João Filho

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

O jornalismo destemido do Intercept só é independente graças aos milhares de leitores que fazem doações mensais. Mas perdemos centenas desses apoiadores este ano.

Nossa missão tem que continuar mesmo depois que o último voto for dado nesta eleição. Para manter nossa redação forte, precisamos de 1.000 novos doadores mensais este mês.

Você nos ajudará a revelar os segredos dos poderosos?

SEJA MEMBRO DO INTERCEPT

Bibo Nunes Show: as maracutaias do deputado federal e apresentador de TV que rachou o PSL gaúcho

Bibo Nunes conspirou para colocar um réu com processo de caixa 2 na presidência do partido no estado e está com contas de campanha sob suspeita.

Bibo Nunes Show: as maracutaias do deputado federal e apresentador de TV que rachou o PSL gaúcho

bibo-nunes-header-1557670100

Foto: Reprodução/Facebook

O PSL era só mais um partido nanico de direita com uma representação irrisória no Congresso. Depois que foi alugado pelo bolsonarismo, virou o bunker oficial da extrema direita, abrindo espaço para as figuras mais bizarras da chamada nova política.

A sigla foi catapultada para o centro do debate político e rapidamente derreteu as ilusões de quem sonhava com uma renovação das práticas políticas. O que se vê é um amontoado de reacionários oportunistas que desprezam o jogo democrático — o qual chamam de velha política — e pisam fundo no acelerador da politicagem mais rasteira. Em pouco mais de três meses, os neófitos do PSL têm se destacado pela falta de projetos, pelos arranca-rabos e pelos esquemas de corrupção que criaram candidatos-laranja em vários estados.

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar


No Rio Grande do Sul, o partido mal nasceu (era irrelevante antes de Bolsonaro) e já trocou de presidente duas vezes. Como é padrão no PSL, a escolha do primeiro presidente foi feita nas coxas. A ex-apresentadora de TV e empresária Carmen Flores “não sabia o que era o PSL” quando os então deputados Onyx Lorenzoni e Jair Bolsonaro “jogaram a presidência do partido no seu colo”. Dali pra frente foi só confusão. Carmen não viu problema em usar parte das verbas do fundo partidário para contratar sua filha e sua neta para trabalhar na campanha. Outra parte ela usou para mobiliar a sede do PSL-RS comprando móveis em uma loja da rede “Carmen Flores”, da qual é proprietária.

Em dezembro do ano passado, o vice-presidente do PSL gaúcho Bibo Nunes, que também ganhou fama como apresentador de TV no Rio Grande do Sul, atuou para derrubar sua amiga da presidência. Carmen perdeu força ao ficar de fora do Senado, enquanto Bibo foi eleito deputado federal. Ele passou a dizer em entrevistas que ela não seria mais presidente do partido em 2019. Carmen negou e disse ter o apoio do presidente do PSL nacional.

No fim do mês, Carmen não aguentou a pressão e decidiu se desfiliar do partido, alegando ter sido traída. “O PSL é pior do que muitos partidos”, disse Carmem à época. Bibo Nunes respondeu: “essa senhora está com problemas mentais há muito tempo”. As duas celebridades de TV, representantes da nova política, mal haviam estreado e já estavam se engalfinhando pela disputa do poder.

O PSL gaúcho, então, passou a ser presidido pelo Tenente Coronel Zucco, o deputado estadual mais votado do estado, enquanto Bibo Nunes se manteve como vice. Quando a crise no PSL nacional estourou, Bibo, sempre buscando protagonismo, subiu no púlpito da Câmara para acusar Bebianno. O ex-ministro e ex-presidente nacional do PSL teria ameaçado barrar a candidatura de Bibo e expulsá-lo do partido caso continuasse expondo as maracutaias de Carmen Flores.

Não satisfeito em derrubar a antiga presidente, Bibo Nunes passou a trabalhar para derrubar Zucco. Abriu guerra contra ele e iniciou lobby para tornar o deputado federal Nereu Crispim o novo presidente. Um áudio vazado deflagrou a crise. Nele, Bibo fala como se fosse dono do PSL e ataca o presidente e membros da direção:

 “O Zucco tá fora, não é mais o presidente, tá fora. Ele, o Sanderson, todos, tão fora, foram expulsos. Não estão mais na executiva, tá? E eu vou tomar conta. Mas espera dois meses que eu vou tomar conta, vou botar o Nereu (Crispim) agora, depois eu vou ajeitar tudo. Esse palhaço do Zucco, aí, quem ele tá pensando que é? Zucco tá na rua. Sanderson também. Tão tudo fora, tá? Deixa que nós vamos ajeitar tudo isso aí, fica tranquilo. Te falei. Esses palhaços aí se deram mal, tão fora, desmoralizados.”

Zucco recorreu ao Conselho de Ética do partido para que Bibo fosse punido por quebra de decoro. Como o Conselho não se pronunciou, Zucco e a cúpula do PSL gaúcho renunciaram. A Executiva Nacional do partido decidiu que o novo presidente do partido no estado é Nereu Crispim, o nome desejado por Bibo Nunes. Crispim está no seu primeiro mandato e já tem um currículo de fazer inveja ao que eles chamam de “velha política”: é réu no TRE e corre sério risco de ter o mandato cassado por abuso de poder econômico, caixa 2 e captação ilícita de votos.

zuco-1557520441

Nereu Crispim em visita ao gabinete do então deputado Jair Bolsonaro.

