Agenda de Lula no Paraná vazou em grupos bolsonaristas

Só o PT e a polícia tinham detalhes do roteiro do ex-presidente, mas ele foi parar no WhatsApp.


Grupos bolsonaristas no WhatsApp compartilharam a agenda e os itinerários completos da viagem do ex-presidente Lula ao Paraná, realizada no fim de semana passado. O vazamento das informações, até então mantidas em sigilo, obrigou a organização da viagem a fazer mudanças de última hora por medida de segurança. Só os organizadores da viagem e a Secretaria de Segurança Pública do Paraná tinham acesso aos detalhes da agenda de Lula.

O vazamento ocorreu no início da madrugada de sábado, quando Lula já estava em Curitiba e poucas horas antes dele ir a Londrina para um evento com o MST. Uma usuária identificada como Márcia divulgou no grupo Carniça Não um documento PDF com a agenda de Lula. Ali estavam os nomes e os endereços dos hotéis e os locais dos eventos, inclusive o número de pessoas previstas em cada um deles. Carniça é como os bolsonaristas de Londrina chamam o ex-presidente.

Já na sexta à tarde, antes do vazamento da agenda, mensagens em tom exaltado convocando protestos contra Lula já movimentavam o grupo Carniça Não. “Atenção Londrina. Chegada de Lula às 10h30 no aeroporto. Vamos mostrar nosso carinho. (Compartilhem)”, postou um usuário. “Tem muita gente de direita só no zap. Na hora de ir para a rua fica em casa”, cobrou Márcia. Eu li os prints das conversas.

A pré-campanha de Lula não comenta assuntos referentes à segurança do ex-presidente. Em 2018, um dos ônibus da caravana de Lula no Paraná foi atingido por tiros quando saía de Quedas do Iguaçu rumo a Laranjeiras do Sul, na região Centro Oeste do estado. Os atiradores nunca foram presos ou identificados pela polícia. O acampamento Marisa Leticia, ao lado da superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde Lula passou 580 dias preso, foi alvo de dois ataques a tiros. Em um deles, um militante foi ferido no pescoço.

Já Márcia respondeu a algumas mensagens que enviei a ela. “Esperamos ele [Lula] em frente ao aeroporto, mas ele fugiu pelos fundos, saiu pelo meio do Jardim San Fernando e não deu as caras”, ela me disse.

Segundo Marcia, havia cerca de 100 bolsonaristas no aeroporto, mas a manifestação foi pacífica. Ela afirmou ter recebido o itinerário do ex-presidente em outros grupos do WhatsApp. “Ah! isso estava em todos os grupos de WhatsApp. Todos estavam compartilhando e eu tb compartilhei. Algum problema?”, desafiou.

Informada de que o vazamento provocou mudanças na segurança do ex-presidente ela respondeu. “Então deve ter infiltrado na segurança dele, pois isso estava em todos os grupos que participo”.

Além dos policiais militares e dos agentes que o acompanham no dia-a-dia – um direito de todos os ex-presidentes da República –, Lula teve a segurança reforçada por dezenas de militantes vestidos com coletes vermelhos do Movimento dos Sem Terra, o MST. Foram eles, por exemplo, que fizeram um cordão de isolamento para evitar que um grupo de vinte manifestantes pró-Bolsonaro se aproximasse do centro de convenções onde ocorreu a cerimônia de filiação de Roberto Requião ao PT, na sexta à noite, em Curitiba.

A passagem pelo Paraná foi a primeira viagem da pré-campanha de Lula em 2022. Ele e Requião foram a Londrina no sábado, onde participaram de um ato no acampamento Eli Vive, do MST, com cerca de 10 mil pessoas.

A assessoria de Lula não quis comentar o vazamento das informações sobre a viagem. “Não comentamos questões de segurança. Não houve incidente nenhum na viagem ao Paraná, foi tudo tranquilo e agradecemos o apoio das forças de segurança do estado para as atividades públicas, que correram muito bem e sem incidentes”, ouvi como resposta às perguntas que enviei.

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