João Filho

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Deputado que passou pano para assediador sexual irá decidir futuro de Mamãe Falei

Delegado Olim, relator do caso de cassação do deputado Arthur do Val, já avisou: julgamento é questão de ‘simpatia’. 

O deputado Delegado Olim (PP).

Deputado que passou pano para assediador sexual irá decidir futuro de Mamãe Falei

Deputado Delegado Olim, do Progressistas, é da ala governista e integra bancada da bala.

Foto: Bruno Santos/Folhapress

Os áudios vazados do deputado estadual paulista do Podemos e do MBL, Arthur do Val, o Mamãe Falei, caíram como uma bomba nuclear de machismo, elitismo e racismo no país. Causou nojo até mesmo entre os apoiadores do ex-youtuber lacrador, que flertou com o turismo sexual com mulheres de um país em guerra. Políticos de vários partidos, inclusive seus correligionários, se indignaram e exerceram enorme pressão sobre Mamãe.

Por unanimidade, a CPI do Combate à Violência Contra a Mulher aprovou um relatório que recomenda ao Conselho de Ética a cassação do deputado. E todas as 21 representações pedindo a cassação do mandato por quebra de decoro foram aceitas pelo Conselho de Ética.

Muita gente duvidou da cassação. Cassar homem por violência contra mulher não tem sido o padrão da Assembleia Legislativa de São Paulo. Recentemente, o Conselho de Ética livrou da cassação o deputado Fernando Cury, filmado apalpando os seios de uma deputada. O caso de Cury é evidentemente pior que o do deputado do MBL, mas a diferença é que o primeiro mantém ótimo relacionamento com os colegas da casa, enquanto o segundo é tratado como um pária em virtude do seu comportamento costumeiramente desprezível. É assim que funciona uma casa composta majoritariamente por homens de direita.

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Até a última quinta-feira, 17 de março, a cassação do deputado era dada como certa por todos, inclusive pelos líderes do MBL. Mas, agora, sabe-se que há um movimento se formando nos bastidores para encontrar uma solução política para salvar seu mandato. O Conselho de Ética vai julgar o caso em meio a janela partidária de filiações, abrindo a possibilidade para que novos conchavos sejam criados.

O MBL está saindo do Podemos e negociando a filiação de seus políticos com outros partidos como União Brasil e Patriota. Especula-se que o União Brasil, criado a partir da fusão entre DEM e PSL, seja o favorito para abrigar as candidaturas do MBL. A possível chegada do grupo ao partido trará muitos votos à sigla para a eleição da Câmara. Caso isso se concretize, Mamãe Falei poderá contar com o apoio de uma das maiores bancadas da Alesp e, assim, o caminho para uma punição branda no Conselho de Ética estará pavimentado.

O jornalista César Felício, do Valor, deu mais detalhes sobre a jogada que está sendo ensaiada: “O voto pela cassação é aberto. Isto significaria um constrangimento em se votar no plenário por uma solução salvadora para Mamãe Falei. Aí é que entra o relator. Se ele estabelecer uma pena alternativa à cassação e seu relatório for aprovado na Comissão, é isso que chegará ao plenário: ou a punição mais branda, ou simplesmente nada. E a maioria dos deputados estaduais poderá salvar o colega a custo político baixo”.

Olim chamou de “coisa meio idiota” um claríssimo caso de assédio sexual e considera que Mamãe “exagerou um pouco” para ganhar audiência.

E quem será o relator do caso? O presidente da Alesp, o tucano Carlão Pignatari, indicou o Delegado Olim, do Progressistas, deputado que também é da base governista e integra a bancada da bala. A escolha de um homem revoltou as mulheres da bancada feminina. Olim se defendeu assim: “Sou a favor do bem. Tanto que fiz o caso da Mércia Nakashima [caso que deu notoriedade para o delegado]. Ninguém defendeu mais a mulher que eu. A CPI das mulheres sou eu o presidente. Onde está esse pessoal para ser presidente disso tudo? O que fizeram pelas mulheres? Eu já fiz muito. Quantas mulheres que foram vítimas de homicídio e eu fui lá e prendi [os assassinos]?”.

Olim defende uma polícia mais dura contra a criminalidade, a redução da maioridade penal para 15 anos e todas as bandeiras caras aos reacionários. O relator tem dado declarações repudiando os áudios de Mamãe, apesar de considerá-lo um “amigo” e afirmar que há “clamor público que pede justiça”.

Mas o deputado tem histórico de passar pano para aliados. Em 2019, Olim votou a favor do arquivamento de um processo por quebra de decoro movido contra o próprio Mamãe por ter chamado deputados da Alesp de “vagabundos”. Já no caso que julgou o assédio de Fernando Cury, Olim defendeu uma suspensãozinha de seis meses para o colega.

Segundo o delegado, não há comparação possível entre o caso de Cury com os áudios do Mamãe. Para ele, a apalpada de Cury teria sido apenas “uma coisa meio idiota da qual ele com certeza vai se arrepender pelo resto da vida.” O relator deixou claro ainda que os casos são julgados de acordo com a simpatia do acusado. “Tem uma diferença: o Cury é querido na Alesp inteira. O Arthur do Val gosta de arrumar confusão para dar mídia e postar nas redes sociais dele. Ele é meu amigo, hein? Gosto dele, nunca tive problema com ele. Mas acho que agora ele exagerou um pouco para dar 2, 3 milhões de visualizações”.

Ou seja, Olim chama de “coisa meio idiota” um claríssimo caso de assédio sexual e considera que Mamãe apenas “exagerou um pouco” para ganhar audiência. Esse homem será peça fundamental no julgamento do deputado do MBL.

Deputado que passou pano para assediador sexual irá decidir futuro de Mamãe Falei

Futuro de Mamãe Falei depende de conchavo da direita na Alesp.

Foto: Bruno Santos/Folhapress

Olim evocou seu passado como delegado e prometeu que fará uma investigação séria sobre o caso: “Vou fazer uma investigação do tipo policial. Em casos muitos maiores que esses eu consegui colocar os caras atrás das grades”.

Mas nem sempre as investigações do policial Olim deram muito certo. Em 2003, o Ministério Público pediu sua prisão preventiva por tortura e abuso de poder contra três suspeitos pelo sequestro de um empresário. Segundo o MP, “maus tratos e prisões arbitrárias” foram lideradas por Olim, que “agiu fora da lei com o intuito de obter uma confissão de participação” dos suspeitos.

Ele e outros policiais teriam torturado um casal de suspeitos na frente dos seus filhos. Outro ponto destacado pela denúncia contra Olim foi que ele “expôs ao vexame público” as vítimas dos supostos abusos. Ele permitiu que elas fossem filmadas ao vivo por jornais policiais sensacionalistas e as apresentou como “um casal de sequestradores que alugava cativeiros” (o caso segue em tramitação no Judiciário). Não à toa Olim foi cogitado em 2015 para ser vice de Datena numa chapa que concorreria à prefeitura de São  Paulo.

O andamento do processo contra Mamãe Falei no Conselho de Ética depende de como Olim o encaminhará. Apesar de ter demonstrado rejeição às falas odiosas de Mamãe, Olim é um homem que considera o ato de um deputado apalpar as partes íntimas de uma deputada apenas “uma coisa meio idiota”.

Se após a “investigação do tipo policial” o relator não recomendar a cassação do deputado como uma das opções, será um sinal de que a politicagem barata costurada pelo MBL com outros partidos de direita deu muito certo. A massa de pizza está feita, resta saber se o relator irá ajudar a colocá-la no forno.

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