Foto: Reprodução/Facebook


Bibo Nunes Show

Antes de chegar a Brasília, o deputado Bibo Nunes era um radialista e apresentador de TV falastrão e carismático, um Ratinho dos pampas. Está no ar desde os anos 80 e apresentou durante 10 anos o Bibo Nunes Show, um programa de variedades dos mais sensacionalistas. Todo gaúcho conhece o episódio em que o mentalista Kardini, figurinha carimbada no Bibo Nunes Show, interrompeu uma briga no estúdio apenas com o poder da mente. Tudo forjado, óbvio, o que dá para ter uma ideia de como Bibo subestima a inteligência da população.

Em 2016, o Bibo Nunes Show ajudou a promover o então deputado Jair Bolsonaro, que começava a se lançar como candidato à Presidência com uma entrevista de mais de 15 minutos. Apesar de jornalista, Bibo Nunes fez papel de cabo eleitoral e passou a entrevista levantando bolas para Bolsonaro cortar. Nem Carluxo faria melhor. A conversa terminou com Bolsonaro elogiando, quem diria, a imprensa: “Estou sendo muito bem tratado pela mídia aqui do Rio Grande do Sul”.

Em pouco tempo de mandato, Bibo já provou que, como deputado, é um excelente apresentador do Bibo Nunes Show. Antes de tomar posse na Câmara, fez parte do trem da alegria bolsonarista que foi para a China bancada pelo regime comunista. Também integrou um outro trem da alegria para Portugal, esse pago pelos cofres públicos, com a missão de conhecer mais sobre turismo religioso, esportivo, patrimônio histórico e legalização de cassinos. Até o Santuário de Fátima ele foi visitar. No carnaval, Bibo aproveitou para emendar um feriadão. Saiu da Câmara no dia 29 de fevereiro e só foi voltar a pegar no batente no dia 12 de março. Na segunda-feira de carnaval, Bibo usou verba pública para bancar uma pizza grande, sorvetes e bebidas em um restaurante no litoral gaúcho. A nova política é um museu de grandes novidades.

A campanha de Bibo recebeu apenas duas doações. Um dos doadores é ele próprio, que colocou R$ 207.216,90 na campanha. A outra doação foi de R$ 30 mil, feita por um estrangeiro, o que é ilegal. O Ministério Público Eleitoral recomendou a desaprovação das contas da campanha. O caso chegou ao TSE e segue sob discussão jurídica.

Bibo jura desconhecer a única pessoa além dele que contribuiu para a sua campanha. “Eu não conheço esse cidadão, ele colocou na minha conta. Ele me deu doação, nunca vi ele na minha vida. Eu não queria que ninguém me desse dinheiro, a minha campanha quem banca sou eu, toda doação foi minha”, contou ao jornal Zero Hora depois que a área técnica do TSE recomendou a desaprovação das contas. Após conversar com advogados, voltou a falar com o jornal: “Está tudo resolvido. O cara é empresário, tem várias empresas no Brasil, tem imposto de renda, tudo certinho. Não há nada de errado na doação.”

Não é bem assim. O doador misterioso se chama Juan Antonio Bruno Perroni, um uruguaio não naturalizado que fez a doação como pessoa física. A campanha de Bibo Nunes foi a única que contou com o apoio financeiro do empresário. Perroni é um empresário da indústria fumageira que já foi condenado em duas instâncias pela Justiça Federal por falsificar selos de controle de IPI de embalagens de cigarro.

Segundo o inquérito, Perroni e um filho foram presos em flagrante em 1997 com mais de 30 mil selos de controle de cigarros, “dos quais 80% falsos”. Eles também tinham mercadorias estrangeiras sem nota fiscal e blocos de notas fiscais com numeração repetida. A Polícia Federal concluiu que 88,6% dos 140 mil maços de cigarro analisados em perícia continham selos falsos.

Considerado culpado pelo crime de falsificação e absolvido pelo de descaminho (mercadoria estrangeira introduzida clandestinamente no Brasil), Perroni teve a condenação confirmada em segunda instância. Porém a pena foi substituída por prestação de serviços à comunidade e multa. Perroni e os outros réus apelaram para o STJ, mas o crime prescreveu antes e a pena foi extinta.

Como se vê, o homem forte do PSL gaúcho está enrolado até o pescoço. Assim como a maioria dos representantes do engodo da nova política, Bibo Nunes está rapidamente queimando o capital político adquirido nas eleições ao surfar a onda bolsonarista.

O paladino da moral já derrubou de forma sorrateira dois presidentes do diretório regional do seu partido, trabalhou para colocar um réu em processo de caixa 2 na presidência, esticou o carnaval na praia comendo pizza às custas dos cofres públicos e teve a campanha financiada por um empresário condenado por falsificação. Bem-vindos à nova era.

Você sabia que...

O Intercept é quase inteiramente movido por seus leitores?

E quase todo esse financiamento vem de doadores mensais?

Isso nos torna completamente diferentes de todas as outras redações que você conhece. O apoio de pessoas como você nos dá a independência de que precisamos para investigar qualquer pessoa, em qualquer lugar, sem medo e sem rabo preso.

E o resultado? Centenas de investigações importantes que mudam a sociedade e as leis e impedem que abusadores poderosos continuem impunes. Impacto que chama!

O Intercept é pequeno, mas poderoso. No entanto, o número de apoiadores mensais caiu 15% este ano e isso está ameaçando nossa capacidade de fazer o trabalho importante que você espera – como o que você acabou de ler.

Precisamos de 1.000 novos doadores mensais até o final do mês para manter nossa operação sustentável.

Podemos contar com você por R$ 20 por mês?

APOIE O INTERCEPT

Inscreva-se na newsletter para continuar lendo. É grátis!

Este não é um acesso pago e a adesão é gratuita

Já se inscreveu? Confirme seu endereço de e-mail para continuar lendo

Você possui 1 artigo para ler sem se cadastrar