Na manhã de 22 de novembro de 2021, moradores do complexo de Salgueiro, no Rio de Janeiro, retiraram oito corpos de um mangue. A cena grotesca chocou o país. Segundo a polícia, no dia anterior, havia acontecido um confronto com traficantes durante uma “operação de estabilização” após um sargento ser morto. Até hoje o caso não foi resolvido. Agora, um vídeo inédito, gravado por Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria Pública, coloca em xeque as investigações.
Naquele dia, pouco mais de 15 minutos separaram a chegada de Pimentel e outros defensores de direitos humanos da saída dos peritos que foram prestar atendimento aos moradores. Mas os membros da Defensoria Pública, da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro, e das comissões de direitos humanos da OAB e da Alerj não imaginaram o que encontrariam: três fogueiras, cheias de tecidos com manchas vermelhas. “Nenhum de nós nunca viu isso. Como pareceu sangue sendo queimado, a gente estranhou o procedimento [da perícia]”, conta Guilherme Pimentel, ouvidor da Defensoria. Segundo relatos dos moradores, foi a própria Polícia Civil que botou fogo nas roupas.
“Os policiais não relataram nada sobre fogueiras. Eu não tenho nenhuma informação mais precisa sobre isso. Mas é óbvio que ninguém pode destruir prova de nada no local do crime”, me disse o promotor Paulo Roberto Mello. “Não estou dizendo que foi isso o que aconteceu, ninguém sabe se foi isso que aconteceu”, ele ponderou. E qual seria o procedimento correto da polícia? “Qualquer material que tenha relação com o fato criminoso que você está investigando precisa ser guardado”, Mello me explicou. “Mas não temos informações para fazer um juízo de valor sobre o que eles fizeram”, conclui.
A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre as fogueiras, mas os vídeos e imagens foram encaminhados ao Ministério Público.
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