Por décadas, a Coca-Cola promoveu sua imagem pública como uma empresa ambientalmente responsável, com doações para organizações sem fins lucrativos que realizam reciclagem. Enquanto isso, como uma das marcas mais poluentes do mundo, lutou silenciosamente contra esforços para responsabilizá-la pelo lixo plástico.
O áudio de uma reunião de líderes de reciclagem obtida pelo Intercept revela como a filantropia “verde” da gigante do refrigerante ajudou a reprimir o que poderia ter sido uma ferramenta importante no combate à crise do plástico – e lança uma luz sobre as táticas dos bastidores as empresas de bebidas e plásticos têm usado sorrateiramente por décadas para evitar a responsabilidade por seus resíduos. A reunião do grupo de coalizão conhecida como Atlanta Recycles ocorreu em janeiro no Center for Hard to Recycle Materials, no sul de Atlanta.
Entre os tópicos da agenda para os especialistas em reciclagem estava um subsídio para Atlanta como parte de uma campanha multimilionária que a Coca-Cola estava lançando “para aumentar as taxas de reciclagem e ajudar a inspirar um movimento popular”. Mas rapidamente ficou claro que uma possível via para aumentar as taxas de reciclagem – um projeto de lei sobre garrafas de plástico – estava fora de questão.
Este é John Seydel, diretor do Gabinete de Resiliência do prefeito de Atlanta:
Seydel estava certo. Se eles estivessem realmente interessados em aumentar a taxa de reciclagem – isto é, uma lei sobre o uso ou depósito na compra das garrafas que exige que as empresas de bebidas cobrem uma taxa sobre o preço de sua bebida a ser reembolsada após a devolução do envase –, isso seria de fato algo que valeria a pena dar atenção. É muito mais provável que as pessoas devolvam suas garrafas se houver incentivo financeiro. Estados com leis sobre o uso de garrafas reciclam cerca de 60% de suas garrafas e latas contra 24% em outros estados. De acordo com um estudo de 2018 dos EUA e da Austrália publicado na revista Marine Policy, os estados que possuem tais leis também têm uma média de 40% menos lixo de envases de bebida em seus litorais.
Mas as leis sobre as garrafas também colocam parte da responsabilidade – e custo – da reciclagem nas empresas produtoras de resíduos, e pode ser por isso que a Coca-Cola e outras empresas de refrigerantes há muito tempo lutam contra elas.
Essa é Gloria Hardegree, diretora executiva da Georgia Recycling Coalition, uma organização que recebe financiamento da Coca-Cola. E ela tinha certeza de que o benfeitor de longa data de sua organização seria totalmente contra uma lei sobre as garrafas de plástico:
O programa Mundo Sem Resíduos, que Hardegree mencionou, é o que a Coca-Cola chama de “plano holístico” para reciclar todas as garrafas e latas que vir a produzir até 2030. É um objetivo elevado, e muitos diriam que não é realista, especialmente sem leis estaduais ou nacionais de depósito. Mas Hardegree deixou claro que não esperava que a Coca-Cola se movesse – e que o dinheiro dependia de não pressionar por essa estratégia eficaz de reciclagem.
Kanika Greenlee, diretora executiva da Comissão Keep Atlanta Beautiful e vice-presidente da Keep America Beautiful, que recebe financiamento da Coca-Cola, concordou que a empresa sediada em Atlanta provavelmente retiraria os fundos se o grupo decidisse apoiar uma lei sobre as garrafas. Greenlee também atua como diretora de programas ambientais para a cidade de Atlanta.
A Coca-Cola não é a única empresa de refrigerantes que provavelmente se oporia ao trabalho de uma lei sobre garrafas plásticas. Aqui está Hardegree novamente, respondendo a uma pergunta feita por Seydel:
Questionado sobre seus comentários na reunião, Seydel disse que os mantém. Ele também elogiou os recentes esforços da Coca-Cola para fabricar garrafas a partir de plásticos encontrados no oceano. “É muito legal que eles estejam pensando fora da caixa”, disse Seydel. “As coisas estão mudando e elas precisam mudar.”
Em um e-mail, Gloria Hardegree escreveu que o objetivo da reunião de janeiro era revisar o plano de trabalho anual do grupo. “A questão política foi levantada fora de contexto por outra pessoa presente.” A discussão sobre as leis das garrafas, escreveu Hardegree em outro e-mail, “era uma parte muito pequena de uma reunião anual de planejamento que abordava metas + projetos para o grupo que apoia uma reciclagem abrangente para a cidade.”
