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Assassinato de George Floyd pode finalmente acabar com a lealdade do Exército americano a traidores confederados

Passou da hora de retirar homenagens a generais defensores da escravidão. Protestos após o assassinato de George Floyd criaram um cenário para essa mudança.

General Leonidas Polk, C.S.A.

General Leonidas Polk, C.S.A.

General Leonidas Polk, C.S.A.

Foto: Alamy

NOS ÚLTIMOS ANOS, diversos protestos nos Estados Unidos tiveram como alvo estátuas e monumentos que homenageiam soldados e políticos da Confederação. No entanto, as bases militares com nomes de confederados vinham sendo, em grande medida, ignoradas pelas manifestações. Mas o homicídio de George Floyd, cometido pela polícia de Minneapolis, que levou a protestos contra a violência policial dirigida a afro-americanos, ampliou o debate sobre o racismo sistêmico no país. Pela primeira vez, o uso contínuo de nomes de confederados em bases do Exército passa por um escrutínio mais intenso.

Quando congressistas e cidadãos tentaram mudar os nomes das dez maiores instalações que homenageiam confederados, o Exército se recusou a fazer alterações. Mas, diante da revolta gerada pelo assassinato de Floyd, os secretários de Defesa, Mark Esper, e do Exército, Ryan McCarthy, estariam “abertos a uma discussão bipartidária sobre o tema”, segundo noticiou o New York Times na semana passada.

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É claro que Donald Trump imediatamente se envolveu para defender os direitos dos generais confederados, afirmando que não permitiria mudanças. “Foi sugerido que deveríamos renomear dez de nossas Bases Militares Lendárias, tais como Fort Bragg na Carolina do Norte, Fort Hood no Texas, Fort Benning na Georgia etc. Essas bases Monumentais e Poderosas tornaram-se parte de um Grande Patrimônio Americano e de uma história de Conquista, Vitória e Liberdade”, tuitou Trump. “Os Estados Unidos da América treinaram e mobilizaram seus HERÓIS nesses Solos Sagrados e venceram duas Guerras Mundiais. Portanto, meu governo não vai nem considerar renomear essas Magníficas e Fabulosas Instalações Militares…”, afirmou o presidente norte-americano.

Trump ignora o fato de que as bases têm nomes de traidores de seu país, figuras que foram derrotadas e se mostraram incompetentes. Além disso, os homens cujos nomes foram imortalizados por essas bases eram defensores apaixonados do regime escravocrata e lutavam para manter esse sistema em vigor.

VEJAMOS O CASO DE LEONIDAS POLK, filho de um dos mais ricos proprietários de escravos do sul dos Estados Unidos. Seu pai acumulou mais de 40 mil hectares de terras. Mais tarde, o próprio Polk construiu uma propriedade no Tennessee, chegando a ter 400 escravos.

Atualmente, historiadores da Guerra Civil concordam que Polk foi um péssimo general. Mesmo assim, o Exército o homenageou, dando o seu nome a uma grande base militar: Fort Polk, no estado de Louisiana, lar do primeiro centro de treinamento militar norte-americano. Essa e outras bases com nomes de confederados são um legado da Era Jim Crow no Sul dos EUA. Muitas das maiores bases do Exército foram construídas em áreas rurais da região nos períodos das duas guerras mundiais. Ávido por apoio local para a construção das instalações, o Exército buscava agradar líderes brancos do sul dando o nome de confederados – geralmente generais com alguma conexão local – aos centros militares.

Leonidas Polk percorreu um caminho peculiar até se tornar general. Frequentou a academia militar de West Point, mas acabou virando bispo episcopal. Quando a Guerra Civil se aproximava – em meio à fragmentação dos grupos religiosos norte-americanos em relação à escravidão e à secessão –, Polk foi uma liderança sectária. Sua dissidência ficou conhecida como Igreja Episcopal Protestante dos Estados Confederados da América.

