No início do verão, notei uma mudança alarmante no meu feed do Facebook. Amigos de infância e velhos conhecidos do ensino médio começaram a entupir minha linha do tempo com posts sobre uma conspiração satânica de elites pedófilas. As publicações incluíam alegações exaltadas e infundadas sobre a proliferação do tráfico sexual infantil e os esforços culturais e políticos para “normalizar” a pedofilia.
Durante a pandemia, algumas das pessoas com quem cresci no estado do Colorado foram sugadas pela QAnon, uma infundada teoria da conspiração pró-Trump, com cada vez mais adeptos, considerada uma ameaça doméstica de terror pelo FBI. Eu me lembrava daquelas pessoas como gente razoável: algumas liberais, outras conservadoras, mas todas congeladas em minha memória como intelectualmente curiosas. Agora, online e a distância, vejo elas mudarem. Mulheres jovens e brancas de localidades pequenas, em particular, estavam se encantando por um movimento adjacente à QAnon chamado Salvem as Crianças [Save the Children], que estimula falsos temores relacionados ao tráfico sexual infantil por meio de histórias inventadas, infográficos em tons pastel e campanhas com hashtags.
“Quando George Floyd chorou e chamou sua mãe, todos ‘sentiram’, agora tente imaginar 22.000 CRIANÇAS POR DIA chorando por suas mães sem que ninguém as ouça! Por favor, ‘sinta isso’ também!! #SaveOurChildren”, diz um post curtido por quase uma dezena de pessoas com quem frequentei a escola. Outras postagens incorporavam informações incorretas sobre a covid-19 ou advogavam contra o uso de máscaras de proteção: “Com ou sem máscara? O que PRECISAMOS perguntar é: para onde diabos foram 8 milhões de crianças???”, questiona outra mensagem.
O movimento Salvem as Crianças tem um tom diferente do QAnon original, nascido no fórum de discussão anônimo 4chan, em outubro de 2017, a partir de um indivíduo desconhecido (ou talvez um grupo) chamado “Q”, que alegava ter acesso a questões de segurança máxima do governo dos Estados Unidos. Quem acredita na teoria QAnon pensa que alguém no governo Trump tem usado espaços online para enviar mensagens codificadas, conhecidas como “Q drops”, relatando uma guerra secreta travada pelo presidente em defesa da população. Inicialmente irrelevante entre os partidários mais fervorosos do presidente republicano, a mais nova faceta da QAnon está conquistando as mentes de mulheres brancas em áreas periféricas – especialmente mães e outros perfis demográficos inesperados. Em Parker, Colorado, cidade em que vivi por quase uma década, e nas cidades vizinhas, a impressão é de que a QAnon está por toda parte.
Inicialmente irrelevante entre os partidários mais fervorosos de Trump, a mais nova faceta da QAnon está conquistando as mentes de mulheres brancas em áreas periféricas, especialmente mães.
Parker é uma cidade do condado de Douglas, o mais rico do Colorado e um dos mais abastados do país. A população é de forte tendência conservadora e predominantemente branca. Na época em que morei lá, 93% das pessoas eram brancas, embora a população tenha se diversificado nos últimos anos, segundo o Censo norte-americano. Representante da cidade no Congresso, Ken Buck está entre os deputados republicanos que estimulam os seguidores do movimento Salvem as Crianças. Ele está exigindo que o Departamento de Justiça investigue o filme da Netflix Cuties, fortemente criticado por supostamente sexualizar meninas. O filme, uma comédia dramática de formação dirigida pela cineasta senegalesa-francesa Maïmouna Doucouré, tornou-se alvo dos obcecados por pedófilos.
Alguns dos amigos com quem conversei eram jovens mães que recentemente começaram a postar conteúdos simpáticos à teoria Q, aderindo à causa antitráfico de crianças como sua principal bandeira – ainda que detestem abertamente o governo Trump e tenham posições à esquerda no espectro político.
Jared Holt, repórter investigativo da Right Wing Watch que cobre a QAnon desde o início, diz que, durante a pandemia, essa teia de teorias da conspiração “se espalhou tanto que está voltando para casa e se empoleirando em lugares que não esperávamos”.
