João Filho

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Censura a militares e o caso Gabriel Monteiro: Witzel dá liberdade de expressão só para a direita

Com 1 milhão de seguidores, o youtuber do MBL Gabriel Monteiro defende a política de Witzel, e governador agradece livrando-o da expulsão da PM.

Censura a militares e o caso Gabriel Monteiro: Witzel dá liberdade de expressão só para a direita

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Foto: Reprodução/Instagram

Em abril deste ano, políticos de esquerda organizaram um evento na Câmara do Rio de Janeiro em homenagem à Revolução Cubana, com a presença de cônsules cubanos. O policial militar Gabriel Monteiro, de 25 anos, youtuber e integrante do MBL, foi lá para provocar os participantes.

Sem autorização prévia de ninguém, ligou a câmera e começou a fazer perguntas para quem passava por ali, fingindo buscar um debate saudável, mas com o intuito claro de conseguir uma boa treta para engrossar as visualizações do seu canal no YouTube. Bem, você conhece o modus operandi de um youtuber do MBL.

Depois de muitas provocações escamoteadas de perguntas sinceras, a equipe de segurança da Câmara pediu para que ele se retirasse. Ele se negou e continuou intimidando os presentes. Um dos seguranças, que é coronel da Polícia Militar, tentou colocar o soldado para fora à força, mas o vereador Tarcísio Motta, do PSOL, impediu, temendo que ele fosse agredido. Gabriel então continuou ali buscando o agravamento do conflito que criou. A tensão foi aumentando e finalmente o youtuber conseguiu o que queria: foi colocado pra fora aos tapas e pontapés.

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O caso fez a Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro decidir pelo seu afastamento da corporação. Gabriel foi acusado de ofender a instituição nas redes sociais, manter conduta irregular e faltar ao trabalho para participar de atividades do MBL. Segundo a decisão, o militar ostentava “uma ficha disciplinar extensa, demonstrando ineficiência no exercício da função e descompromisso com o serviço militar”. Decidiu-se que o youtuber perderia o porte de arma, seria encaminhado para a Comissão de Revisão Disciplinar e teria sua identidade de PM suspensa.

Mas eis que o general Figueiredo, nomeado por Witzel para ser secretário de Estado da Polícia Militar, decidiu anular a decisão da corregedoria e livrar a cara do policial-militante de direita. A canetada revoltou o corregedor-chefe da PM, que pediu exoneração em protesto à arbitrariedade.

Graças ao apoio fundamental do governo Witzel, Gabriel Monteiro pôde continuar a atuar como policial nas ruas do Rio e como defensor da política de segurança de Witzel nas redes sociais. O youtuber-policial do MBL costuma postar fotos do seu dia a dia nas ruas “prendendo noias” durante operações militares e posando ao lado de fãs. Após a morte de um jovem de 15 anos no Jacarezinho, Gabriel comentou em vídeo “antes vagabundos mortos do que nossos heróis feridos”.

A promiscuidade entre policiais militares e políticos é um dos traços mais assustadores do bolsonarismo.

Protegido pela decisão do secretário de Witzel, o soldado se sentiu à vontade para aparecer em Inhaúma, bairro onde aconteceu o enterro de Ágatha Félix, a garota de oito anos que foi assassinada pela Polícia Militar no Complexo do Alemão. Com seu jeitinho cínico e passivo-agressivo, o policial do MBL protagonizou mais uma briga, dessa vez com um jovem morador de favela, que estava indignado com a crescente morte de inocentes no Rio.

Ele se revoltou quando o policial relativizou a morte de inocentes ao exaltar a apreensão de armas nas favelas como consequência das incursões policiais nos morros. É a revolta legítima de quem cresceu vendo inocentes sendo assassinados pela polícia e está diante de um policial que defende a política de segurança causadora dessa tragédia. O youtuber foi peitado e revidou com um soco na cara. Entrou no carro e fugiu covardemente. O MBL saiu em defesa da ação do seu integrante, assim como políticos bolsonaristas.

