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Joe Biden ressurge: como Bernie Sanders afundou em dez dias na corrida do Partido Democrata

Nesta terça-feira, Michigan deu um golpe esmagador na segunda campanha presidencial de Bernie Sanders. Joe Biden venceu por uma confortável vantagem de mais de 16 pontos.

O senador Bernie Sanders fala em um comício na Salina Intermediate School, em 7 de março de 2020, em Dearborn, no Michigan.

Parece o fim de um ciclo. Em março de 1988, uma virada dramática em Michigan deixou a campanha presidencial do reverendo Jesse Jackson empatada com Michael Dukakis, deixando o establishment democrata em pânico e abrindo a possibilidade de um futuro diferente para o partido. Em março de 2016, Bernie Sanders fez uma virada impressionante contra Hillary Clinton no estado, redefinindo momentaneamente as primárias. Oito meses mais tarde, Donald Trump fez a mesma coisa contra Clinton em Michigan, selando sua vitória no Colégio Eleitoral.

Nesta terça-feira, Michigan deu um golpe esmagador na segunda campanha presidencial de Sanders — apesar de receber o apoio público de Jackson no domingo. O gabinete do Secretário de Estado de Michigan disse que não liberaria os resultados oficiais até o meio-dia desta quarta, devido ao grande número de votos a distância, mas vários canais de TV declararam a vitória de Biden no estado pouco depois do fechamento das urnas, às 20h. Biden venceu por uma confortável vantagem de mais de 16 pontos.

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A vitória de Biden vem após depois de um movimento na direção do ex-vice-presidente — que Nate Silver descreveu como “provavelmente o mais rápido na história das primárias”. Sanders foi de favorito claro em 23 de fevereiro, o dia das convenções partidárias de Nevada, a um candidato estacionado em 1º de março, o dia após as primárias da Carolina do Sul, para alguém correndo atrás do prejuízo em 4 de março, um dia após a Super Terça. Os resultados das pesquisas continuaram a se afastar de Sanders ao longo da última semana, levando às derrotas em Michigan, Mississippi e Missouri, além de Idaho, nesta terça-feira, dia 10.

As “autópsias” da derrota vão começar em breve, mesmo que a campanha lute para seguir em frente, com Flórida, Arizona, Illinois e Ohio prontos para votar nesta semana — onde duas votações importantes vão colocar os pré-candidatos insurgentes Morgan Harper, em Columbus, Ohio, e Marie Newman, nos subúrbios de Chicago, Illinois, em primárias contra os congressistas democratas que hoje representam esses locais.

Essas autópsias vão olhar detidamente para as decisões tomadas por Bernie Sanders e pela senadora Elizabeth Warren, que também concorreu pelo lado progressista até desistir após a Super Terça, nos dias entre as primárias de Nevada e as votações desta semana. A grande questão que eles terão de responder é por que a campanha de Sanders foi incapaz de levar às urnas o eleitorado jovem e da classe trabalhadora que ele precisava para derrotar o oponente moderado, que o dominou entre eleitores brancos mais velhos e também entre os votantes negros.

2016 x 2020: proporção do eleitorado democrata com menos de 30 anos nas primárias

2016 vs. 2020: Share of Dem primary/caucus electorate under 30

Iowa 18% (2016) => 24% (2020)

New Hampshire 19% => 13%

Nevada 18% => 17%

Carolina do Sul 15% => 11%

Alabama 14% => 10%

Massachusetts 19% => 16%

Carolina do Norte 18% => 14%

Tennessee 15% => 11%

Texas 20% => 15%

Virginia 16% => 13%

Vermont 15% => 11%

Biden lançou sua campanha no ano passado, em 25 de abril, e tornou-se imediatamente o líder das pesquisas, começando com uma vantagem de seis pontos percentuais, com Sanders em segundo lugar. Na metade de maio, Biden já tinha superado os 40% de intenções de votos, aumentando sua vantagem para 27 pontos, já que Sanders caiu para menos de 15%. Biden, porém, tinha atingido seu ápice de 2019. Ele tropeçou várias vezes ao longo da campanha e nos debates, com figuras da mídia e oponentes abertamente se questionando se Biden ainda estava cognitivamente à altura do desafio de fazer uma campanha ou de assumir a presidência. Ele iniciou um declínio abrupto, permanecendo com sua porcentagem pouco abaixo de 30% no resto do ano, antes de desmoronar para valer no fim de janeiro, quando as prévias de Iowa se aproximavam. Lá, ele terminou em quarto lugar, superando por pouco Amy Klobuchar, uma surra que se tornou piedosa após a bagunça que o partido fez durante a contagem de votos.