Kanika Greenlee não respondeu aos pedidos por comentários. Um porta-voz da Keep America Beautiful disse que Greenlee estava representando a cidade de Atlanta e a Comissão Keep Atlanta Beautiful na reunião.
Em resposta por e-mail a perguntas do Intercept, um representante da Coca-Cola disse que a empresa concedeu uma subvenção à Recycling Partnership para apoiar um programa comunitário de reciclagem em Atlanta projetado para aumentar as taxas de reciclagem na rua, melhorar a coleta e expandir a reciclagem a condomínios residenciais e aumentar a reciclagem nos campi das faculdades. O e-mail comentava que ninguém da empresa estava presente na reunião e que “as opiniões da empresa sobre políticas públicas são independentes das doações de caridade da The Coca-Cola Foundation.”
Culpando os consumidores
Embora outras empresas de refrigerantes se oponham às leis das garrafas, a Coca-Cola deve saber melhor do que ninguém que os depósitos na compra de garrafas plásticas podem ser bem-sucedidos para que os clientes as devolvam: eles foram pioneiros no sistema. Durante décadas, a Coca-Cola estava disponível apenas em garrafas de vidro retornáveis. Em 1948, quando os consumidores de Coca-Cola faziam um pequeno depósito na compra – quase metade do que pagaram pela bebida –, eles devolviam cerca de 96% das famosas garrafas caneladas, de acordo com um estudo realizado naquele ano pelo Comitê de Conservação de Recursos dos Estados Unidos.
Mas tudo isso mudou depois que a Coca-Cola começou a adotar garrafas plásticas nos anos 1950. À medida que o lixo se acumulava, o público começou a pressionar a empresa a assumir a responsabilidade por ele. A Coca-Cola recuou com força, com uma estratégia de duas frentes, atacando os esforços para fazer a indústria lidar com seus resíduos, enquanto promovia a mensagem de que os consumidores eram os culpados pelo problema. Ambos foram realizados em grande parte por meio de organizações genéricas que trabalharam em nome da Coca-Cola e de outras empresas de refrigerantes e garrafas mantendo seus nomes de marcas fora dos olhos do público.
Em 1953, logo depois que o estado do Vermont aprovou a primeira lei sobre garrafas do país, um grupo de empresas de bebidas e embalagens, juntamente com a Philip Morris, fundou a organização anti-lixo Keep America Beautiful. “A Keep America Beautiful foi uma resposta direta ao que aconteceu em Vermont”, disse Susan Collins, presidente do Container Recycling Institute, uma organização sem fins lucrativos da Califórnia dedicada a estudar e melhorar a reciclagem na América do Norte.
A estratégia da Coca-Cola de usar outras organizações para transmitir suas mensagens se mostrou útil. Em 1968, quando foi proposta uma legislação estadual e federal que tornaria obrigatórios os depósitos na compra de envases não retornáveis, a Coca-Cola não fez lobby contra ela, pelo menos não publicamente. Em vez disso, foi a Associação Nacional de Refrigerantes, financiada pela Coca-Cola, que fez o trabalho para anular o projeto. Ao mesmo tempo, a Keep America Beautiful, a KAB, estava deixando as pessoas saberem que “manter a América bonita é seu trabalho”. Aqueles que falharam nesse emprego eram “sujões”, ou, como a organização sem fins lucrativos deixou perturbadoramente claro em um vídeo naquele ano, porcos.
Em resposta às perguntas desta reportagem, Noah Ullman, porta-voz da Keep America Beautiful, escreveu em um e-mail que a “KAB não é contra as leis das garrafas. Acreditamos que todas as opções para lidar com a reciclagem, incluindo a legislação sobre depósitos, precisam estar sobre a mesa e serem avaliadas. Esta não é uma nova posição para a KAB.”
Enquanto isso, a Coca-Cola estava criando uma imagem corporativa e popularesca de amiga da Terra. Em 1971, entre duas lutas legislativas em que lobistas financiados pela Coca-Cola e outras empresas de bebidas derrotaram projetos de lei federais que proibiam garrafas de bebidas não retornáveis, a Coca-Cola divulgou seu agora infame anúncio no topo da colina. Mesmo quando a associação comercial que apoiava estava silenciosamente bloqueando a criação de um sistema nacional que poderia ter gerenciado o enorme desperdício que iria produzir, publicamente, a Coca-Cola estava unindo permanentemente sua marca a “macieiras e abelhas e pombas brancas.”
