em 11 de dezembro um homem que, de acordo com a versão oficial, confessou ter atirado contra o policial Erick Norio.

Mas, uma semana depois, no dia 18, outro suspeito foi preso no litoral do Paraná por dirigir um carro roubado e, segundo a polícia, tentou subornar os soldados alegando estar jurado de morte justamente por ter participado da morte de Norio.

Quer dizer: já há duas pessoas mortas – uma delas, com tiro no pescoço tal qual o que matou Norio – e duas presas, e o caso ainda está longe de uma conclusão.

 ‘Nunca vi isso no Haiti. Lá a polícia não é assim. Quero ir embora da vila.’   

Na entrevista coletiva que concedeu no sábado (8), o coronel Antonio Zanatta Neto, chefe do Estado Maior da PM, foi categórico ao atribuir tanto o incêndio quanto as mortes ao crime organizado. “Todos os policiais estavam identificados, inclusive os não fardados. Quem coloca a culpa nos policiais certamente são pessoas envolvidas no crime, jogando a conta dos fatos contra a polícia. Nós não admitimos isso. Que tiver informações, denúncias, procure a nossa corregedoria”, disse.

Os moradores rechaçam a versão do oficial. “Os traficantes fugiram da favela assim que perceberam que tinham matado um policial. E o fogo começou quando a vila estava totalmente tomada pela polícia”, falou uma delas.

Após vir à tona o vídeo que mostra PMs atirando contra barracos em chamas, o coronel Zanatta se tornou bem menos falante. Pedimos uma entrevista com ele à assessoria da polícia. Recebemos, apenas, uma nota lacônica, que diz o seguinte:

“A Polícia Militar esclarece que recebeu as imagens que mostram uma ação supostamente envolvendo dois policiais militares durante os fatos ocorridos na Cidade Industrial de Curitiba, na última semana. A corporação é a maior interessada no esclarecimento e está levantando todas as informações para apurar os fatos apontados pelas reportagens.

Ambos os policiais militares foram identificados, afastados das funções e estão à disposição das investigações, que vão apontar o que houve. Além disso, a PM está colaborando com a Polícia Civil e com o Ministério Público, para a elucidação do caso.

A PM lembra ainda que não compactua com desvios de conduta de seus integrantes e caso sejam comprovadas irregularidades, os canais de saneamento e correição serão aplicados ao rigor da lei. Em razão de as investigações estarem em curso, qualquer outra manifestação sobre os fatos poderá interferir no andamento das apurações.”

Procurada para comentar o caso, a governadora do Paraná, Cida Borghetti, do PP, disse, em nota, que “determinou à secretaria da Segurança Pública e aos comandos da Polícia Civil e Polícia Militar a apuração rigorosa de todos os fatos”.

“A governadora incumbiu o secretário da Segurança Pública, Júlio Reis, de acompanhar pessoalmente as investigações. Atualmente, há três inquéritos em andamento”, prosseguiu o texto.

A assessoria da governadora disse ainda que Júlio Reis estava “à disposição” para entrevistas. A assessoria dele, porém, informou que o secretário estava viajando, e não retornou a pedidos de entrevistas com os delegados que investigam o caso.

O Ministério Público abriu um procedimento investigatório criminal, a cargo do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado, o Gaeco.

Em meio à profusão de notas oficiais, os moradores temem novas ações da polícia. “Tá todo mundo com medo. Tenho esposa e um filho de cinco anos. Moro aqui tem sete anos, ajudei em todas as ocupações. Mas agora não sei o que vou fazer”, disse Val.

A Vila 29 de Março é lar de dezenas de imigrantes haitianos. Uma delas já procura outro lugar para viver. “Nunca vi isso no Haiti. Lá a polícia não é assim. Quero ir embora da vila.”

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