QUEM SERÁ O candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos em 2020?
Será o senador Bernie Sanders, que ficou em segundo lugar nas primárias do partido em 2016? Um crescente número de opiniões, tanto liberais quanto conservadoras, discordam veementemente. “Eu acho que o momento dele está passando”, diz o fundador do Daily Kos, Markos Moulitsas. “Bernie Sanders está diminuindo”, declarou uma manchete no Weekly Standard (apenas algumas semanas antes de a revista neoconservadora, ironicamente, fechar). “Os Democratas decidirão em breve que Bernie Sanders é uma indulgência que eles não poderão manter”, opinou o The Economist.
Ainda assim, os argumentos que os diversos críticos oferecem contra uma nova tentativa de Sanders para chegar à Casa Branca parecem ser tanto exageradas, irrelevantes ou ainda completamente falsas. Considere cinco das críticas mais comuns ao senador independente de Vermont:
Ele está atrás nas pesquisas
É Joe Biden, e não Bernie Sanders, quem tem estado à frente em quase todas as pesquisas de opinião até o momento. Um novo levantamento no estado do Iowa descobriu que o antigo vice-presidente estaria liderando com 30% de apoio de eleitores Democratas, seguido por Sanders, bem atrás com 13%, e pela estrela em ascensão Beto O’Rourke, celebrando com seus 11%.
Outras pesquisas chegaram a resultados parecidos. Mas nem todas. Uma nova pesquisa eleitoral independente promovida por progressistas do comitê Democracy for America e divulgada na terça-feira dava 21 pontos de vantagem de Sanders sobre Biden.
Mas eis a grande questão: pesquisas são de fato relevantes neste momento? A eleição acontecerá daqui a 23 meses e nenhum dos possíveis candidatos anunciou formalmente que de fato concorrerá.
Em comparação, adivinhe quem apareceu em primeiro lugar em uma pesquisa da CNN para candidatos Republicanos em potencial em dezembro de 2014, 23 meses antes da eleição presidencial de 2016? Jeb Bush, com 24% e com uma vantagem de dois dígitos sobre seu adversário mais próximo, Chris Christie. Ted Cruz, que acabaria por ficar em segundo lugar nas primárias do Partido Republicano em 2016, aparecia em oitavo lugar com 4%. O nome de Donald Trump nem aparecia na lista.
Ele é branco demais
“O Sr. Sanders lutou com a Sra. Clinton até um empate entre eleitores brancos”, concluiu uma análise de pesquisa de boca de urna feita pelo Wall Street Journal em 2016. “A vantagem decisiva de Clinton: ela ganhou entre afro-americanos por mais de 50 pontos percentuais de vantagem.”
Logo, volta a velha narrativa de que Sanders tem um problema com a comunidade negra.
Exceto que… isso não é bem verdade. Um grande grupo de figuras afro-americanas proeminentes – incluindo Keith Ellison, Cornel West, Ta-Nehisi Coates e Spike Lee, entre outros – apoiaram Sanders ao invés de Hillary Clinton em 2016. A ex-senadora do estado de Ohio Nina Turner e a secretária de imprensa da época, Symone Sanders, eram importantes representantes dele.
Em 2016, o problema do senador de Vermont era com eleitores negros mais velhos – não eleitores negros em si. Na verdade, de acordo com uma pesquisa realizada pela YouGov, Sanders “quase empatou com Clinton entre as pessoas negras entre 18 e 44 anos”, e conforme outra pesquisa conduzida pela GenForward, “entre jovens adultos afro-americanos que indicaram ter votado nas primárias, uma maioria, 54%, disse ter votado em Bernie Sanders.”
Desde 2016, Sanders se dedicou a ir mais longe em comunidades afro-americanas, ajudando a apoiar as campanhas de políticos negros em ascensão, como Andrew Gillum, da Flórida. Na semana passada, uma pesquisa da CNN divulgou que Sanders tinha níveis mais altos de aprovação, na casa de 58%, com eleitores não brancos, do que qualquer outro candidato. Então, essa última pesquisa colocará um fim no boato de que eleitores negros não gostam de Bernie? Eu duvido. Como minha colega Briahna Gray observou: “Bernie Sanders não tem um problema negro – ele tem um problema de comentaristas.”
Ele é velho demais
No dia da eleição, em novembro de 2020, Sanders terá 79 anos de idade, o que o tornaria a pessoa mais velha a concorrer à Casa Branca.
Ainda assim, seu provável oponente Republicano, Trump, será o recordista anterior. Ele tinha 70 anos em 2016 e terá 74 em 2020. Sim, o presidente em exercício que está acima do peso, come fast food, não se exercita e se recusa a divulgar seus registros médicos.
