João Filho

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Nazistas brasileiros odeiam a esquerda e veneram Bolsonaro

É evidente a sintonia entre as pautas de Bolsonaro e as dos nazistas: o ataque às minorias, a defesa da família e o combate ao comunismo.

Nazistas brasileiros odeiam a esquerda e veneram Bolsonaro

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Foto: Leo Correa/AFP/Getty Images)

Jair Bolsonaro mais uma vez virou chacota internacional. Após visitar o Memorial do Holocausto em Israel, escreveu no livro de visitas do museu: “aquele que esquece seu passado está condenado a não ter futuro”. Minutos depois, em entrevista aos jornalistas brasileiros, Bolsonaro desrespeitou a memória das vítimas do holocausto ao dizer que o nazismo foi um movimento de esquerda. É uma versão fabricada por doentes que não encontra respaldo de nenhum historiador vivo ou morto, de esquerda ou de direita, mas que virou um hit da internet na Nova Era. Nunca houve dúvidas de que o nazismo abominava os ideais de esquerda, tanto que judeus dividiam os campos de concentração e as câmaras de gás com esquerdistas.

É inacreditável que tenhamos que entrar nesse falso debate para defender uma obviedade histórica: o nazismo foi um regime de extrema direita. E dessa vez não foi o youtuber Nando Moura babando em seu canal que colocou o assunto em pauta, mas o maior representante do Brasil ao sair de um museu israelense, criado para contar a história dos 6 milhões de judeus mortos pelo nazismo. O próprio memorial visitado pelo presidente define o regime nazista de Hitler como sendo de extrema direita. Até mesmo o ministério das relações exteriores israelense teve que confirmar publicamente que Bolsonaro está errado. É uma vergonha para os brasileiros.

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Mas enquanto Bolsonaro joga o nazismo alemão no colo da esquerda, nazistas brasileiros combatem as esquerdas e veneram Bolsonaro. Os fatos falam por si.

Em 2011, quando Bolsonaro fez declarações homofóbicas no CQC e respondeu a Preta Gil que não correria o risco de ver seus filhos apaixonados por uma negra porque foram bem educados, grupos neonazistas organizaram um ato de apoio ao então deputado no Museu de Arte de São Paulo, o Masp. “Quando vi o que estão fazendo com ele, entrei na comunidade. Sou fã do dep. Jair Bolsonaro’ do Orkut e lancei a ideia de fazer um ato cívico na Paulista”, contou o extremista de direita Marcio Galante para o Diário de São Paulo. Segundo ele, participariam do ato organizações militares extra-quartel, separatistas, católicas radicais e grupos de extrema direita. O ato de apoio a Bolsonaro também foi convocado no fórum “Stormfront.org”, comandado pelo movimento neonazista internacional White Pride Worldwide. Um membro do fórum chamado “Erick White” escreveu: “Vamos dar o nosso apoio ao único Deputado que bate de frente com esses libertinos e Comunistas!!! Será um manifesto Cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos”. O convite para o ato é finalizado com um “14/88”. O número 14 refere-se às 14 palavras da frase do supremacista branco americano David Lane: “Devemos assegurar a existência de nosso povo e um futuro para as Crianças Brancas”. Já o número 88 significa “Heil Hitler”, com o número 8 representando a letra H, a oitava do alfabeto.

Bolsonaro afirmou que não poderia estar presente, mas apoiou o ato: “Fico feliz se o movimento for voltado contra as propostas que estão aí, de invadir as escolas de primeiro grau simulando o homossexualismo e preparando nossos jovens para a pedofilia”.

Estiveram presentes ao ato vários grupos neonazistas como o Kombat RAC (Rock Against Communism) e o Ultra Defesa. Alguns se identificavam com roupas, bandeiras e tatuagens alusivas ao nazismo. Grupos de esquerda apareceram no Masp para protestar contra os nazistas, e o clima ficou tenso. A Polícia Militar precisou fazer um cordão de isolamento para evitar o confronto. No mundo inteiro, aliás, episódios de pancadaria entre esquerdistas e neonazistas nas ruas acontecem com frequência. Se eles conhecessem a História segundo Bolsonaro, estariam se beijando.