“Nos últimos seis meses, a QAnon teve muito sucesso como movimento, saindo de seus confins nas bordas da extrema direita”, afirma Holt. “Agora você vê mães blogueiras, influenciadores de saúde e bem-estar, lutadores de MMA e várias celebridades aderindo em parte ou totalmente à QAnon”.
Esse movimento sectário está obtendo uma influência incontestável na esfera política, inclusive por meio de dezenas de candidatos QAnon que concorrem ao Congresso nestas eleições – e na vitória inquietante de Marjorie Taylor Green nas primárias da Geórgia. O presidente Donald Trump elogiou quem acredita na teoria conspiratória, descrevendo seus seguidores como “pessoas que amam nosso país”. Em paralelo, inúmeros congressistas republicanos evitam repudiar a QAnon. As marchas do Salvem as Crianças atraíram pequenas, porém apaixonadas multidões – diversas em termos de raça, gênero e idade –, e alguns de seus ativistas já cometeram atos criminosos ou violentos inspirados por crenças Q.
No mês passado, a NBC News noticiou que uma investigação interna do Facebook revelou que havia milhões de usuários em grupos e páginas ligados à QAnon. Na semana seguinte, a empresa anunciou que removeria e restringiria milhares de contas, páginas e grupos de suas plataformas – incluindo o Instagram – que promovem a teoria.
Mas os devotos da teoria Q com quem falei tropeçaram nessas ideias conspiratórias e incompreensíveis à moda antiga. Dizem que foram doutrinadas (embora não usem esse termo) por seus pais, parentes e amigos, ou então apresentados à teoria no boca a boca. Alegam que não houve influência de algoritmos, questão que recebeu maior atenção nacional. Entretanto, o boca a boca sozinho não é suficiente. A capacidade das pessoas seguirem a trilha online da QAnon em suas casas é frágil. Grupos de mães acompanham uma teia de conspirações sobre tráfico de pessoas que muda constantemente, como as teorias do Wayfair e o golpe de phishing com supostas mensagens do serviço de correio norte-americano. A saga de Jeffrey Epstein – caso real que envolveu uma suposta quadrilha de tráfico sexual e que obteve cobertura de veículos de comunicação de boa reputação – também serviu de porta de entrada para novos seguidores da QAnon.
A advogada Zoë Royer, 23 anos, moradora de Denver, conta que a QAnon e o movimento Salvem as Crianças estão em toda parte. “A bolha de Parker é muito real”, afirma. “Essas regiões periféricas são a grande novidade. Leva tempo para se chegar às principais rodovias. Você realmente pode simplesmente ficar em Parker e não ter ideia de como é o resto do mundo”.
Ela concorda que as teorias capturaram principalmente as mães, acrescentando a questão do tédio enfrentado pelas pessoas durante o isolamento social. “Isso tudo meio que apareceu na mesma época dos protestos [do movimento Black Lives Matter]”, aponta Royer. “Acho que por ser uma área tão conservadora – e pelo fato de que houve um movimento popular de reação à brutalidade policial, impedindo que esses indivíduos dissessem claramente ‘Somos anti-Black Lives Matter’ –, eles tiveram que se agarrar a uma história falsa para fazer parecer que são eles os cruzados da ética”.
Savanna Hash, 24 anos, é uma dona de casa que vive em Dacono, Colorado, um pequeno município ao norte de Denver. Ela morou em várias cidades do estado quando era mais jovem. Pouco antes de começar a sétima série, mudou-se para Parker, onde cursou o restante do ensino fundamental e o médio. Nash vem de uma família de policiais e, como muitos de meus antigos colegas, herdou os ideais conservadores dos pais.
“Eu não sabia de nada disso até alguns meses. Ouvi a respeito pela minha mãe. Não sei há quanto tempo ela sabia. Começou a falar comigo sobre isso porque estava lendo alguns livros”, conta Nash.