Um subsídio maciço à indústria de bebidas
A Coca-Cola fabrica atualmente 117 bilhões de garrafas plásticas por ano, de acordo com suas próprias estimativas, bilhões incontáveis das quais acabam sendo queimadas ou despejadas em aterros sanitários e na natureza. A Coca-Cola foi responsável por mais desperdício do que qualquer outra empresa em uma limpeza global de plástico realizada em 2018 pelo grupo Break Free From Plastic, com plástico da marca Coca-Cola sendo encontrado ao longo do litoral e nos parques e ruas de 40 dos 42 países participantes.
Na frente política, sua defesa contra as leis das garrafas teve grande êxito. Agora, apenas 10 estados dos EUA têm de fato leis sobre as garrafas, a maioria aprovada nas décadas de 1970 e 1980. A Geórgia, onde estava sendo realizada a reunião de líderes em reciclagem, não é um deles. Como a maior parte do país e do mundo, o estado se vê inundado de plástico. Somente nos primeiros seis meses deste ano, a Geórgia exportou 21,6 milhões de quilos de lixo plástico, a maioria destinada a países pobres com pouca capacidade de gerenciá-lo, incluindo Índia, Indonésia, Malásia, Paquistão, Senegal, Tailândia, Turquia e Vietnã.
Por que a Coca-Cola e as outras empresas de bebidas lutaram tanto contra as leis das garrafas? “No centro, está o compromisso de não ser responsável por suas embalagens”, disse Collins, do Container Recycling Institute. “Tudo realmente se resume a isso é uma despesa, e eles preferem que outra pessoa pague por isso.”
Segundo Collins, o financiamento da indústria para organizações locais sem fins lucrativos tem sido uma ferramenta importante para derrotar os projetos de lei sobre as garrafas. “A Coca-Cola e outras empresas de bebidas financiam, em certa medida, as organizações de reciclagem em todos os estados e usam esses fundos de maneiras influentes”, disse ela. “Eles exercem pressão sobre essas organizações para se manifestarem contra as leis de depósito na compra de embalagens de bebidas”. Se a Coca-Cola abertamente defendesse as leis das garrafas, seria percebida como agindo por interesse próprio. “Mas quando as palavras saem da boca dos profissionais de reciclagem”, disse Collins, “especialmente as organizações estaduais de reciclagem, essas palavras têm algum peso.”
As décadas de esforços da Coca-Cola nos bastidores conseguiram mudar o custo do gerenciamento de resíduos da Coca-Cola e outras empresas de bebidas para os programas municipais de reciclagem, de acordo com Bartow Elmore, historiador e autor de “Citizen Coke: The Making of Coca-Cola Capitalism [Cidadão Coca: A criação do capitalismo da Coca-Cola]. “A Coca-Cola pegou algo que a empresa tinha que gerenciar e pagar e empurrou a conta para o público”, disse Elmore, que descreveu a reciclagem de rua financiada pelos contribuintes que surgiu na ausência de um sistema de depósito nacional como “um subsídio maciço que acabamos dando à indústria de bebidas.”
Manter a reciclagem disfuncional
As organizações sem fins lucrativos financiadas pela indústria de bebidas e plástico impediram outras tentativas significativas de combater a reciclagem, de acordo com Mitch Hedlund, diretor executivo da organização sem fins lucrativos Recycle Across America. Hedlund se reuniu com o conselho da Keep America Beautiful em agosto para discutir o uso de etiquetas padronizadas para lixeiras. Os rótulos ajudam a evitar a contaminação do fluxo de resíduos, o que é parte do motivo pelo qual apenas cerca de um quinto do lixo é reciclado.
Usadas em distritos escolares, parques nacionais e em todo o estado de Rhode Island, as etiquetas padronizadas provocaram reduções nas despesas de transporte de lixo e aumento nas taxas de reciclagem, de acordo com o rastreamento feito pela Recycle Across America. No entanto, a Keep America Beautiful decidiu não usar os rótulos, como Hedlund descobriu em um e-mail alguns dias depois.
Hedlund disse que não ficou surpresa que a Keep America Beautiful – cujos membros do conselho incluem executivos da Coca-Cola North America, American Chemistry Council e Dow, a maior produtora de plástico do mundo – optou por não usar os rótulos padronizados. “Todos eles se beneficiam com a reciclagem que não funciona”, disse Hedlund, cuja organização desenvolveu os rótulos, mas não se beneficia financeiramente deles. Mas ele disse que ficou surpreso quando a diretora executiva da organização, Helen Lowman, admitiu vários dias depois que alguns dos membros corporativos de seu conselho estavam impedindo a KAB de melhorar o processo de reciclagem.