No início da guerra, o presidente confederado, Jefferson Davis, nomeou Polk, seu amigo, como general. A patente, no entanto, costumava ser ignorada, e o líder religioso seguia sendo chamado de Bispo Polk.

Como oficial, Polk cometeu equívocos desde o princípio. Nos primeiros meses da guerra, enviou tropas ao Kentucky, que se declarava neutro em relação ao conflito. A invasão levou o estado a buscar ajuda da União – formada pelos estados do norte, que combatiam os confederados –, à qual o Kentucky aderiu. O movimento nocivo de Polk custou à Confederação um estado fronteiriço importante e contribuiu para aumentar o poder da União.

No início de junho de 1864, a guerra ia mal para o bispo. O general William Tecumseh Sherman, comandante da União no oeste dos Estados Unidos, marchava por Atlanta e pelo coração da insurgência confederada. Desde que iniciou sua campanha para conquistar Atlanta e, um mês depois, o estado da Georgia, ele venceu os desastrados generais confederados que enfrentou – incluindo Polk.

Enquanto seguia com suas tropas rumo a Atlanta em 4 de junho, Sherman identificou uma pequeno grupo de confederados, reunidos a céu aberto, totalmente visíveis aos soldados da União. O grupo insurgente havia se posicionado no alto de uma pequena montanha no condado de Cobb, que atualmente faz parte da cidade de Atlanta.

“Que atrevidos”, disse Sherman, ordenando que a artilharia da União atirasse nos confederados.

Os alvos de Sherman eram altas patentes de confederados, incluindo Polk, que havia ignorado alertas de suas tropas de que não era seguro se posicionar no topo de uma montanha, em área aberta. A artilharia da União despedaçou o corpo de Polk, que morreu na hora.

O desprezo de Sherman pelo general do sul era tanto que a morte do confederado mereceu apenas uma breve menção na mensagem enviada, um dia depois, aos quartéis da União em Washington. “Matamos o Bispo Polk ontem, e tivemos um bom avanço hoje”, escreveu Sherman.

Os historiadores atuais tampouco se interessam pelo general confederado. O ataque que o matou “foi um dos piores tiros disparados em prol da União durante toda a guerra”, escreveu o historiador Steven E. Woodworth, argumentando que o melhor teria sido deixar Polk vivo, de tão ruim que era, para que seguisse liderando tropas do sul. “A incompetência de Polk […] prejudicou em grande medida as operações confederadas a oeste dos Apalaches, enquanto sua relação especial com [Jefferson Davis] tornou o bispo-general intocável.”

IRONICAMENTE, POLK REALIZOU sua maior e mais intensa campanha durante a Guerra Civil contra outro general confederado que dá nome a uma base militar: Fort Bragg, na Carolina do Norte, em homenagem ao general Braxton Bragg.

Polk e Bragg alimentavam um ódio recíproco. Consideravam um ao outro incompetentes e passaram grande parte da Guerra Civil tentando destruir a carreira militar do rival.

Talvez ninguém daquela época se surpreendesse mais ao saber de uma base com o nome de Leonidas Polk do que Braxton Bragg, e vice-versa.

Apesar da defesa de Trump aos confederados, em oposição a qualquer mudança de nome das bases, parece haver um clima político favorável no Congresso a esse tipo de alteração.

Embora o Exército tenha seu próprio processo para nomear instalações – e possa fazê-lo sem precisar de autorização do presidente ou do Congresso –, é improvável que os militares ajam por conta própria, pelo menos durante o mandato de Trump. Mas um comitê do Senado deu um primeiro passo na semana passada com uma votação para que o Pentágono mude o nome de todas as bases que homenageiam confederados. De forma surpreendente, a medida foi apoiada por alguns senadores republicanos. Um indício de que os protestos pela morte de George Floyd possam ser uma fresta a iluminar questões raciais nos debates entre congressistas republicanos e Trump.

Tradução: Ricardo Romanoff

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