Uma dessas publicações era Calm Before the Storm, de Dave Hayes, um escritor cristão e estrela da QAnon conhecido no ambiente online como Praying Medic. Seu canal no YouTube tem mais de 386 mil assinantes, e o livro – vendido por 15,42 dólares na Amazon – está classificado em 17º na categoria Corrupção Política & Má Conduta e em 22º entre as publicações sobre o governo dos Estados Unidos. No livro, Hayes explica toda a teoria, “decodifica” os “Q drops” e apresenta um glossário de termos e códigos.
“Honestamente, no começo pensei que ela era psicótica”, desabafa Nash. “Ela começou a fazer essas afirmações que me soaram ultrajantes, como ‘JFK Jr. não está morto’” – os crentes hardcore da teoria QAnon pensam que John F. Kennedy Jr. está vivo, mora em Pittsburgh, Pensilvânia e apoia Trump.
Entre os comentários de sua mãe, segundo Nash, havia histórias sobre celebridades, incluindo grandes nomes de Hollywood que fariam “rituais de sacrifícios” na ilha privada de Epstein nas Ilhas Virgens Americanas. “Parecia ridículo, eu ria”, conta Nash.
Mas então pessoas de seu entorno também começaram a falar sobre o assunto. “Minha amiga Ashley Campbell disse: ‘Eu também acho isso, e aqui está o porquê’”, lembra Nash. “Ela recomendou livros e documentários e me adicionou em um grupo do Facebook. Ver isso foi uma grande revelação. O filme tinha cerca de três horas de duração, e eu gostei porque essas coisas parecem loucura se você não tem nada para corroborar.”
No final de junho, ela começou a escrever posts no Facebook sobre a QAnon e teorias de conspiração relacionadas, compartilhando conteúdo viral de outras contas. Pergunto se ela acredita em algumas das outras teorias que se fundiram ao mundo Q, como visões antivacina ou antimáscara. Nash diz que ela não é pessoalmente contra as vacinas nem tem problema em usar máscara em público se necessário, mas entende o ceticismo que outros devotos da QAnon podem ter sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o coronavírus. Como outros seguidores da teoria, ela também compartilha uma profunda desconfiança em relação à imprensa e tem se afastado todos os veículos tradicionais. “Inclusive a Fox News, realmente não gosto de assistir muito”, afirma, citando o canal conservador conhecido pela agenda pró-Trump e acrescentando que evita o Google e usa o buscador DuckDuckGo.
“Minha irmã é uma policial, ela acredita [na QAnon]”, diz Nash. “Não tenho certeza sobre meu pai, ele também é policial. Em geral, eu e minha mãe que discutimos isso.”
Campbell, a amiga de Nash, é uma estudante de justiça criminal que deseja ingressar na polícia. Entrou pela primeira vez na onda QAnon há alguns meses, quando aprendeu sobre a teoria da conspiração em um vídeo de três horas no YouTube – recomendado por seu irmão e pelo pai, que é funcionário público federal.
Entusiasta de Trump, ela conta que, até a pandemia, estava bastante confiante de que ele seria reeleito. Seu otimismo foi renovado com a ascensão no Colorado da QAnon e do Salvem as Crianças, cujos seguidores certa vez penduraram um “cartaz do Salvem as Crianças em uma ponte”. “Isso me dá um pouco de esperança de que o presidente no próximo mandato possa estar do nosso lado.”
“Como apoiadora de Trump, na maior parte do tempo sinto que estou sozinha em minhas crenças”, revela Campbell. “Mas nesse caso [da teoria QAnon] sinto que faço parte da maioria porque todos estão pensando a mesma coisa.”
Mas a QAnon não é apenas um conjunto de crenças. O movimento atrai adeptos para uma realidade alternativa que, em sua essência, clama por prisões em massa e pela execução dos inimigos políticos do presidente. Como os seguidores desconfiam da mídia tradicional e das autoridades de modo geral, torna-se difícil desradicalizá-los.
“Como apoiadora de Trump, na maior parte do tempo sinto que estou sozinha em minhas crenças”, revela Campbell. Mas nesse caso [a teoria QAnon] eu sinto que faço parte da maioria porque todos estão pensando a mesma coisa.”