Em uma ligação que Hedlund agendou com Lowman para relatar a reunião, “eu disse, Helen, você e sua organização estão altamente comprometidos por esses conflitos de interesse”, lembrou Hedlund. “E ela disse ‘Você está certa. Você está 100% certa’.” Hedlund disse que continuou explicando as razões pelas quais achava que os produtores de plásticos do conselho da Keep American Beautiful poderiam se opor a estratégias que aumentassem significativamente a taxa de reciclagem.
“Está claro que a Recycling Partnership e a Keep America Beautiful são realmente influenciadas fortemente pela indústria de plásticos de resina virgem”, Hedlund lembra de ter dito a Lowman.
“Não haverá lugar para a solução padronizada de rótulos para toda a sociedade porque eles sabem que funciona e, quando funcionar, eles reduzirão drasticamente a quantidade de plástico virgem que estariam produzindo nos EUA e no mundo”. Lowman também concordou com essa avaliação, de acordo com Hedlund.
Por meio de Ullman, porta-voz da Keep America Beautiful, Lowman disse que “ela não se lembra dessa citação ou do contexto da conversa” com Hedlund. Ullman também escreveu em e-mail que a Keep America Beautiful “”não é contra rótulos padronizados. Pensamos que uma comunicação e padronização claras fazem parte da solução para um problema muito complexo.”
Ullmann também escreveu que “alinhamos objetivos com [Recycle Across America], [Container Recycling Institute] e outros. Todos nós queremos incentivar e melhorar a reciclagem. Mas também acreditamos em uma abordagem multissetorial para conseguir isso, com organizações sem fins lucrativos, fabricantes e governo trabalhando juntos. Entendemos que algumas pessoas não concordam com essa abordagem. Vemos isso como a melhor maneira de alcançar nossos objetivos em comum. Gostaríamos de superar todos esses argumentos semânticos e conseguir fazer algumas coisas.”
Uma estratégia global
A Coca-Cola parece ter implantado uma estratégia semelhante em todo o mundo. A empresa apoia organizações ambientais e de reciclagem em dezenas de países, incluindo Keep New Zealand Beautiful, Ukraine Without Waste, Keep Britain Tidy, Ciudad Saludable em Lima e Keep Australia Beautiful.
Meses atrás, a Coca-Cola surgiu em apoio a um programa de depósito na compra de garrafas na Austrália. E, em 2017, a empresa anunciou que apoiaria um plano semelhante na Escócia. Esse anúncio seguiu o lançamento de um documento vazado pelo Greenpeace mostrando que a empresa fazia lobby contra sistemas de depósitos e “cotas recarregáveis” na Europa há anos.
Em seu e-mail, a Coca-Cola disse que “o Sistema Coca-Cola participa de sistemas de depósito em todo o mundo e o faz há 40 anos, incluindo Austrália, Noruega, Suécia, Alemanha, Áustria e Europa”.
Ainda assim, grande parte da generosidade internacional da empresa parece projetada para incentivar um senso de responsabilidade pessoal pelos resíduos. Em 2017, a Coca-Cola Foundation doou US$ 345 mil ao American India Foundation Trust para apoiar competições de reciclagem e “caminhadas trimestrais de conscientização”, por exemplo, e US$ 209,3 mil para apoiar a limpeza de detritos marinhos nos canais de Amsterdã e Roterdã por 3,6 mil crianças em idade escolar.
Entre as doações da Coca-Cola Foundation na Indonésia havia um presente de US$ 172,1 mil dólares para uma organização chamada Yayasan Greeneration Indonesia para “educar os turistas sobre turismo responsável e sustentável e capacitar os habitantes locais a começar a gerenciar e reduzir o desperdício para manter o ambiente limpo”, de acordo com a lista da fundação de subsídios pagos em 2017.
Mas a nação insular continua a ser invadida por plástico, grande parte da Coca-Cola, de acordo com Nina van Toulon, fundadora e diretora da Plataforma de Resíduos da Indonésia. “Você vai à vila mais remota daqui, a horas de qualquer lugar, e há água engarrafada e Coca-Cola. Mas então as pessoas da vila as queimam”, disse van Toulon, que tem como base a ilha de Flores. “Essas empresas fizeram um esforço para levar seus produtos a essas aldeias, mas não se esforçam para recuperar o plástico das aldeias.”
Doações filantrópicas que incentivam soluções incrementais e dão à indústria de bebidas uma “imagem verde” fazem parte do problema, disse van Toulon. “Todas essas ONGs são muito vulneráveis porque não têm recursos.”
