Natasha Lennard

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Facebook bane páginas contra o racismo e ecoa discurso de Trump

Ao banir fanpages racistas junto com as antirracistas, plataforma equiparou progressistas a milícias de supremacistas brancos.

The Facebook "like" sign is seen at Facebook's corporate headquarters campus in Menlo Park, California, on October 23, 2019. (Photo by Josh Edelson / AFP) (Photo by JOSH EDELSON/AFP via Getty Images)

O sinal de “curtir” instalado no campus da sede corporativa do Facebook em Menlo Park, Califórnia, em 23 de outubro de 2019.

O sinal de “curtir” instalado no campus da sede corporativa do Facebook em Menlo Park, Califórnia, em 23 de outubro de 2019.

Foto: Josh Edelson/AFP/Getty Images


Em 19 de agosto
, o Facebook anunciou uma ampliação de sua “Política de Organizações e Indivíduos Perigosos”, removendo ou restringindo centenas de páginas associadas a coletivos que, segundo a plataforma, promovem violência. Cerca de 800 grupos ligados à teoria da conspiração QAnon – dedicados a disseminar desinformação perniciosa e ideias potencialmente mortais – foram removidos. O Facebook também fechou páginas de milícias de extrema direita, como a Guarda Civil do Novo México, organização de vigilantes armados cujos líderes ostentam tatuagens de suásticas.

Além de atuar contra grupos que defendem abertamente a supremacia branca genocida – uma ameaça real às comunidades negras e indígenas e a outras pessoas não brancas –, o Facebook também fechou páginas de diversos sites antifascistas e anticapitalistas que divulgam informações, notícias e mobilizações. O movimento segue um padrão já bem estruturado pela administração Trump – e combatido por praticamente nenhum veículo de comunicação tradicional –, que estabelece equivalências falsas e indefensáveis, comparando fascistas e racistas organizados a antifascistas que se opõem vigorosamente a esses grupos.

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As páginas informativas e de pesquisa antifascista da It’s Going Down – plataforma de mídia que publica notícias, análises e reportagens sobre questões sociais, bem como investigações para expor supremacistas brancos e neonazistas – estão entre as removidas. A Crimethinc, um bastião entre as publicações de esquerda e do pensamento anarquista desde os anos 1990, também teve sua fanpage excluída. Além disso, foram fechadas páginas de grupos mobilizados nos levantes antirracistas, incluindo a da PNW Youth Liberation Front – uma rede de coletivos, formada por jovens do noroeste dos Estados Unidos, que realizam protestos de ação direta.

“Agrupar anarquistas e antifascistas com milícias de extrema direita que explicitamente apoiam o governo atual é um movimento estratégico para turvar a questão”, afirmou, em declaração, a Crimethinc. “Esta é a mesma operação que William Barr [procurador-geral dos Estados Unidos] realizou ao criar uma força-tarefa do Departamento de Justiça focada em ‘extremistas antigovernamentais’, tendo como alvo fascistas autoproclamados e antifascistas. No caso do Departamento de Justiça, essa medida permite identificar ataques de extrema direita e milícias, visando obter recursos para reprimir quem está na linha de frente, defendendo as comunidades desses ataques”.

Tanto retoricamente como por meio de políticas deliberadas, o governo ofuscou e minimizou as ameaças do extremismo da supremacia branca. Para isso, o governo Trump alegou, de forma sensacionalista, que há riscos representados pela extrema esquerda. Com suas últimas proibições, o Facebook está seguindo o mesmo manual.

Com suas últimas proibições, o Facebook está seguindo o manual do governo.

A demonização dos antifascistas tornou-se peça central da propaganda que visa a reeleição de Trump. A estratégia funciona tanto para criminalizar a dissidência quanto para deslegitimar a luta de libertação negra. Após os incidentes intoleráveis da manifestação “Unite the Right” em Charlottesville, Virgínia, em 2017, Trump elogiou as “pessoas muito boas” da coalizão da supremacia branca e culpou “ambos os lados” pela violência assassina da extrema direita – uma postura que, desde então, cristalizou-se em suas políticas.
A decisão do Facebook de tratar iniciativas de justiça social de esquerda como equivalentes a grupos de milícias racistas é apenas uma extensão da posição do governo. “Por meses, Donald Trump exigiu essa repressão em uma série de postagens em redes sociais, culpando explicitamente anarquistas e antifascistas pela onda de protestos em todo o país provocada pela violência policial que persiste nos Estados Unidos”, afirmou a Crimethinc em comunicado.

No começo deste mês, como já escrevi, o senador republicano Ted Cruz, do Texas, presidiu uma audiência ridícula do Subcomitê Jurídico do Senado sobre “parar a violência anarquista”. O senador repreendeu repetidamente os democratas por não condenarem os “antifas” por um assassinato que foi, na verdade, cometido pela extrema direita – e se recusou a ser corrigido. A It’s Going Down e a Crimethinc foram mencionadas durante a audiência, em manifestações infundadas sobre a ameaça da extrema esquerda.

Em três décadas desde a fundação da Crimethinc, o banimento do Facebook é “a primeira coisa como essa que ocorreu”, disse um participante do coletivo que pediu anonimato – preocupado com eventuais retaliações da extrema direita e com o escrutínio do Estado. Claro, nenhum dos grupos antifascistas removidos pelo Facebook esperava algo melhor do leviatã da mídia social. “No final das contas, não ficamos surpresos com essa mudança e, pessoalmente, todos odiamos o Facebook”, afirmou a It’s Going Down em sua conta no Twitter, observando que ainda assim a plataforma é um “veículo para se conectar com as pessoas”.

O que está em jogo não é a posição moral do turbulento monopólio de Mark Zuckerberg, e sim o aprofundamento de uma falsa equivalência que sufoca a dissidência antifascista em uma época de Estado e fascismo encorajados.

Vale a pena repetir, ad nauseam, que a extrema direita cometeu 329 assassinatos nas últimas três décadas, enquanto nenhum foi atribuído aos antifas. Entre 2009 e 2018, os extremistas da supremacia branca e da extrema direita foram responsáveis por 73% dos assassinatos de extremistas nos Estados Unidos. Isso sem falar nos homicídios racistas sancionados pelo Estado e executados pela polícia.

Não há dúvida de que várias iniciativas e publicações de esquerda removidas na varredura do Facebook defendem a dissidência e protestos disruptivos. A prática antifa certamente envolve a disposição de confrontar fisicamente os supremacistas brancos organizados nas ruas. Mas as proibições do Facebook, ecoando os mitos de Trump, equiparam a “violência” de protestos antirracistas perturbadores com a violência de neonazistas assassinando imigrantes e pessoas não brancas.

“Essa linha de pensamento continua a equiparar a interrupção do protesto e a destruição de propriedades com movimentos de extrema direita que fundamentalmente querem prejudicar e matar grandes segmentos do público”, tuitou a It’s Going Down.
Para o Facebook, apontar na mobilização militante, antirracista e antifascista uma violência comparável à das milícias da supremacia branca é uma declaração, em termos inequívocos, de quais vidas importam para a plataforma.

Tradução: Ricardo Romanoff

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