Uma mulher que vive em Parker foi presa em dezembro de 2019, em Montana, acusada de conspiração para realizar um sequestro. Ela planejava um ataque armado para sequestrar seu filho em um orfanato com a ajuda dos seguidores da QAnon. Cynthia Abcug havia perdido a custódia do filho e, segundo um depoimento à polícia, sua filha disse que Abcug tinha “entrado em algumas teorias de conspiração e estava ‘entrando em uma espiral’”.
Pergunto a Campbell se ela tinha alguma preocupação quanto à violência relacionada à QAnon e aos seguidores que se envolvem demais e agem conforme os preceitos da teoria. Por um breve momento, sinto que há um pequeno avanço.
“Para ser honesta – isso vai soar meio idiota –, eu nunca tinha realmente pensado na possibilidade de que as pessoas agiriam com suas próprias mãos”, afirma. “Agora consigo. Mas, sim, é assustador. Realmente assustador. E tenho certeza de que chegar à cabeça dessas pessoas não será o fim. Como deter isso nesse ponto? Depois que você percebe que, merda, isso realmente é muito real?”
Austin Priester ainda mora em Parker, trabalhando em uma cafeteria no centro da área histórica da cidade e dando aulas de teatro na região. Ele não é filiado a partidos políticos, mas se considera “um grande ambientalista, então com as coisas que têm a ver com meio ambiente e regulamentações, tendo a me preocupar mais”.
“Trabalho em uma café, então ouço muita gente conversando”, disse Priester. “Pessoas da minha família já mencionaram isso para mim no passado, e continuei ouvindo. Quer dizer, apenas de passagem na rua, no café, em restaurantes, em bares, eu ouvia as pessoas falando sobre a Q. Pensei: o que é isso?”
Ele acreditou na teoria da conspiração Pizzagate, que circulou antes da eleição de 2016 até começar a receber a atenção do público.
Ao contrário de Campbell, Priester não parecia preocupado com o caso de Abcug ou a possibilidade de violência, acreditando que a QAnon atrai principalmente o tipo hippie amante da natureza. “Pelo que sei do movimento QAnon, só vi emanarem amor e luz e falarem disso”, observa.
“Nunca conheci alguém violento ou que conheça a Q e seja um indivíduo inerentemente violento”, continua. “Mas conheci muitas pessoas que gostam da Q, do tipo hippie, amor livre e, você sabe, querendo salvar o mundo com paz e unidade. Mais uma vez, estou ciente de que existem alguns tipos de grupos religiosos e cultos que afirmam ser seguidores da Q ou o que quer que seja. Reviro os olhos, porque parece que há algo muito errado. O movimento não é isso.”
Outra maneira pela qual a influência da QAnon cruzou fronteiras ideológicas é por meio de vídeos virais na plataforma TikTok. O aplicativo está repleto de teorias da conspiração sobre crianças desaparecidas e “elites pedófilas” – o tipo de conteúdo que pode chamar a atenção até de liberais declarados.
Um exemplo disso é uma de minhas amigas mais próximas, Taylor Metzner, uma mãe de 25 anos e estrategista de marcas que mora em uma comunidade do condado de Los Angeles. Nós nos conhecemos no meu último ano em Parker e nos unimos devido à nossa obsessão, durante o ensino médio, por Barack Obama.
Nos distanciamos após a faculdade, mas recentemente nos reconectamos e seguimos do ponto em que tínhamos parado. Minha afeição adolescente pelo ex-presidente ficou para trás, em grande medida por diferenças ideológicas e uma convicção jornalística de contestar o poder. Já Metzner deixou de lado seu apreço por Obama ao se convencer de sua participação em rituais satânicos com outras figuras do Partido Democrata.
Metzner tem uma visão política de centro-esquerda desde que a conheço e é particularmente engajada no movimento Black Lives Matter. Ela se preocupa profundamente com uma série de questões progressistas e geralmente se alinha com a ala Bernie Sanders do Partido Democrata. Nos últimos meses, começou a se interessar mais por espiritualidade e meditação, o que, combinado com seu amor de uma vida inteira pela cantora Stevie Nicks, faz dela o tipo de hippie do qual Priester fala a respeito.