A vida política do policial Gabriel Monteiro não se resume à participação no MBL ou à militância nas redes sociais. Como informou o jornalista Ruben Berta, o youtuber está cedido ao gabinete do deputado Filippe Poubel, do PSL, na Assembleia Legislativa do Rio. Ele conseguiu essa mamata logo após o seu processo na corregedoria da PM ter sido anulado pelo governo Witzel. Há tempos, Gabriel ronda mamatas na política carioca. Em 2014, ele esteve lotado na Alerj no gabinete do deputado Armando José, do PSB.

Gabriel não só conseguiu se safar de uma punição como foi premiado com trabalho em gabinete de político do PSL. Filippe Poubel, o deputado do PSL que o emprega, é o caminho para entender as conexões políticas que fazem Gabriel ter costas quentes com os poderosos do Rio. Poubel é bastante próximo da família Bolsonaro, principalmente do Flávio — que empregava parentes de chefe da milícia no seu gabinete — e, por isso, se tornou o presidente do PSL de Maricá.

Censura a militares e o caso Gabriel Monteiro: Witzel dá liberdade de expressão só para a direita

Gabriel Monteiro no gabinete do deputado estadual Filippe Poubel (PSL-RJ)

Foto: Reprodução/Facebook

Em sua página do Facebook, Poubel se diz “defensor dos valores da família”, mas foi acusado pela ex-mulher por agredir a ex-sogra com um soco na cabeça. Ele negou acusação e, acredite se quiser, alegou ter sido tudo uma “armação do PT”. O seu irmão, Glauber Poubel, é um policial militar que já tentou uma vaga de vereador em São Gonçalo em 2016. No ano passado, Glauber foi preso por participar de uma quadrilha que extorquia pessoas de baixa renda. O policial fazia empréstimo e depois cobrava juros abusivos. Segundo o delegado responsável pelo caso, “centenas de pessoas, em vários municípios do estado, foram vítimas dessa organização criminosa. Alguns dos agiotas se identificavam como Inspetores de polícia e policiais civis lotados na Corregedoria.”

Além da cobrança de juros abusivos, os integrantes da quadrilha intimidavam seus “clientes” e familiares ameaçando enviar “cobradores de rua” em suas casas se não pagassem. Até parece um método de milícia, não é verdade? A prisão de Glauber Poubel fez Jair Bolsonaro e seu irmão perderem um cabo eleitoral, já que ele militava nas ruas para os dois.

Esse é o background político do youtuber Gabriel Monteiro. É claro que há um projeto político por trás dele. São essas as suas referências e dá pra ter uma ideia de que tipo de político ele pode ser. É da mesma linhagem de Carlos Jordy, Daniel Silveira, Rodrigo Amorim, Flávio Bolsonaro e outros que se elegem com um discurso conservador, violento e alinhado com a banda, digamos assim, menos republicana dos militares. Gabriel tem ganhado bastante visibilidade e já conta com mais de 1 milhão de seguidores em suas redes sociais. As suas pretensões políticas são claras e certamente ele poderá contar mais uma vez com o apoio do governo Witzel e dos políticos ligados à família Bolsonaro.

Em um texto publicado pelo Intercept no mês passado, um bombeiro carioca fez críticas à proposta de reforma do Código de Trânsito apresentada pelo governo de Jair Bolsonaro. Ele apontava o inevitável aumento de acidentes que viria como consequência do fim da multa para quem transportar crianças sem cadeirinha e a dispensa de autoescola para motoristas.

A crítica foi bastante equilibrada, sem nenhum ataque ao presidente ou ao governo, e compartilhava das mesmas constatações óbvias feitas por qualquer especialista em segurança de trânsito. Mesmo assim, a corregedoria dos bombeiros do Rio de Janeiro considerou o texto uma transgressão grave e o condenou a cinco dias de prisão.

A promiscuidade entre policiais militares e políticos é um dos traços mais assustadores do bolsonarismo. É capaz de produzir aberrações como a prisão de um bombeiro que criticou educadamente uma reforma no trânsito que deve causar mortes e a absolvição de um youtuber violento que milita em defesa das políticas públicas de quem está no poder. O recado para os militares é claro: só pode se expressar politicamente quem estiver alinhado ao bolsonarismo.

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