Ele então fez menos de 25 mil votos em New Hampshire, terminando em um desastroso quinto lugar. Em Nevada, com 20% dos votos, Biden ficou em segundo lugar, atrás de Sanders, que se tornou o favorito para levar a indicação.

Menos de um em cada cinco eleitores das primárias democratas acreditava que Biden era o candidato com maior possibilidade de vencer, enquanto Sanders expandia sua liderança nacionalmente, inclusive ultrapassando Biden entre os eleitores negros.

Sanders estava confiante.

Tenho novidades para o establishment republicano. Tenho novidades para o establishment democrata. Eles não podem nos parar.

Dois dias após as primárias de Nevada, o programa “60 Minutes” exibiu uma entrevista em que Sanders foi apertado pelos elogios que fez a Fidel Castro por expandir a alfabetização em Cuba, resultando em vários dias de noticiário sobre Sanders e Castro. Se existem “e se” a perguntar, eles aparecem com mais força na semana entre Nevada e a Carolina do Sul. E se Sanders tivesse conseguido convencer Warren a desistir da campanha e apoiá-lo? E se os dois não tivessem passado janeiro atacando um ao outro por conta de uma conversa ocorrida durante uma reunião privada em 2018? Será que Sanders poderia ter feito a transição de insurgente para líder do partido?

Para tentar entender a vitória de Biden e a derrota de Sanders, a questão se resume à Carolina do Sul. O que Sanders poderia ter feito para evitar um apoio de Jim Clyburn a Biden, o que levou a uma derrota por 30 pontos no estado, virando a corrida eleitoral de cabeça para baixo?

Será que Sanders poderia ter feito a transição de insurgente a líder do partido?

Obviamente, ele poderia ter investido lá e feito mais campanha. Ele havia passado quarta, quinta e parte da sexta-feira na Carolina do Sul, mas então foi a Massachusetts, na esperança de derrubar Warren no estado natal dela e tirá-la da corrida. No dia em que os eleitores foram às urnas na Carolina do Sul, Sanders fez campanha em Boston. Ele poderia ter passado mais tempo fazendo publicidade diretamente para eleitores negros na Carolina do Sul, e se associado às esperanças e ao legado do ex-presidente Barack Obama, em vez de destacar a reforma da justiça criminal — um passo que muitos eleitores negros veem como bajulação.

E, talvez de forma mais importante, ele poderia ter atacado o passado de Biden. O desmoronamento de Biden em janeiro coincidiu com um ataque prolongado da equipe de Sanders, ao qual depois o próprio Sanders se uniu, no passado desastroso de Biden em temas relacionados à seguridade social. Biden historicamente não tem respondido bem a ataques políticos, e também não o fez em janeiro, repetidamente voltando para uma briga que, para ele, teria sido melhor evitar. Ele ainda atacou um repórter da CBS News, gritando “Por quê? Por quê? Por quê? Por quê? Por quê?” de uma maneira que o fez parecer desequilibrado. Sanders, por sua vez, defendeu Biden como um amigo, chegando ao ponto de pedir desculpas por uma coluna crítica escrita por um substituto, declarando: “Não é a minha opinião, em absoluto, que Joe é corrupto de alguma forma”.

Depois da Carolina do Sul, a campanha de Biden intensificou a ofensiva para conquistar Klobuchar e o Pete Buttigieg, ex-prefeito de South Bend, Indiana, que desistiram da campanha e anunciaram apoio a Biden, juntamente com o ex-candidato à presidência Beto O’Rourke. Enquanto isso, Sanders e Warren não estavam conversando entre si. Nem Sanders nem Warren ganharam Massachusetts, e o estado acabou indo para Biden.

Warren desistiu da campanha mas, em vez de apoiar Sanders, sua primeira entrevista foi dedicada a bater em Sanders pelo mau comportamento dos seus apoiadores online. Uma esmagadora maioria dos partidários de Warren parece ter mudado seu voto para Biden em vez de Sanders. Um candidato que tinha hesitado atacar Biden durante a maior parte da campanha agora está perto de terminá-la com uma reputação de incitar a negatividade tóxica.

“As águas se abriram para Joe Biden de um jeito como nenhum candidato jamais viu”, disse Gloria Borger, analista política chefe da CNN, descrevendo o impressionante movimento de votos em sua direção. “É quase como se ele estivesse lá dizendo: ‘Quê? O quê? Eu estou aqui?’ Porque ele fez tudo errado. Ele perdeu algumas vezes, ele acabou em segundo ou terceiro lugares. Isso não devia ter acontecido, mas aconteceu com ele”.

Tradução: Maíra Santos

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