O renascimento do Pizzagate no TikTok – e sua transformação em uma teoria que se concentra em celebridades em vez de figuras políticas – acelerou o alcance da QAnon entre as gerações mais jovens, especialmente adolescentes.
“O algoritmo do TikTok é insano”, diz Metzner. “Comecei a usar e foi ladeira abaixo. Agora vejo isso o tempo todo porque passei uma semana – como num episódio maníaco – apenas navegando na internet e encontrando todos esses vídeos, documentos e registros de voos, sabe? Assistindo a vídeos de sobreviventes.”
Nos estágios iniciais da QAnon, os boomers pareciam particularmente suscetíveis às alegações da teoria da conspiração, mostrando-se mais propensos a compartilharem e se envolverem com os conteúdos. Mas o renascimento da Pizzagate no TikTok – e sua transformação em uma teoria que se concentra em celebridades em vez de figuras políticas – acelerou o alcance da QAnon entre as gerações mais jovens, especialmente adolescentes.
A página For You de Metzner geralmente consiste em “muita coisa de natureza e vídeos bonitos”, mas então “surge um vídeo de coisas do Salvem as Crianças”. Ela está apavorada com o tráfico infantil e se preocupa com a segurança de sua filha de 3 anos.
Esses movimentos, que insistem na onipresença do tráfico sexual de crianças, estão usando táticas aperfeiçoadas pelo movimento bipartidário antitráfico de pessoas. Em grande medida, a QAnon e o Salvem as Crianças prosperaram porque uma versão menos ridícula tem sido uma força na ortodoxia política norte-americana. Como afirmou Melissa Gira Grant no New Republic, décadas de uma exagerada retórica antitráfico e campanhas de “conscientização” em relação ao tráfico sexual ajudaram a impulsionar o pânico mais recente. “Memes antitráfico sexual infantil já eram populares no Facebook e Instagram”, afirma Grant. “Atualmente entre eles há uma mistura de menções abertas e mais sutis à QAnon.”
Afirmações rotineiras e estatísticas sobre o tráfico de pessoas que viralizam na internet são frequentemente exageradas, mal interpretadas ou lidas fora de contexto. A alegação de que uma em cada quatro vítimas desse tipo de tráfico são crianças, por exemplo, é baseada em um relatório de 2017 feito pela Organização Internacional do Trabalho em colaboração com outras instituições. Mas os números do documento são mais complexos do que um tuíte é capaz de informar. A organização considerou um amplo conjunto de conceitos jurídicos, incluindo casamentos e trabalhos forçados, que são formas muito mais comuns de tráfico e exploração do que, digamos, ser sequestrado em uma cidade pequena. Como publicou recentemente o HuffPost, o problema da exploração infantil “persiste por razões complicadas e dolorosas que têm mais a ver com o fracasso da rede de segurança social dos Estados Unidos do que com a ganância de criminosos sexuais”.
Embora Metzner não tenha usado a palavra QAnon nem pareça tão obstinada quanto muitos outros devotos da teoria com quem conversei, ela conta que está “com o coração partido” pelos “rumores horríveis” em torno das famílias Clinton e Obama – especialmente devido à sua admiração pelo presidente que antecedeu Trump.
Quando se trata do assunto Epstein, não tive como contestar parte de seu desdém em relação a um sistema e uma classe dominante que protegeram o financista milionário. Mas essas colocações de verdades esporádicas sempre estiveram entrelaçadas com o indefensável. Usar fatos verídicos para dar suporte a uma teoria da conspiração maior e sem base, observa Holt, “é uma prática tão antiga quanto o tempo”.
“Essa é uma forma fundamental de manter uma teoria da conspiração funcionando e despertando interesse, uma espécie de evolução da teoria”, diz ele. “Trata-se de um vetor que abre portas para novos devotos entrarem no movimento.”
Tradução: Ricardo Romanoff
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