Em termos de primárias Democratas, Sanders terá 79 anos em 2020, mas Biden terá 77 e Elizabeth Warren terá 71. Ah, e você sabia que a futura presidente da Câmara Nancy Pelosi e seu principal deputado Steny Hoyer são ambos mais velhos que Sanders? Então por que a idade dele significaria algo ruim?
Ele não é membro do Partido Democrata
E daí? Ele pode ser um independente, mas compõe bancada com os democratas do Senado e lidera o diálogo entre políticos e ativistas da sociedade civil. Sanders conquistou 13 milhões de votos nas primárias do Partido Democrata em 2016.
Mesmo se recusando a se filiar ao partido antes das eleições de 2016, a base democrata continua adorando Bernie Sanders. Em uma pesquisa de opinião de outubro de 2018, ele tinha uma aprovação acachapante de 78% entre eleitores democratas.
Ele é socialista
Novamente: e daí? Embora isso possa prejudicá-lo na eleição presidencial, com uma clara maioria dos americanos afirmando que não votariam em um “socialista”, isso certamente não será um problema nas primárias democratas. Segundo uma enquete da Gallup, a maioria dos democratas tem uma imagem positiva do socialismo – de fato, os democratas têm “uma imagem mais positiva do socialismo do que do capitalismo”. Mesmo na eleição presidencial propriamente dita, eu suspeito que os republicanos teriam dificuldade de demonizar Sanders usando o termo “socialista”, após tê-lo empregado para atacar o centrista Barack Obama por oito longos anos. Indo além do rótulo, a agenda esquerdista de Sanders é extremamente popular entre os eleitores – até mesmo entre republicanos empedernidos.
DEIXE-ME REPETIR, no entanto, algo que eu disse em uma coluna recente sobre Warren e a campanha de 2020: eu não estou apoiando Bernie Sanders para a presidência nem dizendo que ele é a pessoa ideal para enfrentar Trump. Os republicanos irão com tudo para cima dele, e atacá-lo como “socialista” pode conquistar eleitores independentes. Alguns dos candidatos que ele apoiou nas eleições legislativas deste ano conquistaram vitórias históricas, mas muitos outros perderam.
O senador do Vermont também cometeu uma série de gafes e erros de cálculo, especialmente em questões raciais e identitárias, e precisa fazer muito mais para conquistar os eleitores negros mais velhos do Sul dos EUA. Ele tem sido excessivamente relutante para desafiar o racismo e o preconceito da base de Trump, e atribui demasiadamente a vitória de Trump em 2016 à “ansiedade econômica”. Em relação à política externa, Sanders se inclinou ainda mais à esquerda após sua disputa com Hillary Clinton e está “silenciosamente moldando a política externa dos democratas a seu modo”, mas ele ainda tem muito por fazer.
Também há boas razões para que o candidato democrata que enfrente Trump daqui a dois anos seja uma mulher, uma pessoa de cor, ou ambos.
Ainda assim, os argumentos para apoiar Sanders em 2020 são tão fortes quanto eram em 2016 – ou até mais fortes do que eram antes. Ele agora é muito mais conhecido, conta com um exército de militantes leais e experientes, uma presença incomparável nas redes sociais, uma autenticidade que não pode ser comprada nem ensinada, e uma lista de vitórias políticas substanciais, desde o apoio de democratas importantes para seu projeto de lei de “Medicare [seguro-saúde] para todos” até a Lei “Stop BEZOS” (que taxa as grandes empresas cujos empregados dependam de subsídios governamentais em função dos baixos salários), passando pela histórica votação do Senado sobre o Iêmen em dezembro.
Ele sairá vitorioso? Na era de Trump, previsões são uma tolice. As primárias do Partido Democrata vão contar com mais de uma dúzia de presidenciáveis talentosos, ambiciosos e experientes, desde um bando de senadores e governadores até um ex-vice-presidente que goza de grande popularidade.
Mas ignore as pesquisas de opinião e os argumentos furados contra ele: goste ou não, Bernie Sanders lidera a corrida neste momento.
Tradução: Maíra Santos
JÁ ESTÁ ACONTECENDO
Quando o assunto é a ascensão da extrema direita no Brasil, muitos acham que essa é uma preocupação só para anos eleitorais. Mas o projeto de poder bolsonarista nunca dorme.
A grande mídia, o agro, as forças armadas, as megaigrejas e as big techs bilionárias ganharam força nas eleições municipais — e têm uma vantagem enorme para 2026.
Não podemos ficar alheios enquanto somos arrastados para o retrocesso, afogados em fumaça tóxica e privados de direitos básicos. Já passou da hora de agir. Juntos.
A meta ousada do Intercept para 2025 é nada menos que derrotar o golpe em andamento antes que ele conclua sua missão. Para isso, precisamos arrecadar R$ 500 mil até a véspera do Ano Novo.
Você está pronto para combater a máquina bilionária da extrema direita ao nosso lado? Faça uma doação hoje mesmo.