HÁ UMA NOVA razão para se preocupar com o PFOA e o PFOS, componentes tóxicos utilizados em panelas antiaderentes, produtos à prova d’água e espumas de combate a incêndio: eles prejudicam a saúde reprodutiva masculina, segundo um estudo divulgado no início de novembro.
Pesquisadores já haviam documentado que o PFOA e o PFOS, dois componentes de uma classe conhecida como PFAS, reduzem a fertilidade de camundongos, ratos e coelhos machos. O novo estudo, publicado no Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism, mostra que homens jovens expostos aos produtos químicos possuem uma série de problemas em seus aparelhos reprodutivos – e também explica, pela primeira vez, como esses produtos interferem nos hormônios dentro da célula.
A pesquisa foi conduzida no Vêneto, na Itália, um dos diversos locais no mundo onde o uso industrial de PFAS já causou contaminação em água potável e levou os componentes químicos a se acumularem no sangue das pessoas. A região central do vale do Ohio, onde uma fábrica DuPont jogava os produtos tóxicos no rio Ohio, é outra.
Os pesquisadores compararam estudantes secundários que haviam sido expostos a altos níveis de PFOA e PFOS no Vêneto com homens jovens que não haviam sido expostos e descobriram que os que foram expostos aos produtos tinham pênis menores, menor contagem de espermatozoides, menor mobilidade dos espermatozoides e uma redução na “distância anogenital”, a distância entre o ânus e a base dos testículos, uma medida que os cientistas veem como uma marca de saúde reprodutiva. A porcentagem de espermatozoides de formato normal no grupo exposto era pouco mais da metade comparada ao grupo de controle.
Os produtos “possuem um impacto substancial na saúde masculina já que interferem diretamente nas vias hormonais, potencialmente levando à infertilidade masculina”, concluíram os cientistas no artigo, que foi avaliado por outros especialistas e publicado em 6 de novembro.
Após observar as anormalidades nos homens jovens, cuja idade média era de 18 anos, os pesquisadores foram mais fundo para ver como os produtos químicos poderiam estar afetando seu desenvolvimento reprodutivo. Experimentos conduzidos por eles em laboratório mostraram que o PFOA e o PFOS podem se ligar a receptores de testosterona dentro da célula e interromper a função normal do hormônio.
“As estruturas de testosterona e dos PFAS são muito, muito parecidas,” disse Andrea Di Nisio, biólogo da Universidade de Pádua e um dos 12 autores do artigo. “E nós dissemos: ‘elas parecem as mesmas, então é possível que os PFAS ajam como a testosterona dentro da célula.’ E eles agem.”
O estudo foi pequeno, comparando apenas 212 jovens expostos com 171 dos do grupo de controle nessa parte do norte da Itália. Ainda assim, com comunidades ao redor do mundo descobrindo a cada dia que sua água está contaminada com PFAS, a pesquisa tem implicações internacionais para pessoas que foram expostas aos componentes químicos nas últimas décadas.
“Como o primeiro relatório de contaminação de água por compostos perfluorados é de 1977, a magnitude do problema é alarmante pois afeta uma geração inteira de jovens de 1978 em diante”, escreveram.
De fato, o estudo sugere uma possível resposta para um fenômeno que tem intrigado pesquisadores nos últimos anos: uma preocupante queda global nas contagens de esperma. Nas últimas quatro décadas, contagens de espermatozoides nos EUA, Austrália, Europa e Nova Zelândia caíram mais de 50%, de acordo com um estudo conduzido em 2017 por pesquisadores da Mount Sinai School of Medicine e da Hebrew University School of Public Health. A tendência mundial é vista em geral como um mistério, ainda que haja um crescente consenso de que contaminantes ambientais tenham alguma responsabilidade.
“Nós temos vários outros candidatos” além do PFOS e do PFOA, disse Pete Myers, fundador e cientista-chefe do Environmental Health Sciences, que escreveu sobre os danos que outros produtos químicos, particularmente aditivos plásticos ftalatos e BPA, apresentam à saúde reprodutiva masculina. “A diferença desses dois PFAS [em relação aos outros químicos] é que eles são mais duradouros”. Tanto o PFOS quanto o PFOA podem permanecer no corpo humano por anos e continuam no meio ambiente indefinidamente.
As exposições a todos esses poluentes ambientais podem ter um efeito cumulativo, segundo Myers. “Ter PFOA e PFOS com ftalatos e BPA, só piora a situação”, disse.
PFOA e PFOS foram conectados a diversos outros problemas de saúde, como a redução na função da imunidade, obesidade, câncer nos rins, câncer nos testículos e ainda aumento nos níveis de colesterol.
Para os efeitos reprodutivos vistos no Vêneto, pelo menos parte do problema provavelmente ocorreu antes mesmo de os jovens nascerem, segundo Di Nisio, que começou a pensar como prevenir futuras exposições aos PFAS.
“Nós ficamos com a pergunta de como remover os PFAS do sangue”, disse. Porque os produtos químicos são transferidos de mães para bebês durante a gravidez, “nós temos que encontrar uma maneira de eliminá-los.” Se não o fizermos, diz Di Nisio, as constantes exposições aos produtos tóxicos afetarão ainda mais meninos no que pode ser uma vida inteira de dificuldades reprodutivas.
Tradução: Maíra Santos
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