“Essas empresas fizeram um esforço para levar seus produtos a essas aldeias, mas não se esforçam para recuperar o plástico das aldeias.”
Os moradores de Hulhumalé, nas Maldivas, enfrentaram um problema semelhante. Garrafas de plástico estão espalhadas pelas ruas e praias da ilha de 1,5 km de extensão no sul da Ásia. Limpá-los custa mais de US$ 1 milhão a cada ano. Então, quatro moradores se uniram para resolver o problema, obtendo uma subvenção do Programa de Desenvolvimento da ONU e de uma empresa de telecomunicações local, Ooredoo Maldives. Seu projeto piloto, um plano de reembolso de depósitos para garrafas plásticas que terminou em maio, resultou em 81% das garrafas plásticas sendo devolvidas.
Mas esse sucesso foi obtido apesar do obstrucionismo da Coca-Cola, de acordo com Ahmed Afrah Ismail, membro da equipe que criou o programa-piloto. Embora um representante local da Coca-Cola tenha dito em uma reunião inicial que a empresa apoiaria o projeto, Ismail disse que, mais tarde, a companhia se recusou a fornecer seus dados de produção, o que era necessário para estabelecer metas para a reciclagem. A equipe se reuniu com os três maiores vendedores de água engarrafada nas Maldivas, incluindo a Coca-Cola, dona das marcas locais Bonaqua e Aquarius.
“Das três empresas, ela foi que que menos respondeu”, disse Ismail, que observou que os representantes locais da empresa não estavam familiarizados com a promessa da Coca-Cola de reciclar todas as garrafas que produz até 2030. “Toda a nossa equipe sentiu que eles estavam tentando atrasar o projeto piloto. Nós sentimos que eles tentaram sabotar a coisa toda.”
A Coca-Cola não comentou a descrição de Ismail de sua experiência com a empresa, mas apontou para o seu apoio à “ação colaborativa de coleta de embalagens”, com uma doação à Aliança de Embalagem e Reciclagem para o Ambiente Sustentável da Indonésia, que “apoia embalagens sustentáveis e integradas soluções de gerenciamento de resíduos na Indonésia.”
Em última análise, pode não interessar se a Coca-Cola ajuda ou impede o plano de depósito de garrafas da pequena ilha. As Maldivas anunciaram sua intenção como nação de eliminar progressivamente o plástico descartável até 2023. Enquanto isso, serão introduzidos esquemas estendidos de responsabilidade do produtor, como depósitos sobre a compra de garrafas.
As Maldivas não estão sozinhas ao avançar para essa abordagem simples para resolver a questão das garrafas amontoadas ao redor do mundo. Nos últimos dois anos, houve um ressurgimento internacional do entusiasmo pelas leis de garrafas. De acordo com um artigo recente da revista Resource Recycling, em janeiro de 2017, pouco menos de 300 milhões de pessoas moravam em locais com leis de depósito. Desde então, depósitos de envases foram implementados na Romênia, Reino Unido, Índia e Turquia, entre outros países. Até 2021, quando os novos programas estiverem em funcionamento, o número de pessoas com leis de depósito dobrará para 600 milhões. E até 2030, o número deverá atingir pelo menos 1 bilhão.
Nos EUA, parece que o país está indo na direção oposta. Os programas de resgate de envases foram fechados recentemente. E as organizações sem fins lucrativos financiadas pelo setor de bebidas, incluindo a Keep America Beautiful e suas 707 afiliadas locais, têm um papel determinante na forma como o lixo plástico é limpo – ou não.
Seu dinheiro é particularmente influente após a decisão da China de não aceitar resíduos plásticos, o que tornou a reciclagem proibitivamente cara em um número crescente de cidades. “Há um cheque acima da cabeça de todos”, disse Hedlund, da Recycle Across America. Apesar da realidade nos bastidores, os vastos recursos das indústrias de bebidas e plástico permitem que os grupos que financiam demonstrem que estão liderando o processo para melhorar a reciclagem. “Eles dizem publicamente que são a favor de qualquer coisa que funcione”, disse Hedlund. “Mas as proibições funcionam, os programas de resgate funcionam e os rótulos padronizados funcionam, e eles são contra tudo isso.”
Em Atlanta, o plástico não estará sujeito a uma lei tão cedo. Depois que Seydel levantou a ideia, a sala começou a discutir acaloradamente.
No final, o grupo decidiu aceitar o dinheiro, e as condições que vinham junto, embaladas em plástico.
Tradução: Maíra Santos
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