Ministro escolhido por Bolsonaro para a Educação contratou afiliada da TV Record e deixou alunos de 165 cidades sem aulas

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Ministério da Educação será comandado pelo homem do 'apagão do ensino'.

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Indicado para substituir Abraham Weintraub no Ministério da Educação de Bolsonaro depois da brevíssima não-passagem de Carlos Decotelli pela pasta, o até então secretário de Esporte e Educação do Paraná Renato Feder certamente não deixará saudade nos estudantes do estado. Graças a ele, alunos de 165 municípios estão desde abril sem aulas.

Feder contratou, com dispensa de licitação, uma rede afiliada da TV Record no estado para transmitir vídeo-aulas para alunos da rede estadual durante a pandemia de covid-19. No entanto, a empresa escolhida não possui sinal de transmissão em quase a metade do estado. Mais de 2 milhões de pessoas vivem nas cidades que ficaram no escuro educacional – o que é quase um quinto da população do Paraná.

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A TV Independência pertence ao grupo RIC, afiliado à Record no Paraná e em Santa Catarina. A empresa pertence à família catarinense Petrelli – em Curitiba, é comandada por Leonardo Petrelli, filho do fundador do grupo e ele mesmo dono de uma empresa de ensino à distância. O contrato original previa R$ 2,7 milhões por três meses de serviço, iniciado em abril. Mas, em 5 de maio, com as aulas já funcionando de forma precária, a secretaria de Feder deu aos Petrelli um aditivo de mais um mês, o que rendeu R$ 800 mil a mais para a empresa. 

O aditivo também aumentou em 44 municípios a cobertura televisiva e deu até o começo de junho –mais da metade do prazo total do contrato – para a RIC fazer seu sinal chegar a eles. É uma confissão da secretaria de Feder de que o contrato nunca atendeu a todos os municípios do estado. 

A RIC nunca se caracterizou por um jornalismo combativo – ao contrário, sempre foi dócil com quem quer que fosse o governante de plantão. O padrão se manteve sob Ratinho Jr, do PSD, filho do apresentador do SBT. Pai empresário e filho governador são eles mesmos donos de uma rede de televisão no Paraná, a Rede Massa (sobrenome de ambos), que é afiliada ao SBT. 

Ainda que por motivos óbvios a Rede Massa não tenha sido cogitada para o contrato firmado por Feder, não significa que a RIC fosse a única opção. A RPC, afiliada local da Globo, chega a todo o Paraná.  A televisão estatal do Paraná também – e aí o dinheiro não sairia dos cofres públicos. Mas Ratinho Jr. preferiu transformar o canal público numa rede que só transmite programas sobre pontos turísticos do estado, a ponto de rebatizá-la de TV Paraná Turismo.

A quem não tem sinal da RIC em casa, resta a opção de usar a internet. É preciso baixar  o problemático aplicativo Aula Paraná, feito pela empresa IP.TV, que tem no currículo a criação da TV Bolsonaro, como mostramos em junho. Quem não tem RIC nem internet fica sem aula.

Conversei com professores e alunos de municípios onde não chega o sinal da RIC. Via TV ou pela internet, eles seguem sem aulas. Mesmo para quem tem celular, é difícil ter uma velocidade de internet que permita o uso do aplicativo do governo. 

Uma solução encontrada por escolas foi imprimir tarefas e encaminhar para os alunos quando as famílias vão buscar as cestas básicas da merenda. Mesmo assim, o aluno precisa fazer sozinho as tarefas, sem qualquer orientação de professores, e devolver os exercícios feitos na próxima data de coleta de alimentos na escola. Depois, esses documentos ficam 14 dias em quarentena antes do envio para a correção dos professores. 

Ou seja, até o aluno receber a correção do que acertou ou errou no exercício, já se passaram vários dias e ele provavelmente já esqueceu do que tinha estudado.  

. Quer saber mais sobre Renato Feder? Clique na reportagem abaixo sobre o “Ranking dos Políticos” e (não) se surpreenda.

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