MERCENÁRIOS ENVOLVIDOS NO assassinato do presidente haitiano Jovenel Moïse, em julho, viajaram para a Bolívia antes da eleição do país no final do ano passado, segundo autoridades bolivianas. Em entrevista coletiva na segunda-feira, funcionários do governo boliviano alegaram que os mercenários estavam na Bolívia com ordens de assassinar Luis Arce, então o principal candidato da esquerda à presidência. Arce serviu como ministro das finanças do ex-presidente Evo Morales e foi o candidato presidencial de seu partido, o Movimento ao Socialismo, ou MAS.
Autoridades bolivianas conectaram o complô ao plano, relatado anteriormente pelo Intercept, do ex-ministro da Defesa, Luis Fernando López, de trazer mercenários dos Estados Unidos para a Bolívia antes da eleição, numa tentativa de impedir a esquerda de retornar ao poder depois que Morales foi deposto por um golpe um ano antes.
Liderando a equipe avançada no Haiti que acabou assassinando o presidente daquele país, segundo as autoridades colombianas, estava o mercenário colombiano Alejandro Rivera García, agora detido sob custódia haitiana.
Segundo Carlos Del Castillo del Carpio, Ministro de Governo, Rivera, conhecido como “Coronel Mike”, entrou na Bolívia em 16 de outubro de 2020, com o passaporte nº AV 969623, dois dias antes da eleição boliviana. Ele veio da Colômbia para a Bolívia pelo aeroporto Viru Viru em Santa Cruz, e se hospedou no Hotel Presidente em La Paz, próximo ao palácio presidencial.
O Intercept não conseguiu verificar de forma imediata e independente as alegações do governo boliviano.
O time de assassinos do presidente haitiano foi organizado pela empresa de segurança Counter Terrorism Unit Federal Academy LLC, sediada em Doral, Flórida, comandada por Antonio Enmanuel Intriago Valera e Arcángel Pretel Ortiz, que atuou como recrutador. Tanto Pretel quanto Intriago entraram na Bolívia entre 16 e 19 de outubro, conforme as autoridades bolivianas. Assim como Rivera, eles entraram pelo aeroporto Viru Viru em Santa Cruz, a base da oposição de direita no país.
Outros dois homens – Ronal Alexander Ramírez Salamanca, ex-policial colombiano, e Enrico Galindo Arias – entraram pela rota Colômbia-Viru Viru, hospedando-se depois com Rivera no Hotel Presidente. Como Del Castillo destacou, o hotel fica a apenas alguns quarteirões da Plaza Murillo, onde a posse presidencial de Arce ocorreria posteriormente.
Na coletiva de imprensa de segunda-feira, Del Castillo disse que o governo havia obtido e analisado os e-mails de Joe Pereira, que o Intercept identificou como organizador de um complô mercenário junto com López, o ex-ministro da Defesa, e que documentos encontrados em sua posse confirmaram as informações. Del Castillo acrescentou que os documentos descobertos agora deixam claro o objetivo específico de assassinar Arce.
Anteriormente, o Intercept havia obtido um áudio de Pereira conspirando com López por telefone. Nas ligações, López afirmou que o ex-ministro do Interior Arturo Murillo apoiava o plano. Murillo já foi preso nos Estados Unidos e enfrenta acusações de corrupção.
De acordo com Del Castillo, os e-mails de Pereira indicavam que ele procurava contratar mais de 300 mercenários, incluindo um ex-contratado da Blackwater e um atirador que havia treinado com o exército dos Estados Unidos . (Na ligação compartilhada com o Intercept, Pereira havia prometido a López que ele poderia recrutar “até 10.000 homens”.)
O complô boliviano não teve sucesso. Arce dominou a eleição, tornando o segundo turno desnecessário ao ganhar 55% dos votos e vencer o candidato da direita por 40 pontos. O tamanho da vitória parece ter arrefecido as forças de conspiração por um novo golpe.
Tradução: Antenor Savoldi Jr.
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