Eduardo Thomaz, líder do Ultra Defesa, afirmou “a gente está dando apoio ao deputado Jair Bolsonaro porque ele representa a família brasileira e nós temos o direito de apoiá-lo”. Em seu site, o Ultra Defesa afirma que seus princípios fundamentais são “Deus, Brasil e Família”. Os integrantes do grupo também são adeptos da “Saudação Romana”, que é o ato de estender o braço para a frente com a palma da mão para baixo. Sim, aquele mesmo gesto utilizado para saudar Adolph Hitler.

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Policiais civis que investigam crimes de intolerância estiveram presentes no Masp e identificaram manifestantes pró-Bolsonaro que já foram presos por ações violentas contra minorias. Sete deles foram detidos. Entre eles, um dos neonazistas responsáveis pelo atentado à bomba na Parada Gay de 2009.

Durante as eleições, Bolsonaro entrou com uma ação por danos morais contra uma charge que o associava ao nazismo. A desembargadora Cristina Tereza Gaulia negou o pedido. Ela justificou afirmando que, se Bolsonaro não ficou constrangido em aparecer na foto com um correligionário fantasiado de Hitler, não haveria também dano moral na charge. A foto é essa:

(Foto: Reprodução/Facebook)

O sósia de Hitler (refiro-me ao homem à direita na foto) é o Professor Marco Antonio, que foi candidato a vereador do Rio de Janeiro pelo PSC, o mesmo partido de Bolsonaro à época. Carlos Bolsonaro chegou a convidá-lo para discursar numa sessão sobre o projeto Escola sem Partido na Câmara do Rio, mas Marco Antonio foi impedido pelo presidente da sessão por estar fantasiado de Hitler. O professor nega ter feito cosplay do ditador nazista. Afirmou que foi à Câmara com “cabelo cortado no estilo militar e estava com bigode estilo francês”.

A candidatura de Professor Marco Antonio chegou a receber doação financeira de Flávio Bolsonaro para a sua campanha.

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Convidado por Carlos Bolsonaro, Professor Marco Antônio (PSC) visita a Câmara do Rio.

(Foto: Reprodução/YouTube)

Em 2015, Jair Bolsonaro começava a construir sua candidatura viajando pelo Brasil. Quando foi a Recife (PE), muita gente apareceu no aeroporto para recepcionar a família Bolsonaro, entre eles um skinhead dos Carecas do Brasil. O grupo é acusado pelo Ministério Público por ter espancado um jovem negro e gay em Recife. Também são suspeitos de espalhar cartazes pela cidade com a frase “Hitler tinha razão”.
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Skinhead recepciona Jair Bolsonaro e seu filho em Recife (PE).

(Foto:Reprodução/YouTube)

Em 2013, neonazistas mineiros foram presos por apologia ao nazismo, entre outros crimes. A investigação começou depois que um integrante postou foto no Facebook enforcando um morador de rua com uma corrente de aço numa avenida em Belo Horizonte. Na casa de um deles, a polícia apreendeu os seguintes objetos: “um livro sobre Hitler; uma touca ninja; uma camisa preta do Movimento Pátria Nossa; um envelope contendo uma carta enviada por Jair Bolsonaro”.

Sim, o então deputado escreveu para um nazista brasileiro. A carta foi encaminhada para a apuração do Ministério Público. O conteúdo dela não é conhecido, pois o processo corre sob segredo de Justiça. Pode não ser nada demais. Pode ser apenas uma carta com conteúdo de campanha eleitoral padrão, mas também pode não ser. Pelo fato de ter sido apreendida e enviada para averiguação do MP, suponho que o seu conteúdo não seja tão inocente. Aliás, a imprensa não deveria mais ficar perguntando para o Bolsonaro se o nazismo é de direita ou de esquerda, como fez em Israel. A gente já conhece a resposta. Tem que perguntar o que tinha naquela carta enviada para o seu simpatizante nazista de Minas Gerais. É um direito do brasileiro conhecer que tipo de relação seu presidente mantinha com um extremista criminoso.

É evidente a sintonia entre algumas das principais pautas de Bolsonaro e as dos nazistas: o ataque às minorias, a defesa da família, o nacionalismo e o combate ao comunismo. Isso não faz de Bolsonaro um nazista, mas não deixa dúvidas de que o bolsonarismo e o nazismo estão em espectros ideológicos muito próximos. Mas muito mesmo. Bolsonaro pode não ser nazista, mas tem amigos que são.

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