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Bernie Sanders pode viabilizar sua ‘revolução’ se abrir mão da reeleição

Pré-candidato do Partido Democrata às eleições presidenciais de 2020, o mandato único pode acabar com as críticas à idade avançada de Bernie Sanders.

O senador Bernie Sanders e a deputada Grace Napolitano cumprimentam alunos enquanto participam de um comício no Capitólio, em Washington, DC, em 14 de março de 2018.

“Começamos a revolução política na campanha de 2016, e agora é hora de levar essa revolução adiante”, declarou Bernie Sanders na última semana, ao anunciar sua candidatura a presidente dos Estados Unidos. Vinte e quatro horas depois, ele já havia arrecadado impressionantes 6 milhões de dólares de mais de 200 mil colaboradores. E, segundo as últimas pesquisas, ele é o mais popular dos candidatos declarados.

Sanders saiu de azarão rebelde em 2016 para aparente favorito em 2020.

Sua idade, porém, ainda é uma questão relevante, e seria loucura fingir que não é o caso. “Desde 1828”, noticiou o site Axios na quarta-feira, “apenas 3 presidentes do Partido Democrata tinham mais de 60 anos ao tomar posse – e nenhum chegou perto de Sanders, que terá 79 se for eleito em 2020.”

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Se ganhar a próxima eleição, o senador independente pelo estado de Vermont, que é cinco anos mais velho que Donald Trump, será o presidente mais velho da história dos Estados Unidos, seis anos mais velho que Ronald Reagan quando foi reeleito, em 1984. Já no que se refere às primárias dos Democratas, caso o ex-vice-presidente Joe Biden, de 77 anos, decida não concorrer, Sanders será o único candidato acima de 70 anos de idade, quando chegar a primeira rodada de debates presidenciais do partido, no meio do ano.

Então, como ele pode neutralizar essa questão?

Existe uma saída possível, embora pouco convencional: Sanders deveria prometer que só cumprirá um mandato na Casa Branca. Quatro anos, no máximo. Só as eleições de 2020, e acabou!

Um compromisso de mandato único não é uma ideia tão maluca assim. Como observou em 2015 Philip Bump, do Washington Post:

Três presidentes americanos assumiram – e mantiveram – compromissos de cumprir apenas um mandato, no máximo. Rutherford B. Hayes e James K. Polk assumiram compromissos de mandato único e cumpriram apenas um mandato cada um. William Henry Harrison, o segundo presidente mais velho dos EUA, de 68 anos de idade, também se comprometeu a assumir apenas um mandato, em consonância com seu partido, o Partido Whig, que se dissolveu em 1856. Seu compromisso, porém, acabou não importando: ele mal chegou a cumprir um mês de mandato antes de morrer.

Em tempos mais recentes, figuras de alto escalão (e idade mais avançada) em ambos os partidos consideraram seriamente essa ideia. John McCain, aos 70 anos, esteve “a poucos centímetros” de assumir um compromisso de mandato único quando anunciou que disputaria a indicação à presidência pelo Partido Republicano. Biden, então com 73, considerou a possibilidade em 2015, e pode fazê-lo novamente desta vez.

Pensem nisso: existem muitas vantagens claras na renúncia, por um candidato mais velho, a qualquer pretensão de assumir um segundo mandato presidencial. Para começar, embora Sanders e seus apoiadores possam conseguir defender a ideia de um presidente septuagenário, provavelmente terão dificuldade de convencer os eleitores de que ele ainda seria eficiente perto dos 90 (e ele teria 87 no final do segundo mandato).

Mas existem benefícios que vão além da idade de Sanders. Assumir esse compromisso seria uma jogada ousada e dramática, que poderia chacoalhar as primárias dos Democratas. Gostemos ou não, repórteres e comentaristas obcecados por disputas cabeça a cabeça adoram jogadas ousadas e dramáticas. Quanto menos convencionais, melhor. Sanders imediatamente se destacaria em meio a um campo Democrata superlotado, onde muitos adotaram suas ideias em praticamente tudo, da assistência de saúde ao ensino superior. Isso daria a impressão de que o senador por Vermont está interessado apenas nas questões de fato, em oposição às óbvias pretensões de alguns dos seus adversários mais jovens.

