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Democratas foram pior que o esperado entre eleitores não brancos — exceto no Arizona. Esta é a razão.

Mesmo com a ascensão democrata entre eleitores dos subúrbios e com ensino superior, seu apoio entre eleitores não brancos diminuiu.

Eleitores chegam à seção eleitoral da Prefeitura de Eloy, no Arizona, em 3 de novembro de 2020.

Em 2016, no Condado de Starr, no Texas, uma das áreas mais pobres dos EUA e com população 96% latina, Hillary Clinton ganhou de lavada, com 79% a 19% dos votos. Quatro anos depois, Joe Biden venceu esse mesmo condado por apenas 5 pontos de diferença.
Ainda assim, os votos para Clinton e Biden foram muito semelhantes: 9.246 para Hillary em 2016, 9.099 para Biden em 2020. Foram os números de Donald Trump que subiram, de pouco mais de 2 mil em 2016 para mais de 8 mil nesta eleição. O condado tem cerca de 43 mil pessoas com idade para votar, de acordo com o censo.

De alguma forma, Trump conseguiu quadruplicar seu total de votos enquanto Biden perdeu um pouco de terreno, mesmo com o comparecimento geral aumentando. Foi um exemplo claro de uma tendência que perseguiu Biden em todo o país: mesmo quando os democratas aumentaram seus números entre os eleitores dos subúrbios e com ensino superior, seu apoio entre os eleitores não brancos diminuiu. Na Fox News, Tucker Carlson disse que a mudança no Condado de Starr era um símbolo de um emergente Partido Republicano populista. “As pessoas que ganham menos estão votando nos republicanos em maior número”, disse Carlson, acrescentando que os republicanos são “o partido dos assalariados”.

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A exceção foi o Arizona, um estado que a própria Fox News deu como vencida por Biden ainda na noite de terça-feira, dando esperança aos democratas de que a disputa estava longe de terminar. Hillary Clinton obteve 61% dos votos latinos no estado em 2016, enquanto os primeiros relatórios mostram que Biden alcançou 70%. E, no Arizona, há uma lição para os democratas quando eles forem confrontar o que eles esperavam ser uma nascente coalizão. Em particular no Condado de Maricopa, uma longa e organizada campanha contra o xerife Joe Arpaio reuniu um eleitorado político com suas próprias motivações, comunidade e senso de identidade. Esse eleitorado foi preparado não apenas para obter a votação, mas para virar o Arizona para o azul, a cor associada aos democratas.

Chuck Rocha, arquiteto da estratégia latina da campanha de Bernie Sanders e fundador do comitê pró-Biden “Nuestro”, disse que o sucesso de Biden foi “a tempestade perfeita”. A campanha de Biden começou a investir muito em anúncios de TV logo no início e, embora tenha demorado para aumentar seus esforços para conquistar os latinos no estado, grupos como Living United for Change in Arizona, ou LUCHA, estavam fazendo o trabalho no local. Rocha também acredita que a votação pela legalização da maconha foi “outra força motriz” para o comparecimento dos latinos.
“A aproximação com os latinos começou tarde”, disse Rocha. “Poderia ter sido melhor, e tivemos sorte que Joe Biden correu atrás com seus investimentos, porque os gastos externos não eram comparáveis. O que estamos vendo é um bilhão de dólares que foram gastos conversando com eleitores brancos e persuadíveis e menos de 24 milhões falando com latinos para organizações externas”.

O apoio de Trump entre os latinos, especificamente os de ascendência cubana, ajudou-o no Condado de Miami-Dade, o mais populoso da Flórida. As primeiras pesquisas de boca de urna revelaram que Biden levou pouco mais de metade dos votos latinos no estado, abaixo dos 62% feitos por Hillary Clinton. Na Geórgia, Biden tinha 16 pontos de vantagem entre os latinos, comparado com os 40 de Clinton, e também caiu entre os latinos de Ohio, segundo a CNN.

https://twitter.com/MattBruenig/status/1323825846365396992?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1323825846365396992%7Ctwgr%5Eshare_3&ref_url=https%3A%2F%2Ftheintercept.com%2F2020%2F11%2F04%2Farizona-democratic-latino-election%2F

Grupos de eleitores entraram e saíram dos partidos por décadas, mas os líderes dos dois lados tendem a pensar que os grupos que fazem parte de sua coalizão permanecem estáticos. No início do século 20, a Grande Migração viu milhões de negros deixarem o sul dos EUA para cidades do norte. Quando chegaram, os chefes das máquinas democratas procuraram explorar esse novo bloco eleitoral, criando o início de uma coalizão desajeitada. Os líderes republicanos insistiram que os afro-americanos nunca votariam em um partido de ex-proprietários de escravizados e consideraram o voto negro garantido. Em 1936, a maioria dos votos afro-americanos já era dos democratas.

Enquanto isso, os líderes democratas da atualidade acreditam que a retórica de Trump em torno de temas raciais é tão tóxica que é inconcebível que eleitores não brancos poderiam se aproximar dele. Mas não se pode contar com eleitores que não estão ativamente engajados por décadas.

O LUCHA, um grupo de organização de base gerido por latinos, foi formado em 2009 em resposta à lei de imigração do tipo “mostre-me seus papéis” do Arizona e ao reinado brutal de 24 anos de Arpaio. A Lei do Senado 1070 ou SB 1070, como é conhecida, foi a lei de imigração mais punitiva do país e levou a uma enorme mudança na política do estado.

“[A SB 1070] foi um divisor de águas para o estado do Arizona, no sentido de que foi tão cruenta e politicamente motivada em termos de tornar alvos a comunidade de imigrantes e os latinos, por associação óbvia, que acabou saindo pela culatra”, disse o deputado Raúl Grijalva, um democrata que representa o Arizona, ao Intercept poucos dias antes da eleição. “E saiu pela culatra no sentido de que politizou muitas pessoas e energizou uma geração de ativistas”.

Desde que foi fundado, o LUCHA bateu à porta de centenas de milhares de casas em bairros do sul de Phoenix, do sul de Tucson da zona leste de Phoenix. “Você vê uma tremenda força de jovens que você acompanhou ao longo desta década liderando a luta aqui no Arizona”, disse ao Intercept na semana passada Abril Gallardo, o diretor de comunicações do LUCHA.

Tradução: Maíra Santos

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