Um vídeo que circula entre pastores e bispos da Igreja Universal do Reino de Deus na África do Sul foi um dos estopins para a revolta que começa a tomar forma contra Edir Macedo na região. Nele, o atual responsável por todos os países africanos de língua inglesa, o bispo brasileiro Marcelo Pires, estaria orientando pastores a “manipular” os fiéis para que dessem suas casas e seus carros à Universal.
A reunião teria acontecido em maio. Dela participaram líderes provinciais e regionais, segundo membros da Igreja. Na gravação, a voz, atribuída a Pires, dá dicas sobre como usar versículos para convencer fiéis a doarem bens para a Universal.
“Não é difícil para você manipular a oferta para a igreja. Você faz uma campanha, você pega um versículo, pega algo muito atraente aos olhos, e faz as pessoas acreditarem que é bom, presente ou profundo. E eles darão suas casas, seus carros. Não por causa da fé deles, mas porque você falou”, ele diz na gravação.
O Intercept questionou a Igreja Universal sobre o vídeo, mas não houve resposta. Segundo o ex-pastor Luthando Jumba, um dos líderes do movimento dos religiosos dissidentes, a intenção era que os fiéis vendessem seus carros e imóveis e doassem o dinheiro para a igreja.
Em outro vídeo, também encaminhado pelos dissidentes africanos, Pires aparece em um culto colocando o seu ensinamento em prática.
“Deus não dará o Espírito Santo para aqueles que não querem entregar tudo. É por isso que temos a campanha de Abraão no Templo de Salomão. Porque aqui você pega seu envelope e o dinheiro que você usaria para construir seus sonhos, para comprar a casa dos seus sonhos, para comprar o carro dos seus sonhos, para comprar as roupas de seus sonhos. Você vai colocar aqui e você vai dizer: ‘Senhor, para mim, nada é mais importante do que receber seu Espírito’. O dinheiro não vai resolver seu problema. Uma casa nova em folha não resolverá seus problemas”, orienta o bispo.
A gravação, segundo fiéis, teria sido feita em dezembro do ano passado.
De acordo com Jumba, esses vídeos causaram muitos problemas para a Igreja Universal, “porque apareceram na época dos pedidos de sacrifício”, quando a igreja pede mais doações. Agora, ainda segundo Jumba, pastores sul-africanos estariam “sendo revistados como criminosos durante as reuniões” para comprovar que não estariam roubando a igreja.
Os pastores sul-africanos prometem repetir o movimento que ocorreu na Igreja Universal em Angola. Com críticas semelhantes ao império religioso de Edir Macedo, os angolanos denunciaram práticas de crimes para as autoridades locais e tomaram o controle da Universal no país. O governo de Angola reconheceu a mudança de comando na igreja, conforme o Intercept revelou.
Lideranças da Reforma, como ficou conhecido o movimento em Angola, afirmam que a revolta deve se repetir em outros países africanos. “A África acordou. É o momento de dar um basta. O continente tem de ser respeitado. Os irmãos de língua inglesa da África do Sul já estão aderindo”, afirma o ex-pastor angolano Tavares Armando, um dos líderes do movimento, em um vídeo. “A Reforma vai ocorrer em todos os países. E é irreversível. Onde existe a Igreja Universal existem os mesmos problemas, como discriminação e a opressão”, confirma o ex-bispo Felner Batalha, líder da Reforma.
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