A bem da verdade, um dos grandes trunfos de Sanders sempre foi ser um independente correndo por fora. Um compromisso de mandato único reforçaria essa imagem iconoclasta e fomentaria seu encanto anti-establishment perante os milhões de americanos que desprezam a classe política de Washington.

Sua fundamentação para isso poderia ser simples e popular: como presidente, ele estaria livre das pressões exercidas pelas distrações ligadas à reeleição, o que lhe permitiria dedicar os quatro anos inteiramente a duas ou três questões principais: Medicare para Todos, o New Deal Ambientalista, e, talvez, universidade gratuita para todos, também.

Um compromisso de mandato único reforçaria essa imagem iconoclasta e fomentaria seu encanto anti-establishment.

Existe, é claro, o risco de que um presidente de mandado único possa ser considerado um “pato manco”, como um presidente em fim de mandato, e já sem poder efetivo. Talvez. Por outro lado, Sanders assumiria um mandato específico e urgente para fazer as coisas acontecerem. O compromisso dificultaria que os Republicanos no Senado bloqueassem sua pauta, uma vez que ele teria sido eleito para um mandato de apenas quatro anos, e não precisaria enfrentar, como eles, as pressões da reeleição. Em termos de legado, isso lhe permitiria escapar da maldição de segundo mandato que atingiu tantos presidentes anteriores.

Por fim, ao declarar que só cumpriria um mandato de quatro anos no cargo, Sanders poderia dar muito mais importância para a pessoa que escolher para concorrer ao seu lado. Surgiria aí a oportunidade de abordar uma das objeções à sua candidatura, a questão da “política identitária”, ou o que alguns chamam de “problema do velho cara branco“.

Esse é o conjunto mais diverso da história americana de pré-candidatos à presidência no Partido Democrata. Muitas pessoas da base do partido não desejam uma chapa presidencial inteiramente branca ou inteiramente masculina (e estão certas!), inclusive algumas fãs ardorosas do senador de Vermont e de seus posicionamentos políticos.

Então por que não indicar Stacey Abrams, a candidata Democrata a governadora do estado da Georgia em 2018 – e praticamente garantir a ela a candidatura presidencial pelo partido quando 2024 chegar? Ela é uma mulher (ponto para ela), negra (outro ponto), progressista (ponto), e une as diversas alas do Partido Democrata melhor do que qualquer outro político do país.

Ou quem sabe a senadora Kamala Harris? Será que a dupla Sanders-Harris 2020 pode ser a chapa de consenso que os Democratas vêm buscando? O judeu democrata socialista e a ex-promotora mestiça [a mãe de Kamala nasceu na Índia, e o pai, na Jamaica]? Tenho minhas ressalvas quanto ao seu controverso histórico “linha dura” como promotora e procuradora-geral na Califórnia, mas a verdade é que Harris é a Democrata com o histórico de votação mais progressista do Senado.

Que motivo uma pessoa com ambições políticas teria para se recusar a concorrer como vice em uma chapa presidencial cujo titular já anunciou que sairá de cena em quatro anos? (Pressupondo-se, é claro, que Sanders vença as primárias Democratas.)

Resumindo: caso Sanders assumisse um compromisso de mandato único, poderia encerrar o debate sobre sua idade, roubar atenção midiática de seus adversários, promover uma mulher progressista e não branca no processo, facilitar sua ascensão ao poder, e ainda aumentar sua própria efetividade como líder uma vez que esteja sentado diante da mesa do presidente, a folclórica “Resolute Desk”.

O que pode haver de ruim nisso?

Tradução: Deborah Leão

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